Pular para o conteúdo principal

Rodini: tristeza não tem fim

Em mais uma colaboração para este blog, Jorge Rodini, diretor do instituto de pesquisas Engrácia Garcia, comenta o acidente com o Airbus da TAM. A seguir, a íntegra do comentário:

O Brasil perdeu, na tragédia de Congonhas, duas centenas de vidas. Bebês, crianças, grávidas, senhores e senhoras, vovôs e vovós. Tentando entender essas perdas, milhares de parentes, amigos, conhecidos, vizinhos e colegas de trabalho. E chorando por esses milhares que têm que continuar na sua labuta diária, sofrida e incontida, milhões de brasileiros pasmos, estarrecidos e com medo.

Uma pista escorregadia, um aeroporto congestionado, um clarão. É como se, a partir daí, o Brasil acordasse. No meio de seu maior pesadelo. Quantos escaparam pelo atraso ou quantos se foram por trabalhar demais? Como vamos saber quantos são os heróis. E os heróis do vôo cego, que não tiveram tempo de pedir socorro?

A Avenida, outrora impávida e imponente, queda-se angustiada. A bola de fogo queima nossas almas, os corações se apertam, prevendo o fim iminente, a perda sem sentido. Não há quem console quem ficou ou desculpe os rescaldos desta tragédia. A fumaça que permanece no prédio atingido revela que a tristeza não tem fim.

Vai sempre ficar a sensação de alguém poderia ter feito algo para mudar o rumo desta história. Alguns que detém o Poder de fechar, de reformar, de impedir, de priorizar. Estes só não têm poder para fazer parar de chover. Ou de chorar.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

Dica da semana: Nine Perfect Strangers, série

Joia no Prime traz drama perturbador que consagra Nicole Kidman  Dizer que o tempo não passou para Nicole Kidman seria tão leviano quanto irresponsável. E isso é bom. No charme (ainda fatal) de seus 54 anos, a australiana mostra que tem muita lenha para queimar e escancara o quanto as décadas de experiência lhe fizeram bem, principalmente para composição de personagens mais complexas e maduras. Nada de gatinhas vulneráveis. Ancorando a nova série Nine Perfect Strangers, disponível na Amazon Prime Video, a eterna suicide blonde de Hollywood – ok, vamos dividir o posto com Sharon Stone – empresta toda sua aura de diva para dar vida à mística Masha, uma espécie de guru dos novos tempos que desenvolveu uma técnica terapêutica polêmica, pouco acessível e para lá de exclusiva. Em um lúdico e misterioso retiro, a “Tranquillum House”, a exotérica propõe uma nova abordagem de tratamento para condições mentais e psicossociais manifestadas de diferentes formas em cada um dos nove estranhos, “...

Dúvida atroz

A difícil situação em que se encontra hoje o presidente da República, com 51% de avaliação negativa do governo, 54% favoráveis ao impeachment e rejeição eleitoral batendo na casa dos 60%, anima e ao mesmo tempo impõe um dilema aos que articulam candidaturas ditas de centro: bater em quem desde já, Lula ou Bolsonaro?  Há quem já tenha a resposta, como Ciro Gomes (PDT). Há também os que concordam com ele e vejam o ex-presidente como alvo preferencial. Mas há quem prefira investir prioritariamente no derretimento do atual, a ponto de tornar a hipótese de uma desistência — hoje impensável, mas compatível com o apreço presidencial pelo teatro da conturbação — em algo factível. Ao que tudo indica, só o tempo será capaz de construir um consenso. Se for possível chegar a ele, claro. Por ora, cada qual vai seguindo a sua trilha. Os dois personagens posicionados na linha de tiro devido à condição de preferidos nas pesquisas não escondem o desejo de se enfrentar sem os empecilhos de terceira,...