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Jorge Rodini: Robinho lava a alma brasileira

Em mais uma colaboração para o Entrelinhas, Jorge Rodini, diretor do instituto de pesquisas Engrácia Garcia, comenta a sensacional performance de Robinho na seleção brasileira, na partida de domingo, contra o Chile. O leitor habitual deste blog pode estranhar, já que aqui o assunto é política e mídia. Basta ler o comentário de Rodini para perceber que o desempenho de Robinho transcende em muito o âmbito do esporte bretão. Evidentemente, cabe ainda o esclarecimento de que tamanha colher de chá para um ex-santista – este blog é tricolor paulista desde sempre – decorre justamente do prefixo "ex". Mas, verdade seja dita, o jogo de ontem foi mesmo Robinho 3, Chile 0. A seguir, o comentário de Jorge Rodini:

No Brasil das más notícias, das fraudes, do Xeque-Mate, dos escândalos e dos senadores Puladores de Cerca, tivemos, finalmente, uma alegria. No jogo pela Copa América entre Brasil e Chile, os brasileiros redescobrimos o craque: moleque, risonho, maroto, nossa cara, mas com atitude de Pelé. Robinho enfileirou os chilenos, enfeitiçou o Mundo e nos devolveu um pouco de auto-estima.
A seleção pouco jogou: sem esquema, sem alma, sem alegria, em suma, desordenada. Dela Robinho apropriou-se como veterano. Pelé, há muitos anos, profetizou que Robinho seria craque. No mesmo Santos em que o Rei foi descoberto, revelou-se o menino franzino que apareceu para o mundo pedalando.
O menino, neste jogo, virou homem. Em geral, é profundamente injusto dizer que alguém ganha sozinho numa equipe de onze titulares, comissão técnica e reservas. Contra o Chile, Robinho deu a vitória para nós. O raio caiu duas vezes no mesmo lugar: na Vila Belmiro. Se Robinho não é Pelé, neste embate, ele jogou como Pelé.
Num País carregado de imagens bovinas, o moleque evitou que vaca fosse para o brejo.

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