Pular para o conteúdo principal

Lula, a vitória do Cristo e a sorte na política

Em política, não basta ter talento, carisma ou disciplina ideológica. É preciso também de uma boa dose de sorte. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um exemplo típico. Não é possível comentar os últimos 30 anos a história brasileira sem falar de Lula, mas ele só chegou ao poder quando a elite passou por uma crise de projeto e de lideranças, se dividindo de tal forma que integrantes da própria elite passaram a ver em Lula e no PT o "mal menor". Uma vez no poder, Lula teve competência para reorganizar um país em crise, mas também teve a sorte de contar com um cenário mundial de robusto crescimento econômico, o qual, ao que tudo indica, deve permanecer ao longo deste segundo mandato.

Assim, o talento e a disciplina que Lula empregou na construção do PT e de um projeto alternativo para o país sem dúvida colaboraram na sua trajetória rumo à presidência da República, mas sem sorte ele talvez não tivesse chegado lá ou conseguido se reeleger para um segundo mandato.

A sorte de Lula mais uma vez se manifestou na votação para as 7 novas "Maravilhas" do planeta. O Cristo Redentor acabou entrando, o que deve gerar no mínimo mais interesse dos turistas mundo afora pelo Rio de Janeiro. Claro que o incremento financeiro dos novos turistas para o Rio será uma pequena fração para a economia local, mas a visibilidade para o país deste tipo de iniciativa se traduz em aumento da auto-estima e do sentimento de que as coisas estão melhorando no país.

Lula tem realmente muita sorte: quando tudo parece estar caminhando mal, algo ocorre que desvia a atenção e ajuda a manter intacta a alta popularidade presidencial. Só para comparar, é o oposto de José Serra (PSDB), que foi só assumir o governo paulista para uma estação do Metrô em construção desabar. Se Serra fosse o presidente, o Cristo talvez também tivesse sido eleito uma maravilha, mas provavelmente a estátua racharia no meio no dia da vitória...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe