Ainda sobre a gripe suína, vale a pena ler a entrevista abaixo, surrupiada do sempre excelente Terra Magazine, site comandado por Bob Fernandes. Este blog segue achando que a cobertura da imprensa sobre a tal pandemia é a principal causa da verdadeira histeria que tomou conta da população, mas reconhece que a medida da suspensão das aulas nos estados do Sul e Sudeste parece bastante razoável, dentro do atual quadro – da doença e da histeria. Do ponto de vista pedagógico, duas semanas não são lá grande coisa – os maldosos dizem que em muitos casos ganham os estudantes ficando em casa sem ouvir as bobagens de certos mestres! Ademais, falando sério, é possível repor as aulas no final do ano. A seguir, a entrevista com o doutor Hélio Arthur Bacha, na íntegra para os leitores do Entrelinhas.
Número de infectados não importa mais, diz médico
Marcela Rocha
Na tentativa de conter a gripe suína, os governos de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Distrito Federal decidiram adiar a volta às aulas em duas semanas nas escolas e creches públicas. Às particulares, foi recomendado o mesmo. Na opinião do Dr. Hélio Arthur Bacha, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia, a medida é uma "decisão acertada" e que, na verdade, serve para as autoridades "ganharem tempo" para avaliar o comportamento da "pandemia".
A Organização Mundial de Saúde (OMS) parou de contabilizar números de infectados. E, para Bacha, isto acontece "porque este é muito grande e não importa mais". "Agora, aqui no Brasil, começamos a fazer controle pelo número de mortes", diz. Nesta quarta-feira, 29, o total de mortes pelo influenza A (H1N1) no País chega a 58.
O médico, que também trabalha no hospital Emílio Ribas, referência nacional em infectologia, admite que a maior preocupação é com o fato desta gripe matar pessoas jovens e saudáveis.
- A influenza tipo B, por exemplo, é fora de estação, já a A é típica do inverno, pois tem frio, as pessoas se abrigam, evitam lugares ventilados. Especialmente crianças se infectam porque ficam em grandes quantidades e nem sempre estão informadas sobre como se cuidar.
Bacha explica que estudos mostram que crianças, mesmo não estando com a gripe, são grandes transmissores. "Inclusive se discute muito o fato de se vacinar a criança é proteger os idosos da contaminação".
A decisão pelo adiamento do início das aulas é consequência da orientação feita pelas Secretarias Estaduais de Saúde. As aulas devem ser retomadas apenas em 17 de agosto, quando se espera que as temperaturas estejam mais amenas.
No caso de São Paulo, 130 mil crianças, que frequentam as creches públicas, não terão para onde ir com a medida adotada pela Secretaria. Para Bacha, isto será computado como "mais um dentre os prejuízos econômicos do vírus", pois algumas dessas mães terão que se licenciar do trabalho para ficar com seus filhos. "Isto é um prejuízo grande, pois o número de crianças em creches é alto".
Leia abaixo a entrevista na íntegra:
Terra Magazine - Por que postergar o início das aulas por apenas duas semanas? Tem alguma coisa a ver com o ciclo da gripe, vai diminuir significativamente a possibilidade de contágio? Por que não três semanas, um mês?
Hélio Arthur Bacha - A epidemia desta gripe A se dá no inverno. Alguns casos podem aparecer fora da estação de inverno pois hoje as viagens internacionais são mais frequentes. A influenza tipo B, por exemplo, é fora de estação, já a A é típica do inverno, pois tem frio, as pessoas se abrigam, evitam lugares ventilados. Especialmente as crianças se infectam porque ficam em grandes quantidades e nem sempre estão informadas sobre como se cuidar. No meu ponto de vista foi uma decisão acertada. Não sei se suportaria ser por mais tempo, mas foi uma decisão correta.
O aumento de temperatura não é tão significativo assim. Duas semanas são suficientes?
Acredito que o que nossas autoridades fizeram foi adiar por duas semanas para avaliar o comportamento da gripe. Se tiver melhor, retornam as aulas na data prevista. Se estiver pior, talvez até mantenham suspenso o início das aulas. Tem sua lógica e é melhor do que fazer uma suspensão longa já de início.
O senhor falou das crianças. É ainda mais difícil controlar a contaminação entre crianças?
Estudos mostram que crianças, mesmo não ficando com a gripe, são grandes transmissores. Mesmo não manifesta a gripe pode ser transmitida pela criança. Inclusive se discute muito o fato de se vacinar a criança é proteger os idosos da contaminação.
Com relação às creches, é preciso colocar em uma balança: crianças em casa e as mães que trabalham não terem o que fazer com seus filhos e do outro lado não suspender significa que 130 mil crianças estarão sujeitas ao risco da gripe A. É simples essa equação?
Isto depende do perfil das mães que utilizam as creches. Aqui em São Paulo, são mães trabalhadoras, então, algumas dessas mães terão que se licenciar do trabalho para ficar com seus filhos. Provavelmente será computado em dos prejuízos econômicos que a gripe causa. Isto é um prejuízo grande, pois o número de crianças em creches é alto.
O senhor mencionou que o importante do adiamento das aulas será "reavaliar" o estágio da gripe A. Contudo, não sabemos mais o quanto esta gripe é nociva porque a Organização Mundial de Saúde (OMS) parou de contabilizar números. Como será feita está avaliação?
Parou de contabilizar porque o número é muito grande. Já não importa mais. Agora, aqui no Brasil, começamos a fazer controle pelo número de mortes. O número de pessoas com a gripe A é muito grande. A estratégia tem que ser jogar esforços em termos de atendimento para os casos graves e tratar pessoas que tenham a gripe manifesta. O tratamento de casos mais simples deveria ser feito em unidades básicas de saúde e para isto é preciso recursos. Nos hospitais e pronto-socorros deveriam ser reservados para receber os casos mais graves.
Existem estimativas, inclusive uma citada no site do Ministério da Saúde, de que a letalidade do vírus H1N1 é de cerca de 0,5%. Esse dado é correto? Se for, é um índice semelhante ao que se registra nos casos graves da gripe comum mesmo com vacinas desenvolvidas. Certo? Então, por que a paranóia com este novo vírus?
Eu desconfio deste número, em primeiro lugar porque falam ser a mesma porcentagem. Veja: Um homem de 70 anos com doença crônica pulmonar pega uma gripe comum e morre. Isto é relativamente esperado. Outra situação é um jovem de 25 anos, saudável que se infecta com a gripe Porcina. Ele vai parar num tubo de respiração por três semanas e morre. Isto definitivamente não é o esperado. Esses dois números são iguais? Não. Em primeiro lugar, tenho lá minhas dúvidas sobre esta porcentagem. E mesmo que fossem iguais, são coisas completamente diferentes dada a diferença do perfil das vítimas da gripe suína. Tenho a impressão que as pessoas têm embarcado nessa estatística. Se não fosse epidemologicamente diferentes as autoridades não estariam tão mobilizadas em conter uma e nem tanto a outra. Não se pode justificar as mortes com a gripe suína pelas mortes causadas pela gripe comum. As mortes são diferentes, os perfis dos mortos são diferentes. A gripe suína tem matado jovens saudáveis. Então os números mostram muitas coisas, só não mostram o essencial.
Na avaliação do senhor o sistema de saúde está apto a atender esses jovens?
Já é uma pandemia e corre-se o risco de ter uma mortalidade muito grande. Os estados que têm tido maior complicação com a gripe são os mais ricos e com melhores estruturas médicas. Acho que temos preparo, porém se o volume for muito grande não temos. Para não complicar temos que tratar os casos banais que se transformam em casos graves.
Número de infectados não importa mais, diz médico
Marcela Rocha
Na tentativa de conter a gripe suína, os governos de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Distrito Federal decidiram adiar a volta às aulas em duas semanas nas escolas e creches públicas. Às particulares, foi recomendado o mesmo. Na opinião do Dr. Hélio Arthur Bacha, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia, a medida é uma "decisão acertada" e que, na verdade, serve para as autoridades "ganharem tempo" para avaliar o comportamento da "pandemia".
A Organização Mundial de Saúde (OMS) parou de contabilizar números de infectados. E, para Bacha, isto acontece "porque este é muito grande e não importa mais". "Agora, aqui no Brasil, começamos a fazer controle pelo número de mortes", diz. Nesta quarta-feira, 29, o total de mortes pelo influenza A (H1N1) no País chega a 58.
O médico, que também trabalha no hospital Emílio Ribas, referência nacional em infectologia, admite que a maior preocupação é com o fato desta gripe matar pessoas jovens e saudáveis.
- A influenza tipo B, por exemplo, é fora de estação, já a A é típica do inverno, pois tem frio, as pessoas se abrigam, evitam lugares ventilados. Especialmente crianças se infectam porque ficam em grandes quantidades e nem sempre estão informadas sobre como se cuidar.
Bacha explica que estudos mostram que crianças, mesmo não estando com a gripe, são grandes transmissores. "Inclusive se discute muito o fato de se vacinar a criança é proteger os idosos da contaminação".
A decisão pelo adiamento do início das aulas é consequência da orientação feita pelas Secretarias Estaduais de Saúde. As aulas devem ser retomadas apenas em 17 de agosto, quando se espera que as temperaturas estejam mais amenas.
No caso de São Paulo, 130 mil crianças, que frequentam as creches públicas, não terão para onde ir com a medida adotada pela Secretaria. Para Bacha, isto será computado como "mais um dentre os prejuízos econômicos do vírus", pois algumas dessas mães terão que se licenciar do trabalho para ficar com seus filhos. "Isto é um prejuízo grande, pois o número de crianças em creches é alto".
Leia abaixo a entrevista na íntegra:
Terra Magazine - Por que postergar o início das aulas por apenas duas semanas? Tem alguma coisa a ver com o ciclo da gripe, vai diminuir significativamente a possibilidade de contágio? Por que não três semanas, um mês?
Hélio Arthur Bacha - A epidemia desta gripe A se dá no inverno. Alguns casos podem aparecer fora da estação de inverno pois hoje as viagens internacionais são mais frequentes. A influenza tipo B, por exemplo, é fora de estação, já a A é típica do inverno, pois tem frio, as pessoas se abrigam, evitam lugares ventilados. Especialmente as crianças se infectam porque ficam em grandes quantidades e nem sempre estão informadas sobre como se cuidar. No meu ponto de vista foi uma decisão acertada. Não sei se suportaria ser por mais tempo, mas foi uma decisão correta.
O aumento de temperatura não é tão significativo assim. Duas semanas são suficientes?
Acredito que o que nossas autoridades fizeram foi adiar por duas semanas para avaliar o comportamento da gripe. Se tiver melhor, retornam as aulas na data prevista. Se estiver pior, talvez até mantenham suspenso o início das aulas. Tem sua lógica e é melhor do que fazer uma suspensão longa já de início.
O senhor falou das crianças. É ainda mais difícil controlar a contaminação entre crianças?
Estudos mostram que crianças, mesmo não ficando com a gripe, são grandes transmissores. Mesmo não manifesta a gripe pode ser transmitida pela criança. Inclusive se discute muito o fato de se vacinar a criança é proteger os idosos da contaminação.
Com relação às creches, é preciso colocar em uma balança: crianças em casa e as mães que trabalham não terem o que fazer com seus filhos e do outro lado não suspender significa que 130 mil crianças estarão sujeitas ao risco da gripe A. É simples essa equação?
Isto depende do perfil das mães que utilizam as creches. Aqui em São Paulo, são mães trabalhadoras, então, algumas dessas mães terão que se licenciar do trabalho para ficar com seus filhos. Provavelmente será computado em dos prejuízos econômicos que a gripe causa. Isto é um prejuízo grande, pois o número de crianças em creches é alto.
O senhor mencionou que o importante do adiamento das aulas será "reavaliar" o estágio da gripe A. Contudo, não sabemos mais o quanto esta gripe é nociva porque a Organização Mundial de Saúde (OMS) parou de contabilizar números. Como será feita está avaliação?
Parou de contabilizar porque o número é muito grande. Já não importa mais. Agora, aqui no Brasil, começamos a fazer controle pelo número de mortes. O número de pessoas com a gripe A é muito grande. A estratégia tem que ser jogar esforços em termos de atendimento para os casos graves e tratar pessoas que tenham a gripe manifesta. O tratamento de casos mais simples deveria ser feito em unidades básicas de saúde e para isto é preciso recursos. Nos hospitais e pronto-socorros deveriam ser reservados para receber os casos mais graves.
Existem estimativas, inclusive uma citada no site do Ministério da Saúde, de que a letalidade do vírus H1N1 é de cerca de 0,5%. Esse dado é correto? Se for, é um índice semelhante ao que se registra nos casos graves da gripe comum mesmo com vacinas desenvolvidas. Certo? Então, por que a paranóia com este novo vírus?
Eu desconfio deste número, em primeiro lugar porque falam ser a mesma porcentagem. Veja: Um homem de 70 anos com doença crônica pulmonar pega uma gripe comum e morre. Isto é relativamente esperado. Outra situação é um jovem de 25 anos, saudável que se infecta com a gripe Porcina. Ele vai parar num tubo de respiração por três semanas e morre. Isto definitivamente não é o esperado. Esses dois números são iguais? Não. Em primeiro lugar, tenho lá minhas dúvidas sobre esta porcentagem. E mesmo que fossem iguais, são coisas completamente diferentes dada a diferença do perfil das vítimas da gripe suína. Tenho a impressão que as pessoas têm embarcado nessa estatística. Se não fosse epidemologicamente diferentes as autoridades não estariam tão mobilizadas em conter uma e nem tanto a outra. Não se pode justificar as mortes com a gripe suína pelas mortes causadas pela gripe comum. As mortes são diferentes, os perfis dos mortos são diferentes. A gripe suína tem matado jovens saudáveis. Então os números mostram muitas coisas, só não mostram o essencial.
Na avaliação do senhor o sistema de saúde está apto a atender esses jovens?
Já é uma pandemia e corre-se o risco de ter uma mortalidade muito grande. Os estados que têm tido maior complicação com a gripe são os mais ricos e com melhores estruturas médicas. Acho que temos preparo, porém se o volume for muito grande não temos. Para não complicar temos que tratar os casos banais que se transformam em casos graves.
Epidemia? Pandemia? Não importa. Libere-se o tratamento com Tamiflu (ou seu preincípio ativo) para os casos suspeitos. É, ou era, isso que se esperava de um país dito sério. As verbas emergênciais PODEM ser liberadas.
ResponderExcluir"Mas atrasa um pouquinho o PAC"...será que vamos ver isso acontecer?