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Ciro e Aécio: Serra que se cuide

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), é um político esperto. Vende a imagem do bom moço, um tipo gente fina, que conversa com todo mundo e não tem inimigos. Ontem, recebeu Ciro Gomes (PSB) e Itamar Franco (agora no PPS) no Palácio da Liberdade. Na saída, Ciro desceu o sarrafo no governador paulista José Serra, correligionário de Aécio, que não disse palavra em defesa do colega.

Em 2006, Serra achava que sua candidatura à presidência da República era tão óbvia que dispensaria qualquer tipo de disputa interna no ninho tucano. Geraldo Alckmin, outro bom moço, carola e simplório, bateu o pé e se tornou candidato do partido à presidência do Brasil. Só foi perder o jeitão simpático e zen no segundo turno, quando, (mal) aconselhado pelos luas pretas que cuidavam de sua candidatura, partiu para o ataque no primeiro debate com o presidente Lula e acabou tendo menos votos no escrutínio final do que recebeu no primeiro, uma façanha.

É evidente que agora o clima é outro e Serra aprendeu a lição de 2006. Por outro lado, Aécio é bem mais hábil do que Alckmin e o encontro com Ciro Gomes não foi algo fortuito, fruto do acaso, mas uma jogada ensaiada e pensada para cutucar Serra. Não há nem no PT outro político tão contundente na oposição a Serra quanto Ciro e Aécio sabe perfeitamente disto. O jogo está só começando e se José Serra achar que já é o candidato do PSDB à sucessão de Lula, pode cair do cavalo. De novo.

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