Pular para o conteúdo principal

Augusto Nunes e o mundo da fantasia

É impressionante o pessoal da Veja. Depois do Mainardi batendo em Chico Buarque, temos o texto abaixo, de Augusto Nunes. É daquele tipo que a gente sente vergonha pelo autor ter coragem de botar no papel - no caso, no blog - o que escreveu. Então tá: Lula não é "o cara" e ainda por cima é ruim de voto. É, deste jeito não dá nem para começar a conversar... Pensando melhor, é preciso dar a Augusto o benefício da dúvida: estaria o autor sóbrio quando escreveu o "artigo" que vai reproduzido a seguir?

Pesquisa não é urna, popularidade não é voto, intérprete não é Obama

Barack Obama, convém contar o caso como o caso foi, jamais disse que Lula é “o cara”. Só poderia ter dito isso se falasse português. Quem disse foi o intérprete. “That’s my man”, assim se referiu o presidente americano ao colega brasileiro. ”Esse é meu chapa”, ou “esse é dos meus”, ou “esse é gente minha” ─ qualquer dessas opções estaria de bom tamanho. Como conhece o chefe, o intérprete escolheu arbitrariamente a fórmula que incharia de orgulho o pastor vaidoso e induziria a balidos emocionados o rebanho cada vez mais jeca.
O confisco do título que Romário se atribuíra era o que faltava para que fosse promovido a senhor das urnas o dono de um currículo eleitoral pouco brilhante. Em 1982, Lula foi derrotado por Franco Montoro na disputa pelo governo de São Paulo. Elegeu-se deputado federal em 1986, mas perdeu para Fernando Collor a sucessão presidencial de 1989 ─ mesmo com o apoio, na segunda rodada, de Leonel Brizola, Mário Covas e Ulysses Guimarães.
Em 1994 e 1998, foi goleado por Fernando Henrique Cardoso no primeiro turno. Precisou do segundo para vencer José Serra em 2002 e, vejam só, Geraldo Alckmin em 2006. Os institutos de pesquisa já o haviam transformado num fenômeno de popularidade quando o presidente teve de engolir um segundo duelo com o concorrente ligeiramente mais carismático que qualquer vereador do Partido dos Aposentados da Nação.
Com o índice de popularidade já roçando os 100% (ou 103%, se a margem de erro oscilar para cima), Lula resolveu que Marta Suplicy seria prefeita e Micarla de Souza, não . “Marta vai ganhar em São Paulo”, decretou no fim de setembro em Nova Delhi. Empossada por Lula, a candidata do PT foi para casa levando sobre os ombros toneladas de votos em Gilberto Kassab. O eleitorado de Natal tampouco obedeceu à ordem do presidente, que transformara a vitória no Rio Grande do Norte em questão de honra. Micarla virou prefeita no primeiro turno.
O cara é mesmo bom de urna? Lula e seus devotos juram que sim, a oposição oficial acredita. O Brasil que pensa prefere pagar para ver. O currículo eleitoral informa que, por enquanto, o craque está mais para Sevilha que para Real Madrid.

Comentários

  1. Uau! O "cara" não é o Lula. É o tal de Augusto Nunes! Que texto maravilhoso e cheio de argumentos sólidos, típico de um profissional. A beira de um ataque de "nervios"!

    ResponderExcluir
  2. é que o cara é brasileiro e não desiste nunca...

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue...

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...