Pular para o conteúdo principal

Fim do cartão corporativo
e o debate que ninguém faz

A notícia abaixo já ganhou as manchetes dos portais. Muita gente vai elogiar, mas este blog avalia que se trata de um retrocesso. Pior, o fundamental na questão dos gastos dos altos funcionários públicos ficou de fora do decreto. Senão vejamos. O cartão corporativo oferece a possibilidade de maior transparência nos gastos, tanto que o tal escândalo dos cartões só ocorreu porque os dados relativos ao uso desta modalidade de pagamento são públicos.

Mas este é só um detalhe, a questão de fundo é mais importante e diz respeito à remuneração dos ministros, secretários executivos, presidentes de autarquias, enfim, do alto escalão da burocracia brasileira. O fato é que os salários deste pessoal são muito baixos, especialmente na comparação com a iniciativa privada. Um ministro ganhando R$ 8 mil é algo risível, o cargo exige uma responsabilidade enorme, deveria ser bem remunerado.

O que ocorre hoje é ridículo, em todas as esferas da administração pública - governos estaduais e prefeituras incluídas - o alto escalão acaba integrando conselhos de empresas estatais para complementar a remuneração com jetons e outros artifícios, como as tais diárias para viagens. Por que não pagar o justo a esses funcionários e acabar de vez com as diárias? É assim que funciona na iniciativa privada, seria salutar que ocorresse também no governo. Com um salário, digamos, de R$ 40 mil - que continua baixo para os padrões do que pagam empresas de grande porte aos seus executivos -, os ministros bancariam suas despesas tranquilamente. Talvez em ocasiões em que o funcionário esteja em função de representação do país no exterior o Estado pudesse pagar o dispêndio, fora daí, não. E ficaria proibido também o acúmulo e proventos, para acabar com esta palhaçada de conselhos e quetais, usada indistintamente por governos do PSDB e PT, é bom que se diga. É simples assim. Ou deveria ser.


Decreto presidencial acaba com cartão corporativo para ministros

Carolina Pimentel
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou hoje (21) decreto que estipula o pagamento de diárias para viagens de ministros em território nacional e reajusta as diárias pagas aos servidores da administração pública federal. A instituição das diárias foi uma das recomendações da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) dos Cartões Corporativos, encerrada há mais de um ano no Congresso Nacional.
Atualmente, os ministros pagavam as despesas com as viagens nacionais usando cartão corporativo ou suprimento de fundos, devido a uma decisão tomada na década de 1990 que revogou as diárias nacionais. O sistema já era usado pelos ministros apenas para as viagens internacionais.
Segundo o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, as diárias para os ministros de Estado vão variar de R$ 458 a R$ 581. Conforme levantamento do ministério, os custos mais altos são nas cidades do Rio de Janeiro e Manaus. O dinheiro poderá ser usado para o pagamento de refeições, diárias de hotel e táxi.
O uso do recurso é livre. Se o ministro não usar todo o dinheiro, não necessita devolver, apenas em casos excepcionais, como, por exemplo, a duração da viagem for inferior ao previsto.
Com a implantação das diárias, os ministros não irão mais usar os cartões corporativos. “Não há cabimento usar cartão para despesa de viagem”, afirmou o controlador-geral da União, Jorge Hage, ao lado de Paulo Bernardo, após reunião com o presidente Lula, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). “O cartão vai acabar.”
O piso das diárias para os servidores passou de R$ 85 para R$ 106. O teto foi reajustado de R$ 178 para R$ 224. Conforme Bernardo, o aumento foi feito com base no acúmulo da inflação desde 2003.
O governo equiparou também as diárias dos funcionários de nível médio aos de nível superior. Apesar de já ter avisado aos colegas de ministério para controlarem seu orçamentos neste ano e para 2010, Bernardo prevê R$ 200 milhões de gastos a mais no próximo ano por conta da instituição das diárias para ministros e o reajuste das pagas aos servidores.
Para 2009, o impacto está sendo calculado, mas deve ser aproximadamente de R$ 100 milhões. Bernardo ratificou que os ministérios não devem esperar verbas extras este ano. O decreto presidencial será publicado no Diário Oficial da União de amanhã (22).

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue...

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...