O jornalista Luiz Weis não é nenhum cumpanheiro, pelo contrário, é editorialista do jornal O Estado de S. Paulo, sobre o qual também não paira a menor suspeita de petismo. Vale a pena ler o artigo abaixo, que Weis publicou hoje no blog Verbo Solto.
Uma coisa é uma coisa. Outra coisa é outra coisa.
Uma coisa é revelar, como faz a Folha hoje, que “os cartões de crédito corporativo do governo foram usados por servidores de universidades federais para pagar contas de mais de R$ 1.000 em restaurantes de luxo, além de compras de padarias de alto padrão e e, lojas de festas".
É um escândalo.
Uma coisa ainda é revelar, como fez o Globo ontem, o “pagamento de R$ 1.400 em favor da DF Sinucas, loja especializada em material de lazer”, feito pelo servidor Francisco R. M. Silva, lotado na coordenação geral de recursos logísticos, do Ministério das Comunicações.
É um escândalo.
Este eventualmente levará à demissão do responsável, informou nota do Ministério. [Ontem mesmo se apurou que o gasto se destinava ao conserto de uma mesa de sinuca que fica na sala dos motoristas da sede das Comunicações, desde 1992 ao que parece.]
Outra coisa, enfim, é revelar, como faz o Estado hoje, que “os dez funcionários responsáveis pelas despesas relacionadas diretamente com a Presidência gastaram em 2007 com cartões corporativos um total de R$ 3,6 milhões”.
É… o quê?
Leia-se a matéria de cabo a rabo, com todas as suas palavras e números, e não se saberá se aquele total é muito ou pouco, quanto dele é lícito, quanto é irregular – em suma, onde o escândalo, se é que existe?
Cada uma a seu modo, as três matérias são representativas de outras tantas, para o bem ou para o mal, que poderiam ser citadas a partir do momento em que o mesmo Estado achou o caminho das pedras no Portal da Transparência da Controladoria Geral da União. Isso lhe permitiu noticiar em primeira mão, a 13 de janeiro, o aumento explosivo dos pagamentos e saques com os cartões de crédito do governo, de 2004 a 2007.
Permitiu também, escarafunchando-se no Portal os gastos da então ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, descobrir uma pilha de pequenos, médios e grandes gastos impróprios com o dinheiro público de plástico. Graças ao meticuloso trabalho da imprensa, objetivamente em defesa do interesse comum, o presidente Lula exigiu que Matilda virasse ex.
A imprensa também acertou a bola sete na caçapa com as citadas matérias do Globo e da Folha. Mas no Estado de hoje o taco espirrou.
É o eterno espectro que ronda o jornalismo de denúncia, quando publicações, editores e repórteres saem feito doidos, um dia sim, o outro também, para agarrar antes dos outros as mais cabeludas vergonheiras dos poderosos da vez.
O espectro se materializa nas denúncias eventualmente vazias, no todo ou em parte, apresentadas como provas transbordantes de malfeitos palacianos, ou de quem quer que seja.
O mal que essas antimatérias causam não é um, são muitos.
O pior deles é induzir o leitor, diante de um título como “Gabinete de Lula gastou R$ 3,6 mi com cartões” a pensar, pavlovianamente, que aí tem. Se está no jornal com jeito de dedo em riste, esbórnia é.
Na imensa maioria dos casos, o leitor não irá se enfronhar na entorpecedora numeralha que parece evidenciar outro aparente escândalo. Mas, se tiver tempo, paciência e bom senso, acabará perplexo, se perguntando:
“E daí?”
Daí já era.
Uma coisa é uma coisa. Outra coisa é outra coisa.
Uma coisa é revelar, como faz a Folha hoje, que “os cartões de crédito corporativo do governo foram usados por servidores de universidades federais para pagar contas de mais de R$ 1.000 em restaurantes de luxo, além de compras de padarias de alto padrão e e, lojas de festas".
É um escândalo.
Uma coisa ainda é revelar, como fez o Globo ontem, o “pagamento de R$ 1.400 em favor da DF Sinucas, loja especializada em material de lazer”, feito pelo servidor Francisco R. M. Silva, lotado na coordenação geral de recursos logísticos, do Ministério das Comunicações.
É um escândalo.
Este eventualmente levará à demissão do responsável, informou nota do Ministério. [Ontem mesmo se apurou que o gasto se destinava ao conserto de uma mesa de sinuca que fica na sala dos motoristas da sede das Comunicações, desde 1992 ao que parece.]
Outra coisa, enfim, é revelar, como faz o Estado hoje, que “os dez funcionários responsáveis pelas despesas relacionadas diretamente com a Presidência gastaram em 2007 com cartões corporativos um total de R$ 3,6 milhões”.
É… o quê?
Leia-se a matéria de cabo a rabo, com todas as suas palavras e números, e não se saberá se aquele total é muito ou pouco, quanto dele é lícito, quanto é irregular – em suma, onde o escândalo, se é que existe?
Cada uma a seu modo, as três matérias são representativas de outras tantas, para o bem ou para o mal, que poderiam ser citadas a partir do momento em que o mesmo Estado achou o caminho das pedras no Portal da Transparência da Controladoria Geral da União. Isso lhe permitiu noticiar em primeira mão, a 13 de janeiro, o aumento explosivo dos pagamentos e saques com os cartões de crédito do governo, de 2004 a 2007.
Permitiu também, escarafunchando-se no Portal os gastos da então ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, descobrir uma pilha de pequenos, médios e grandes gastos impróprios com o dinheiro público de plástico. Graças ao meticuloso trabalho da imprensa, objetivamente em defesa do interesse comum, o presidente Lula exigiu que Matilda virasse ex.
A imprensa também acertou a bola sete na caçapa com as citadas matérias do Globo e da Folha. Mas no Estado de hoje o taco espirrou.
É o eterno espectro que ronda o jornalismo de denúncia, quando publicações, editores e repórteres saem feito doidos, um dia sim, o outro também, para agarrar antes dos outros as mais cabeludas vergonheiras dos poderosos da vez.
O espectro se materializa nas denúncias eventualmente vazias, no todo ou em parte, apresentadas como provas transbordantes de malfeitos palacianos, ou de quem quer que seja.
O mal que essas antimatérias causam não é um, são muitos.
O pior deles é induzir o leitor, diante de um título como “Gabinete de Lula gastou R$ 3,6 mi com cartões” a pensar, pavlovianamente, que aí tem. Se está no jornal com jeito de dedo em riste, esbórnia é.
Na imensa maioria dos casos, o leitor não irá se enfronhar na entorpecedora numeralha que parece evidenciar outro aparente escândalo. Mas, se tiver tempo, paciência e bom senso, acabará perplexo, se perguntando:
“E daí?”
Daí já era.
Comentários
Postar um comentário
O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.