Hoje vários líderes oposicionistas estão reclamando com muita veemência do acordo em torno da CPI dos Cartões e também da indicação, pelo PMDB, do senador Neuto de Conto (SC) para presidir a Comissão. Para quem está de fora, pode parecer que os tucanos e democratas estão realmente incomodados. Na verdade, não estão, é tudo jogo para a torcida: os termos desta CPI foram negociados por emissários do Palácio do Planalto, de um lado, e do simpático apartamento da rua Rio de Janeiro, no bairro de Higienópolis, onde mora o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, por outro. Já está tudo combinado e o resto, como diria o bardo, é muito barulho por nada.
O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda
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