Articulista da Folha de S. Paulo, Gilberto Dimenstein às vezes acerta a mão. É raro, mas acontece. Como no texto abaixo, que vale a pena ser lido na íntegra.
Mortes suspeitas dos governos Alckmin e Serra
Uma das mais celebradas conquistas do PSDB é a redução da taxa de assassinatos em São Paulo, especialmente em sua região metropolitana --na semana passada, relatórios oficiais indicaram uma queda de mais de 19% no número de homicídios registrados no ano passado, comparado com 2006.
Uma informação lançada pela Folha coloca sob suspeita os números de mortes divulgados pelos governos Alckmin e Serra. Se as suspeitas não se confirmarem, ótimo: voltaremos a celebrar uma bela conquista social. Se forem confirmadas, estaremos diante de uma das maiores empulhações oficiais dos últimos tempos.
Conversei com técnicos da Secretaria da Segurança em busca de explicações, mas não consegui desfazer as suspeitas. Imaginei que obteria respostas rápidas e até simples sobre desvios metodológicos, mas não foi o que aconteceu. Não confirmaram o erro, mas não se sentiram em condições de negar. Pedi uma palavra oficial sobre os dados, sem resultado.
A Folha informou que cerca de 17% das mortes violentas registradas pelo Instituto Médico Legal de São Paulo em 2005 foram classificadas como indeterminadas, ou seja, não podiam engrossar a estatística dos homicídios.
O que provoca suspeita é o fato de que essa percentagem de mortes não definidas do IML já ter sido bem mais baixa, no final da década de 1990, quando se inicia a acentuada queda dos homicídios. Não estão computando os assassinatos para que fiquem na condição de mortes indeterminadas? Se isso estiver mesmo ocorrendo, afetaria o índice geral? É um problema do IML ou da policia que não investiga?
Há abundantes sinais, captados das mais diversas fontes, de que a taxa de homicídios está mesmo caindo em São Paulo. É o que vejo conversando com lideranças comunitárias. Mesmo somando todas aquelas mortes indeterminadas como assassinatos haveria queda, embora, evidentemente, menor.
Mas enquanto não se informar com clareza sobre essa questão, vamos ter que suspeitar que fomos enganados pelos números de segurança dos governos Alckmin e Serra.
Gilberto Dimenstein, 48, é membro do Conselho Editorial da Folha e criador da ONG Cidade Escola Aprendiz. Coordena o site de jornalismo comunitário da Folha. Escreve para a Folha Online às terças-feiras.
Mortes suspeitas dos governos Alckmin e Serra
Uma das mais celebradas conquistas do PSDB é a redução da taxa de assassinatos em São Paulo, especialmente em sua região metropolitana --na semana passada, relatórios oficiais indicaram uma queda de mais de 19% no número de homicídios registrados no ano passado, comparado com 2006.
Uma informação lançada pela Folha coloca sob suspeita os números de mortes divulgados pelos governos Alckmin e Serra. Se as suspeitas não se confirmarem, ótimo: voltaremos a celebrar uma bela conquista social. Se forem confirmadas, estaremos diante de uma das maiores empulhações oficiais dos últimos tempos.
Conversei com técnicos da Secretaria da Segurança em busca de explicações, mas não consegui desfazer as suspeitas. Imaginei que obteria respostas rápidas e até simples sobre desvios metodológicos, mas não foi o que aconteceu. Não confirmaram o erro, mas não se sentiram em condições de negar. Pedi uma palavra oficial sobre os dados, sem resultado.
A Folha informou que cerca de 17% das mortes violentas registradas pelo Instituto Médico Legal de São Paulo em 2005 foram classificadas como indeterminadas, ou seja, não podiam engrossar a estatística dos homicídios.
O que provoca suspeita é o fato de que essa percentagem de mortes não definidas do IML já ter sido bem mais baixa, no final da década de 1990, quando se inicia a acentuada queda dos homicídios. Não estão computando os assassinatos para que fiquem na condição de mortes indeterminadas? Se isso estiver mesmo ocorrendo, afetaria o índice geral? É um problema do IML ou da policia que não investiga?
Há abundantes sinais, captados das mais diversas fontes, de que a taxa de homicídios está mesmo caindo em São Paulo. É o que vejo conversando com lideranças comunitárias. Mesmo somando todas aquelas mortes indeterminadas como assassinatos haveria queda, embora, evidentemente, menor.
Mas enquanto não se informar com clareza sobre essa questão, vamos ter que suspeitar que fomos enganados pelos números de segurança dos governos Alckmin e Serra.
Gilberto Dimenstein, 48, é membro do Conselho Editorial da Folha e criador da ONG Cidade Escola Aprendiz. Coordena o site de jornalismo comunitário da Folha. Escreve para a Folha Online às terças-feiras.
Eu acabei de ler "Meu casaco de general", de Luiz Eduardo Soares, e ele conta como esse tipo de manipulação (mortes por causa indeterminada) era utilizado para manipular estatísticas de homicídios (isso em 1999/2000).
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