Em mais uma colaboração para o Entrelinhas, o professor Wagner Iglecias comenta a corrida eleitoral em São Paulo, que cada vez mais atrai a atenção dos eleitores de todo o Brasil em função da luta interna no PSDB. Enquanto os tucanos não se entendem, a briga em São Paulo pode acabar influenciando diretamente a eleição de 2010, especialmente se o governador José Serra, favorito nas pesquisas de intenção de voto, for derrotado internamente pelo ex-governador Geraldo Alckmin. A seguir, a íntegra do artigo de Wagner Iglecias:
O PSDB surgiu em 1988 como uma dissidência de lideranças do PMDB insatisfeitas com os rumos que o governo Sarney havia tomado e com a crescente influência que o ex-governador paulista Orestes Quércia ganhava, desde a base, sobre o partido. Talvez por conta de sua própria origem o PSDB sempre foi uma agremiação de muitas lideranças importantes, mas com baixa penetração nos setores menos favorecidos da sociedade e com uma vida partidária, vista da base, de intensidade menor em relação a outros partidos, como o PT e o próprio PMDB. Muitas questões de governo e muitas decisões eleitorais foram tomadas, ao longo dos anos, em rápidas e relativamente harmônicas articulações feitas entre os cardeais tucanos.
Esta história, como se sabe, parece que vem mudando. Já é clássica na história política brasileira recente a foto em que Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Tasso Jereissati e Aécio Neves foram fotografados em luxuoso restaurante paulistano enquanto discutiam qual seria o nome do partido para a eleição presidencial de 2006. Como se sabe Geraldo Alckmin perdeu o saboroso convescote, mas levou a candidatura presidencial.
Alckmin é um sujeito que parece ter sujado muito mais de barro os sapatos, ao longo dos anos, que alguns de seus colegas de partido que estiveram naquele jantar. Geraldo nunca teve a fortuna de Tasso Jereissati, nem a história política de José Serra ou a trajetória intelectual de Fernando Henrique Cardoso. Mas vem se tornando um nome de grande relevância no tucanato. Alckmin é homem da base. E com ela não apenas conquistou a candidatura em 2006 como parece estar prestes a ter a legenda tucana para disputar a prefeitura de São Paulo em outubro próximo.
Como se sabe tudo parecia indicar que o PSDB abriria mão da cabeça-de-chapa para o atual prefeito Gilberto Kassab, do DEM, em nome de uma aliança que envolveria o apoio do ex-PFL à candidatura de José Serra à presidência da república em 2010. A equação parecia perfeita. Só faltou combinar com Alckmin, que se vê, como ex-governador e ex-candidato ao Planalto, no direito de vir a ser prefeito de São Paulo.
Não há dúvidas de que a dianteira de Alckmin nesta disputa, explicitada na semana passada pela vitória de José Anibal para a liderança do PSDB na Câmara dos Deputados, torna embaraçosa para tucanos e pefelistas a questão da sucessão paulistana. No entanto Alckmin está uma vez mais dando uma lição, no bom sentido do termo, no tucanato, e contribuindo para que um dos maiores partidos políticos do país aprofunde seu grau de democracia interna.
Wagner Iglecias é doutor em Sociologia e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.
O PSDB surgiu em 1988 como uma dissidência de lideranças do PMDB insatisfeitas com os rumos que o governo Sarney havia tomado e com a crescente influência que o ex-governador paulista Orestes Quércia ganhava, desde a base, sobre o partido. Talvez por conta de sua própria origem o PSDB sempre foi uma agremiação de muitas lideranças importantes, mas com baixa penetração nos setores menos favorecidos da sociedade e com uma vida partidária, vista da base, de intensidade menor em relação a outros partidos, como o PT e o próprio PMDB. Muitas questões de governo e muitas decisões eleitorais foram tomadas, ao longo dos anos, em rápidas e relativamente harmônicas articulações feitas entre os cardeais tucanos.
Esta história, como se sabe, parece que vem mudando. Já é clássica na história política brasileira recente a foto em que Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Tasso Jereissati e Aécio Neves foram fotografados em luxuoso restaurante paulistano enquanto discutiam qual seria o nome do partido para a eleição presidencial de 2006. Como se sabe Geraldo Alckmin perdeu o saboroso convescote, mas levou a candidatura presidencial.
Alckmin é um sujeito que parece ter sujado muito mais de barro os sapatos, ao longo dos anos, que alguns de seus colegas de partido que estiveram naquele jantar. Geraldo nunca teve a fortuna de Tasso Jereissati, nem a história política de José Serra ou a trajetória intelectual de Fernando Henrique Cardoso. Mas vem se tornando um nome de grande relevância no tucanato. Alckmin é homem da base. E com ela não apenas conquistou a candidatura em 2006 como parece estar prestes a ter a legenda tucana para disputar a prefeitura de São Paulo em outubro próximo.
Como se sabe tudo parecia indicar que o PSDB abriria mão da cabeça-de-chapa para o atual prefeito Gilberto Kassab, do DEM, em nome de uma aliança que envolveria o apoio do ex-PFL à candidatura de José Serra à presidência da república em 2010. A equação parecia perfeita. Só faltou combinar com Alckmin, que se vê, como ex-governador e ex-candidato ao Planalto, no direito de vir a ser prefeito de São Paulo.
Não há dúvidas de que a dianteira de Alckmin nesta disputa, explicitada na semana passada pela vitória de José Anibal para a liderança do PSDB na Câmara dos Deputados, torna embaraçosa para tucanos e pefelistas a questão da sucessão paulistana. No entanto Alckmin está uma vez mais dando uma lição, no bom sentido do termo, no tucanato, e contribuindo para que um dos maiores partidos políticos do país aprofunde seu grau de democracia interna.
Wagner Iglecias é doutor em Sociologia e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.
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