Pular para o conteúdo principal

Futuro de Cuba é dos cubanos

Está bastante razoável a cobertura dos jornalões brasileiros sobre a renúncia do comandante Fidel Castro à presidência de Cuba. Claro, ninguém poderia esperar que Folha, Estadão e Globo deixassem de atacar o regime socialista da ilha ou que não qualificassem Fidel de "ditador" ou "tirano", mas há nos três jornalões abertura para a visão de quem simpatiza com o líder cubano, o que se não equilibra a cobertura, pelo menos permite um "respiro", digamos assim.

A reação fria dos dissidentes de Miami ao afastamento do comandante é talvez a notícia mais esclarecedora do que de fato acontece em Cuba: a renúncia não significa, a bem da verdade, o fim de uma era ou de um regime, até porque é o próprio Fidel que está no comando das ações de seu próprio afastamento. Lúcido, ele ainda permanecerá como uma espécie de "ombudsman" do governo de seu irmão Raul, escrevendo no jornal Granma e dando pitacos sobre assuntos de relevância. A tal "transição" que os liberais apostam ser inexorável não é assim tão certa, pelo contrário. Esta, aliás, é a questão que falta ser discutida: por que Cuba não poderia continuar construindo o sonho socialista na ilha, sem "transição democrática" ou "modelo chinês", como ardorosamente defendem os bate-paus dos "mercados" nos jornalões, rádios e televisões? O futuro de Cuba, é bom lembrar, pertence ao povo cubano...

Comentários

  1. Nosso Brasil não tem objetivo de democratizar nenhum outro país, isso é coisa de americanos. Fica ridícula essa espectativa por parte de setores da mídia, estão pautados pela UPI etcc. Por mim, acho que os USA deviam tentar democratizar a Arábia Saudita primeiro. Deixa Cuba viver.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...

Dúvida atroz

A difícil situação em que se encontra hoje o presidente da República, com 51% de avaliação negativa do governo, 54% favoráveis ao impeachment e rejeição eleitoral batendo na casa dos 60%, anima e ao mesmo tempo impõe um dilema aos que articulam candidaturas ditas de centro: bater em quem desde já, Lula ou Bolsonaro?  Há quem já tenha a resposta, como Ciro Gomes (PDT). Há também os que concordam com ele e vejam o ex-presidente como alvo preferencial. Mas há quem prefira investir prioritariamente no derretimento do atual, a ponto de tornar a hipótese de uma desistência — hoje impensável, mas compatível com o apreço presidencial pelo teatro da conturbação — em algo factível. Ao que tudo indica, só o tempo será capaz de construir um consenso. Se for possível chegar a ele, claro. Por ora, cada qual vai seguindo a sua trilha. Os dois personagens posicionados na linha de tiro devido à condição de preferidos nas pesquisas não escondem o desejo de se enfrentar sem os empecilhos de terceira,...