Pular para o conteúdo principal

Jornalismo ou chutômetro?

A CPI do Apagão da Câmara divulgou há pouco os diálogos dos pilotos gravados na caixa-preta do Airbus que se acidentou no mês passado, provocando duas centenas de mortes em São Paulo. A partir do que foi divulgado, não é possível concluir a causa do acidente, mas já há analistas afirmando "categoricamente" que a tragédia foi fruto de falha humana, na versão de uns, ou falha mecânica, na de outros.

A verdade é que só a investigação completa vai desvendar a causa, que inclusive pode ser mais de uma. A manchete da Folha de S. Paulo desta quarta-feira (Caixa-preta indica erro do piloto) é malandra, pois não está errada – não banca a causa do acidente como erro humano, porém induz o leitor a pensar desta forma –, mas também não é rigorosa como a apuração de Fernando Rodrigues. O que o repórter diz, logo no lide, é que pode ter havido falha do piloto no manejo da alavanca de aceleração (manete) ou uma pane no computador do avião, de a travar o manete...

Tudo somado, a verdade é que não há a menor condição, neste momento, de afirmar peremptoriamente a causa do desastre. Quem faz isto ou é irresponsável ou quer surfar nos quase 200 cadáveres para fazer política.

Comentários

  1. A cena de despreparo dos deputados, de falta de compostura, de falta de compaixão com as familiares das vítimas, a voz da Luciana Genro interpretando as últimas palavras do piloto, foi a coisa mais indecente, mais inescrupulosa que eu já vi desde as CPIs do ano retrasado e passado. Todos deveriam ser processados pelo Conselho de Ética e perder seus mandatos e direitos políticos.

    ResponderExcluir
  2. Humberto, fico honrado pela audiência e elogios, imerecidos. Pode roubar à vontade, aqui é tudo copyleft.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue...

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...