Pular para o conteúdo principal

Jornalismo ou chutômetro?

A CPI do Apagão da Câmara divulgou há pouco os diálogos dos pilotos gravados na caixa-preta do Airbus que se acidentou no mês passado, provocando duas centenas de mortes em São Paulo. A partir do que foi divulgado, não é possível concluir a causa do acidente, mas já há analistas afirmando "categoricamente" que a tragédia foi fruto de falha humana, na versão de uns, ou falha mecânica, na de outros.

A verdade é que só a investigação completa vai desvendar a causa, que inclusive pode ser mais de uma. A manchete da Folha de S. Paulo desta quarta-feira (Caixa-preta indica erro do piloto) é malandra, pois não está errada – não banca a causa do acidente como erro humano, porém induz o leitor a pensar desta forma –, mas também não é rigorosa como a apuração de Fernando Rodrigues. O que o repórter diz, logo no lide, é que pode ter havido falha do piloto no manejo da alavanca de aceleração (manete) ou uma pane no computador do avião, de a travar o manete...

Tudo somado, a verdade é que não há a menor condição, neste momento, de afirmar peremptoriamente a causa do desastre. Quem faz isto ou é irresponsável ou quer surfar nos quase 200 cadáveres para fazer política.

Comentários

  1. A cena de despreparo dos deputados, de falta de compostura, de falta de compaixão com as familiares das vítimas, a voz da Luciana Genro interpretando as últimas palavras do piloto, foi a coisa mais indecente, mais inescrupulosa que eu já vi desde as CPIs do ano retrasado e passado. Todos deveriam ser processados pelo Conselho de Ética e perder seus mandatos e direitos políticos.

    ResponderExcluir
  2. Humberto, fico honrado pela audiência e elogios, imerecidos. Pode roubar à vontade, aqui é tudo copyleft.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

Um pai

Bruno Covas, prefeito de São Paulo, morreu vivendo. Morreu criando novas lembranças. Morreu não deixando o câncer levar a sua vontade de resistir.  Mesmo em estado grave, mesmo em tratamento oncológico, juntou todas as suas forças para assistir ao jogo do seu time Santos, na final da Libertadores, no Maracanã, ao lado do filho.  Foi aquela loucura por carinho a alguém, superando o desgaste da viagem e o suor frio dos remédios.  Na época, ele acabou criticado nas redes sociais por ter se exposto. Afinal, o que é o futebol perto da morte?  Nada, mas não era somente futebol, mas o amor ao seu adolescente Tomás, de 15 anos, cultivado pela torcida em comum. Não vibravam unicamente pelos jogadores, e sim pela amizade invencível entre eles, escreve Fabrício Carpinejar em texto publicado nas redes sociais. Linda homenagem, vale muito a leitura, continua a seguir.  Nos noventa minutos, Bruno Covas defendia o seu legado, a sua memória antes do adeus definitivo, para que s...

Dica da Semana: Tarso de Castro, 75k de músculos e fúria, livro

Tom Cardoso faz justiça a um grande jornalista  Se vivo estivesse, o gaúcho Tarso de Castro certamente estaria indignado com o que se passa no Brasil e no mundo. Irreverente, gênio, mulherengo, brizolista entusiasmado e sobretudo um libertário, Tarso não suportaria esses tempos de ascensão de valores conservadores. O colunista que assina esta dica decidiu ser jornalista muito cedo, aos 12 anos de idade, justamente pela admiração que nutria por Tarso, então colunista da Folha de S. Paulo. Lia diariamente tudo que ele escrevia, nem sempre entendia algumas tiradas e ironias, mas acompanhou a trajetória até sua morte precoce, em 1991, aos 49 anos, de cirrose hepática, decorrente, claro, do alcoolismo que nunca admitiu tratar. O livro de Tom Cardoso recupera este personagem fundamental na história do jornalismo brasileiro, senão pela obra completa, mas pelo fato de ter fundado, em 1969, o jornal Pasquim, que veio a se transformar no baluarte da resistência à ditadura militar no perío...

Dica da semana: Nine Perfect Strangers, série

Joia no Prime traz drama perturbador que consagra Nicole Kidman  Dizer que o tempo não passou para Nicole Kidman seria tão leviano quanto irresponsável. E isso é bom. No charme (ainda fatal) de seus 54 anos, a australiana mostra que tem muita lenha para queimar e escancara o quanto as décadas de experiência lhe fizeram bem, principalmente para composição de personagens mais complexas e maduras. Nada de gatinhas vulneráveis. Ancorando a nova série Nine Perfect Strangers, disponível na Amazon Prime Video, a eterna suicide blonde de Hollywood – ok, vamos dividir o posto com Sharon Stone – empresta toda sua aura de diva para dar vida à mística Masha, uma espécie de guru dos novos tempos que desenvolveu uma técnica terapêutica polêmica, pouco acessível e para lá de exclusiva. Em um lúdico e misterioso retiro, a “Tranquillum House”, a exotérica propõe uma nova abordagem de tratamento para condições mentais e psicossociais manifestadas de diferentes formas em cada um dos nove estranhos, “...