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A guerra política e o PAC de Serra

Em comentário anterior, já foi dito aqui que para o governador José Serra (PSDB) o apelido de "PAC paulista" para as medidas anunciadas nesta quinta-feira é politicamente desastroso. Mas isto é só o começo. O post reproduzido abaixo, originalmente publicado no blog do ex-ministro José Dirceu (PT), revela a provável linha de ataque petista contra uma eventual candidatura presidencial de Serra. Segundo Dirceu, o governador esperou seis longos meses para tomar medidas contra a crise. Pode até não ser verdade – Serra alegará que agiu de pronto – e também é perfeitamente compreensível que o governador jogue a batata quente para o colo do governo federal, que tem mais instrumentos para lidar com a crise, mas não se trata aqui de analisar o que é certo ou errado: na política, a imagem é tudo e São Paulo, como já apontaram diversas reportagens, é o estado brasileiro mais afetado pelas turbulências internacionais. Assim, se a idéia de que Serra demorou para agir e acabou permitindo que a crise se instalasse em terras paulistas colar, o tucano terá que mostrar muita habilidade para "desconstruir" este discurso, para usar uma palavra bem ao gosto de Serra. Sim, o jogo está só começando, as cartas vão sendo colocadas na mesa e muita água vai rolar até 2010. Mas quem achava que a crise poderia ser fatal para Lula pode botar as barbas de molho: talvez ela seja fatal mesmo para José Serra...
A seguir, o comentário de José Dirceu sobre o PAC paulista.

Seis meses depois, governo tucano acorda

Ainda bem que tardou, mas não falhou...

Ainda bem que tardou, mas não falhou. Alvíssaras! Só agora, seis meses após a crise começar a bater forte no Brasil, com seus reflexos e consequências principais em São Paulo, o governador e presidenciável tucano José Serra lança, finalmente, um programa para aliviar os impactos da turbulência internacional que atingiu em cheio a população do estado, com efeitos mais visíveis no aumento do desemprego.

O programa lançado por Serra é uma cópia tão fiel do desenvolvido pelo governo federal que está sendo chamada pela mídia de "PAC paulista" - a diferença é que o PAC do governo federal já vem sendo desenvolvido desde antes da crise e esta apenas o acelerou, mediante medidas quase diárias adotadas pelo governo do presidente Lula para alavancar o crescimento e combater o desemprego, contornando ou minimizando dessa forma, no Brasil, a turbulência econômico-financeira mundial.

A outra diferença, óbvia, é que o PAC nacional é coordenado pela nossa candidata ao Palácio do Planalto em 2010, Dilma Roussef, ministra-chefe da Casa Civil da Presidência da República.

Estado é fundamental para o crescimento

Mais do que tarde com seu programa, nele os tucanos se rendem à evidência irrefutável de que é preciso reafirmar a importância do Estado como estimulador de investimentos e do crescimento. No Estado mais rico do país, o PAC de Serra não traz dinheiro novo, mas como seu governo mesmo admite, é uma mera antecipação o máximo possível, da aplicação dos R$ 20,6 bilhões previstos no Orçamento para investimentos ao longo de todo este ano.

No mais, só a irritação habitual do governador com a comparação que a mídia - sempre tão cordata com ele - faz de seu programa com o do governo federal. Colocado ante essa semellhança, ele a negou e em declaração ao Estado de S. Paulo de hoje afirmou que está apenas "governando".

Já era tempo de começar a governar, pois apenas São Paulo representa 44% do total de desemprego no país. Pena que ele ainda não saia do seu silêncio e não tenha começado a apresentar alternativas e sugestões para o país sair da crise.

Comentários

  1. Caro Luiz: Já sei como Serra vai justificar sua demora em tomar medidas contra a crise: ele vai dizer q a crise é culpa do PT e da CUT por causa das eleições de 2010. Como sempre e todas as crises q afetam seu governo, embora a imprensa nunca chame de "crise" o que afeta o governo do "todo-poderoso Serra", ele sai com a mesma dizendo q o PT esta por trás com ovjetivo eleitorais. Parece bobo isso, mas garanto q se Serra falasse isso, mesmo parecendo absurdo, a mídia daria respaldo total e eu já imagino o editorial do Estadão aplaudindo e tentando embasar ainda mais as declarações do governador.

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  2. Tarde demais para o Serra.
    Saiu ontem na coluna da Sonia Racy do Estadão:

    Hora de espantar as bruxas

    Abilio Diniz, do Grupo Pão de Açúcar, estranha todo o catastrofismo que se instala no Brasil, principalmente nas indústrias. Apesar de não poder dar números ainda, pelo fato de ser uma empresa de capital aberto, a cadeia de supermercados teve bons resultados em dezembro e janeiro. E fevereiro começa bem. "Sei que não somos só nós", ressalta.
    Explica que só não venderam mais no setor de eletrônicos porque a indústria não tinha produto para entregar no Natal. "As iniciativas do presidente Lula, que começaram ano passado, para incentivar o consumo interno estão dando certo. O governo está ganhando o jogo", atestou ontem.

    Ou seja, o PACópia de Serra chegou tarde demais.

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