Dia desses um leitor mandou um comentário elogioso ao autor deste blog, mas fazendo uma séria ressalva. Dizia o missivista que as análises aqui publicadas eram tão boas que qualquer vírgula mal colocada ficava estranha nos textos (um evidente exagero). E completava, sugerindo peremptoriamente: nunca mais use "muita água vai rolar debaixo da ponte", é um clássico dos chavões.
Pois não é que este post poderia perfeitamente começar com o chavão proibido? Para não deixar o leitor em questão amuado – atento que ele (ou ela) é, deve ser dos poucos fiéis ao blog –, vamos iniciar com uma formulação mais precisa do ditado popular. Digamos que ainda é um tanto cedo para falar da eleição presidencial de 2010, mas a cada dia que passa a sucessão de Lula fica mais presente no jogo político nacional. Afinal, o que para uns é muito tempo, para outros é pouco: faltam exatamente 19 meses para a eleição de outubro do próximo ano.
Isto posto, vale observar que uma das principais questões da eleição de 2010 será a política de alianças das principais candidaturas. O jogo para a construção das coligações está em curso e deve durar até maio ou junho de 2010. Em julho os candidatos serão homologados nas convenções partidárias, portanto toda negociação terá que estar fechada um ou dois meses antes. Até agora, a grande dúvida é a postura do PMDB. Nove entre dez analistas apostam que o partido irá rachado para a disputa do próximo ano e é provável que estejam certos: uma ala, hoje majoritária no partido, trabalharia pela aliança com o PT em torno de Dilma Rousseff. Os dissidentes, capitaneados atualmente pelo ex-governador Orestes Quércia, presidente do PMDB de São Paulo, e pelo impoluto senador Jarbas Vasconcelos (PE), apoiariam, dentro das possibilidades da legislação eleitoral, o tucano José Serra, atual governador de São Paulo.
Hoje, de fato, esta divisão é pule de dez, como se diz no turfe. Quércia e Jarbas provavelmente conseguiriam ainda alguns outros apoios localizados no partido, mas o PMDB formalmente comporia a chapa indicado o candidato a vice de Dilma. Isto é hoje, mas a eleição só acontece em outro de 2010 e até lá... Não apenas água, o que vai rolar mesmo vai ser muito uísque nas noites de negociação entre os caciques do PMDB, o presidente Lula e seus articuladores palacianos e petistas. De tudo que vai ser conversado, uma hipótese que começa a ser aventada discretamente em Brasília pode significar um tiro de morte nas ambições de Serra de contar com o apoio de pelo menos uma parcela do PMDB: e se o presidente da Câmara, Michel Temer, for o vice de Dilma Rousseff?
Se Temer, que há anos tenta, sem sucesso, desbancar Quércia em São Paulo, for o vice de Dilma, o jogo muda de figura. Fica muito complicado para o ex-governador apoiar Serra neste cenário e mesmo que Quércia insista neste movimento, será então uma liderança isolada dentro de um PMDB paulista no qual Temer certamente terá uma boa dose de sustentação. Muita gente acha que Michel Elias Temer Lulia - este o nome completo do deputado - é o mais serrista entre os líderes do PMDB. Bobagem, Temer é um pragmático, político da escola antiga, do tipo que em uma negociação pensa primeiro em suas próprias vantagens, depois nas vantagens próprias e por fim mais uma vez nas póprias vantagens. Aí toma a decisão, levando em conta o que melhor lhe convém...
Sim, Temer foi um político muito presente no governo Fernando Henrique e é bastante identificado com os tucanos. Mas jamais ousou sair do PMDB, nem mesmo após ter tomado uma surra de Quércia na única vez que ousou desafiá-lo internamente em São Paulo. Temer dialoga com o PSDB, mas não é de maneira nenhuma um tucano. É mais conservador, em diversos aspectos, do que alguns quadros do PSDB, mas possui autonomia política e uma extrema habilidade para a negociação, que lhe valeram a sobrevivência ao lado de Quércia sem se confundir com o grupo do ex-governador e, por duas vezes, a presidência da Câmara Federal.
Analisando friamente o personagem em questão, ninguém chega duas vezes à presidência da Câmara dos Deputados sem um mínimo de competência política. Não é preciso ser bom de voto no povão – Temer por sinal quase não se elegeu para esta legislatura –, mas é necessário muita lábia, jogo de cintura e liderança entre os seus pares. Temer tem tudo isto e pode acabar se tornando o vice que Dilma pediu a Deus, pois compensaria defeitos notórios da ministra-chefe da Casa Civil – falta de jogo de cintura, pouco (ou nenhum) conhecimento dos meandros do Congresso.
É evidente que o presidente Lula, que provavelmente assumirá, em algum momento, o comando das negociações para selar a aliança em torno de sua candidata, sabe de tudo isto. Atualmente, o nome mais falado para compor a chapa com a ministra é o baiano Geddel Vieira Lima, que é outro habilíssimo político da velha guarda, já foi da tropa de choque de FHC e hoje toca bumbo no quintal petista, mas tem um olho no Palácio de Ondina, onde hoje reina o petista Jaques Wagner. É claro que Geddel força a mão pela vaga de vice, mas talvez fique satisfeito em garantir-se senador com apoio de Wagner, por exemplo... As duas vagas baianas, é bom lembrar, serão das mais disputadas do país, tem muito cacique para pouca cadeira (além de Geddel, só para ficar nos mais expressivos, a briga poderia contar com Paulo Souto, Antonio Imbassahy, Cesar Borges, Antonio Carlos Magalhães Júnior, Jutahy Magalhães Jr.). E ainda que o ministro da Integração Nacional esteja jogando sério ao lutar pela vaga de vice, é bom lembrar que muito tempo de exposição na fogueira política pode causar danos irreparáveis quando a disputa se aproxima.
Não é o perfil de Temer, muito pelo contrário, fazer alarde da sua condição de possível candidato a vice — em qualquer das chapas, aliás. Michel vai "se colocar à disposição do país" (e do presidente ou do governador Serra - hipótese muito menos provável pelo fato de ambos serem paulistas). Só entrará em campo quando o jogo estiver arrumado e a sua posição em campo for absolutamente combinada com o treinador - Lula ou Serra.
Tudo somado, se Michel Temer entrar no campo ao lado de Dilma, vai dar um trabalhão para José Serra em São Paulo. Será o desmonte de uma aliança na qual o tucano vem trabalhando com afinco, que incorporaria o DEM, PPS e uma parcela expressiva do PMDB, Quércia à frente, além, é claro, a burguesia de São Paulo. Temer do lado adversário tem potencial de estragar todo este minucioso planejamento, pois neutralizaria Quércia, atrairia parte do empresariado que já aprendeu a confiar em Lula, mas mantém um pé atrás com o PT e Dilma, e asseguraria o precioso tempo do PMDB não apenas para a chapa presidencial, mas provavelmente na maior parte das composições estaduais. Temer ao lado de Dilma é tudo de ruim para Serra.
Pois não é que este post poderia perfeitamente começar com o chavão proibido? Para não deixar o leitor em questão amuado – atento que ele (ou ela) é, deve ser dos poucos fiéis ao blog –, vamos iniciar com uma formulação mais precisa do ditado popular. Digamos que ainda é um tanto cedo para falar da eleição presidencial de 2010, mas a cada dia que passa a sucessão de Lula fica mais presente no jogo político nacional. Afinal, o que para uns é muito tempo, para outros é pouco: faltam exatamente 19 meses para a eleição de outubro do próximo ano.
Isto posto, vale observar que uma das principais questões da eleição de 2010 será a política de alianças das principais candidaturas. O jogo para a construção das coligações está em curso e deve durar até maio ou junho de 2010. Em julho os candidatos serão homologados nas convenções partidárias, portanto toda negociação terá que estar fechada um ou dois meses antes. Até agora, a grande dúvida é a postura do PMDB. Nove entre dez analistas apostam que o partido irá rachado para a disputa do próximo ano e é provável que estejam certos: uma ala, hoje majoritária no partido, trabalharia pela aliança com o PT em torno de Dilma Rousseff. Os dissidentes, capitaneados atualmente pelo ex-governador Orestes Quércia, presidente do PMDB de São Paulo, e pelo impoluto senador Jarbas Vasconcelos (PE), apoiariam, dentro das possibilidades da legislação eleitoral, o tucano José Serra, atual governador de São Paulo.
Hoje, de fato, esta divisão é pule de dez, como se diz no turfe. Quércia e Jarbas provavelmente conseguiriam ainda alguns outros apoios localizados no partido, mas o PMDB formalmente comporia a chapa indicado o candidato a vice de Dilma. Isto é hoje, mas a eleição só acontece em outro de 2010 e até lá... Não apenas água, o que vai rolar mesmo vai ser muito uísque nas noites de negociação entre os caciques do PMDB, o presidente Lula e seus articuladores palacianos e petistas. De tudo que vai ser conversado, uma hipótese que começa a ser aventada discretamente em Brasília pode significar um tiro de morte nas ambições de Serra de contar com o apoio de pelo menos uma parcela do PMDB: e se o presidente da Câmara, Michel Temer, for o vice de Dilma Rousseff?
Se Temer, que há anos tenta, sem sucesso, desbancar Quércia em São Paulo, for o vice de Dilma, o jogo muda de figura. Fica muito complicado para o ex-governador apoiar Serra neste cenário e mesmo que Quércia insista neste movimento, será então uma liderança isolada dentro de um PMDB paulista no qual Temer certamente terá uma boa dose de sustentação. Muita gente acha que Michel Elias Temer Lulia - este o nome completo do deputado - é o mais serrista entre os líderes do PMDB. Bobagem, Temer é um pragmático, político da escola antiga, do tipo que em uma negociação pensa primeiro em suas próprias vantagens, depois nas vantagens próprias e por fim mais uma vez nas póprias vantagens. Aí toma a decisão, levando em conta o que melhor lhe convém...
Sim, Temer foi um político muito presente no governo Fernando Henrique e é bastante identificado com os tucanos. Mas jamais ousou sair do PMDB, nem mesmo após ter tomado uma surra de Quércia na única vez que ousou desafiá-lo internamente em São Paulo. Temer dialoga com o PSDB, mas não é de maneira nenhuma um tucano. É mais conservador, em diversos aspectos, do que alguns quadros do PSDB, mas possui autonomia política e uma extrema habilidade para a negociação, que lhe valeram a sobrevivência ao lado de Quércia sem se confundir com o grupo do ex-governador e, por duas vezes, a presidência da Câmara Federal.
Analisando friamente o personagem em questão, ninguém chega duas vezes à presidência da Câmara dos Deputados sem um mínimo de competência política. Não é preciso ser bom de voto no povão – Temer por sinal quase não se elegeu para esta legislatura –, mas é necessário muita lábia, jogo de cintura e liderança entre os seus pares. Temer tem tudo isto e pode acabar se tornando o vice que Dilma pediu a Deus, pois compensaria defeitos notórios da ministra-chefe da Casa Civil – falta de jogo de cintura, pouco (ou nenhum) conhecimento dos meandros do Congresso.
É evidente que o presidente Lula, que provavelmente assumirá, em algum momento, o comando das negociações para selar a aliança em torno de sua candidata, sabe de tudo isto. Atualmente, o nome mais falado para compor a chapa com a ministra é o baiano Geddel Vieira Lima, que é outro habilíssimo político da velha guarda, já foi da tropa de choque de FHC e hoje toca bumbo no quintal petista, mas tem um olho no Palácio de Ondina, onde hoje reina o petista Jaques Wagner. É claro que Geddel força a mão pela vaga de vice, mas talvez fique satisfeito em garantir-se senador com apoio de Wagner, por exemplo... As duas vagas baianas, é bom lembrar, serão das mais disputadas do país, tem muito cacique para pouca cadeira (além de Geddel, só para ficar nos mais expressivos, a briga poderia contar com Paulo Souto, Antonio Imbassahy, Cesar Borges, Antonio Carlos Magalhães Júnior, Jutahy Magalhães Jr.). E ainda que o ministro da Integração Nacional esteja jogando sério ao lutar pela vaga de vice, é bom lembrar que muito tempo de exposição na fogueira política pode causar danos irreparáveis quando a disputa se aproxima.
Não é o perfil de Temer, muito pelo contrário, fazer alarde da sua condição de possível candidato a vice — em qualquer das chapas, aliás. Michel vai "se colocar à disposição do país" (e do presidente ou do governador Serra - hipótese muito menos provável pelo fato de ambos serem paulistas). Só entrará em campo quando o jogo estiver arrumado e a sua posição em campo for absolutamente combinada com o treinador - Lula ou Serra.
Tudo somado, se Michel Temer entrar no campo ao lado de Dilma, vai dar um trabalhão para José Serra em São Paulo. Será o desmonte de uma aliança na qual o tucano vem trabalhando com afinco, que incorporaria o DEM, PPS e uma parcela expressiva do PMDB, Quércia à frente, além, é claro, a burguesia de São Paulo. Temer do lado adversário tem potencial de estragar todo este minucioso planejamento, pois neutralizaria Quércia, atrairia parte do empresariado que já aprendeu a confiar em Lula, mas mantém um pé atrás com o PT e Dilma, e asseguraria o precioso tempo do PMDB não apenas para a chapa presidencial, mas provavelmente na maior parte das composições estaduais. Temer ao lado de Dilma é tudo de ruim para Serra.
Fala Luiz, gostei muito da análise mas vou por outro ponto-de-vista.
ResponderExcluirSobre o PMDB, eu não acredito na formação de chapa com o PT, tampouco com o PSDB, acredito que em 2010 o partido, pelo menos oficialmente, vai ficar neutro.
Todos sabemos que quem manda no partido são os caciques e não a militancia, conforme visto nas prévias de 2006, quando o candidato Garotinho, vencedor das prévias, foi retirado da disputa por parte da direção nacional (liderada pelo grupo do Sarney).
Tá certo que o contexto de 2006 era diferente, existia o risco de Lula perder a eleição para o possível candidato tucano (alckmin ou serra) por conta dos escândalos e dos ataques da mídia sobre o governo petista.
Tem também aquela história de alinhamento vertical no caso de coligações (confesso que não sei se isso ainda vale, procurei na internet mas não achei nenhuma resolução a respeito, se puder me tire essa dúvida). Supondo que o PMDB nacional feche aliança com Dilma, isso impediria Quércia de formar chapa com o PSDB em São Paulo. E o Quércia não entregou a prefeitura da capital para o Serra de Graça. (na minha opinião o que elegeu Kassab foi o tempo de TV e a quantidade de dinheiro da campanha).
No mínimo Quércia deseja montar com os tucanos uma chapa para o governo do Estado (PMDB vice), além de uma das duas (ou as duas) vagas para disputa do Senado. aLém do Qúercia, os outros Caciques pretendem formar suas coligações em seus currais, ops, redutos eleitorais.
Nesse jogo, Temer pode até acabar ficando com uma vaga para disputar o senado por São Paulo.
O que vocês acham ??
Abraços
Sei que em política tudo é possível, sei também que o Temer foi eleito na última eleição por puro milagre, passou raspando (não lembro os números), eu duvido que o PT engula o Temer como vice da Dilma, mesmo porque o Quércia já está isolado por quem vota em São Paulo. O vice de Dilma vai ser o próprio Lula.
ResponderExcluirAbracetas.
Adir Tavares
São Paulo - Capital
aposta: vice de Dilma será o Ciro Gomes.
ResponderExcluir