Pular para o conteúdo principal

Obama decepciona os extremos

Se há uma coisa que une os analistas ultraconservadores e os ultraesquerdistas, esta coisa é a idéia de quem quer que governe os Estados Unidos, governará em nome do status quo e sem grandes mudanças na política e na economia. Em outras palavras, Democratas ou Republicanos, tanto faz, o presidente estaria a serviço do imperialismo (para a ultraesquerda) ou não teria forças para enfrentar o Senhor Mercado e a Liberdade Individual (para a ultradireita).

O post reproduzido abaixo, do colunista de Veja Reinaldo Azevedo, já revela uma certa decepção da ultradireita com Obama. Reinaldão passou a campanha e o período pré-posse dizendo que Obama seria um George W. Bush ligeiramente mais light. Agora, o jornalista parece estar revendo o seu conceito, mais um pouco vai estar comparando o líder norte-americano a Hugo Chávez. Não deixa de ser engraçado ver Reinaldão dar o braço a torcer.

Na ultraesquerda, a postura é a mesma, com o sinal invertido. Como a turma espera que Obama comece a desapropriar os bancos, ordene a retirada das tropas do Iraque no primeiro mês de governo, entre outras sandices impossíveis de serem executadas sem que o presidente seja deposto do cargo, legalmente, diga-se de passagem, então a turma já o coloca entre os carrascos imperialistas, na companhia do cowboy Ronald Reagan, Bush pai e filho, Clinton e todos os ex-presidentes americanos.

Barack Obama não é uma coisa nem outra, o tempo ainda vai dizer o que ele é. Uma coisa, porém, já pode ser ressaltada: o novo presidente dos EUA usa a mídia com muita competência e vem criando fatos políticos em profusão, como a medida relatada no post de Azevedo, que vai a seguir, na íntegra.

DEMAGOGIA DO BARACK

Demagógica e cretina a medida do presidente Barack Obama, que exige que os dirigentes de empresas que receberem auxílio do governo tenham um salário de, no máximo, US$ 500 mil anuais. Leiam este trecho de reportagem da Folha:

“Vivemos na América. Não renegamos a riqueza e não invejamos quem consegue ser bem-sucedido. E acreditamos que o sucesso deva ser recompensado. Mas a América renega os executivos recompensados pelo seu fracasso, especialmente os subsidiados pelos contribuintes, que estão pessoalmente passando por tempos difíceis", disse Obama. O anúncio foi feito ao lado do secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, que deixou de recolher milhares de dólares em impostos e que quase teve sua indicação rejeitada pelo Senado.

Pois é... As coisas estão começando a se complicar. Esse moralismo babaca excita, gera calor, mas não gera solução. Certo, certo, em tempos bicudos, é provável que os tais executivos não encontrem alternativa e aceitem a imposição. Mas duvido que os melhores — e as empresas precisarão dos melhores — não busquem alternativas. Embora Obama tenha prometido reconstruir a América, a verdade é que ela não foi destruída. Ainda restam por lá mercado e economia...

As coisas estão assumindo contornos um tanto estranhos. Já sabemos que Obama se preocupa com os direitos dos terroristas, o que demonstra a sua largueza de espírito. Há também os direitos dos executivos, que terroristas não são. Desde que assumiu, Obama decidiu caçar seus marajás. Com esse jeitão latino-americano de fazer política, podemos lhe fornecer tecnologia...

Sem contar que tanto moralismo contrasta com sua trupe, que não chega a ser composta dos primeiros alunos no curso de moral e civismo. Ai, América, América, quantos erros ainda se cometerão em seu nome!

Comentários

  1. Quércia passou o facão lá no diário ?
    sinto muito

    abs

    ResponderExcluir
  2. Mas até que o Reinaldão está sendo coerente. Sacanagem mesmo é ver alguns elogiando a medida do Obama ao mesmo tempo que criticaram o ministro do trabalho brasileiro por querer cobrar comprometimento social dos que recebem apoio governamental e, na maior cara-de-pau do mundo, saem demitindo na primeira noticiazinha de retração do comércio. Houve um colunista famoso da grande mídia que disse que era intromissão, por parte do governo brasileiro, nas sagradas decisões privadas das grandes empresas. O que dizer, então, da medida do Obama, vinda de um país que na escola de malandragem liberal foi expulso?!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

Um pai

Bruno Covas, prefeito de São Paulo, morreu vivendo. Morreu criando novas lembranças. Morreu não deixando o câncer levar a sua vontade de resistir.  Mesmo em estado grave, mesmo em tratamento oncológico, juntou todas as suas forças para assistir ao jogo do seu time Santos, na final da Libertadores, no Maracanã, ao lado do filho.  Foi aquela loucura por carinho a alguém, superando o desgaste da viagem e o suor frio dos remédios.  Na época, ele acabou criticado nas redes sociais por ter se exposto. Afinal, o que é o futebol perto da morte?  Nada, mas não era somente futebol, mas o amor ao seu adolescente Tomás, de 15 anos, cultivado pela torcida em comum. Não vibravam unicamente pelos jogadores, e sim pela amizade invencível entre eles, escreve Fabrício Carpinejar em texto publicado nas redes sociais. Linda homenagem, vale muito a leitura, continua a seguir.  Nos noventa minutos, Bruno Covas defendia o seu legado, a sua memória antes do adeus definitivo, para que s...

Dica da Semana: Tarso de Castro, 75k de músculos e fúria, livro

Tom Cardoso faz justiça a um grande jornalista  Se vivo estivesse, o gaúcho Tarso de Castro certamente estaria indignado com o que se passa no Brasil e no mundo. Irreverente, gênio, mulherengo, brizolista entusiasmado e sobretudo um libertário, Tarso não suportaria esses tempos de ascensão de valores conservadores. O colunista que assina esta dica decidiu ser jornalista muito cedo, aos 12 anos de idade, justamente pela admiração que nutria por Tarso, então colunista da Folha de S. Paulo. Lia diariamente tudo que ele escrevia, nem sempre entendia algumas tiradas e ironias, mas acompanhou a trajetória até sua morte precoce, em 1991, aos 49 anos, de cirrose hepática, decorrente, claro, do alcoolismo que nunca admitiu tratar. O livro de Tom Cardoso recupera este personagem fundamental na história do jornalismo brasileiro, senão pela obra completa, mas pelo fato de ter fundado, em 1969, o jornal Pasquim, que veio a se transformar no baluarte da resistência à ditadura militar no perío...

Dica da semana: Nine Perfect Strangers, série

Joia no Prime traz drama perturbador que consagra Nicole Kidman  Dizer que o tempo não passou para Nicole Kidman seria tão leviano quanto irresponsável. E isso é bom. No charme (ainda fatal) de seus 54 anos, a australiana mostra que tem muita lenha para queimar e escancara o quanto as décadas de experiência lhe fizeram bem, principalmente para composição de personagens mais complexas e maduras. Nada de gatinhas vulneráveis. Ancorando a nova série Nine Perfect Strangers, disponível na Amazon Prime Video, a eterna suicide blonde de Hollywood – ok, vamos dividir o posto com Sharon Stone – empresta toda sua aura de diva para dar vida à mística Masha, uma espécie de guru dos novos tempos que desenvolveu uma técnica terapêutica polêmica, pouco acessível e para lá de exclusiva. Em um lúdico e misterioso retiro, a “Tranquillum House”, a exotérica propõe uma nova abordagem de tratamento para condições mentais e psicossociais manifestadas de diferentes formas em cada um dos nove estranhos, “...