Em mais uma colaboração para este blog, o professor Wagner Iglecias analisa com a competência de sempre a sinalização da última pesquisa Datafolha para o cenário pós-eleitoral, uma vez confirmada a vitória de Lula na próxima semana. Leia abaixo a íntegra do artigo.
A temperatura da campanha eleitoral está subindo. Os desdobramentos da operação que visava a compra do dossiê que incriminaria tucanos na questão da máfia das sanguessugas vão se sucedendo, revelando detalhes escabrosos e acirrando os ânimos de parte a parte. Declarações duras de governo e oposição se sucedem diariamente e o ambiente político vai se tornando cada vez mais contaminado.
A recente rodada de pesquisas de intenção de voto para este segundo turno também contribuiu para a radicalização dos discursos. Os números mostram que, desde o início de outubro, só tem aumentado a vantagem de Lula sobre Alckmin. A campanha oposicionista, em desvantagem e na defensiva em relação a temas como alianças eleitorais e privatização, ainda tenta acertar o tom de seu candidato e vai lançando mão de mais ataques. No que é repelida rispidamente quase que de imediato pelos porta-vozes da campanha lulista. Embora ainda seja cedo para decretar qualquer veredicto, a tendência no momento é pela reeleição do presidente-candidato.
Mas fica no ar a dúvida se Lula não poderá colher nas urnas uma vitória de Pirro, na medida em que se desenrolam investigações diversas sobre denúncias de corrupção envolvendo o governo e o PT. Setores petistas já falam abertamente que o país poderia passar por um terceiro e até um quarto turnos nos próximos meses, entre a eventual vitória de Lula, sua diplomação e posse, e depois dela, com a tentativa, pela oposição, de abertura de um processo de impeachment contra o presidente eventualmente reeleito. Se Lula vier a ser impedido, assumiria seu vice. Se também ele viesse a ser objeto da mesma ação, nova eleição seria convocada em noventa dias.
Caso, numa vitória de Lula, se confirme a suposição de setores petistas de que os falcões do PSDB, PFL e PPS partirão para a estratégia de buscar seu impedimento, a crise política que se arrasta desde 2005 deverá se aprofundar radicalmente. Resta saber qual vai ser o papel jogado nessa dinâmica por setores mais moderados da oposição, notadamente os representados pelos governadores José Serra e Aécio Neves. A primeira vista eles parecem ter pouco a ganhar com o agravamento da crise política, na medida em que são candidatos naturais à sucessão de Lula. E Lula, por tudo o que aconteceu ao PT no último ano e meio, talvez não tenha um correligionário de peso sucedê-lo em 2010. Independentemente da sensação de que a eleição já esteja decidida (o que não está), o jogo permanece em aberto.
Wagner Iglecias é doutor em Sociologia e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.
A temperatura da campanha eleitoral está subindo. Os desdobramentos da operação que visava a compra do dossiê que incriminaria tucanos na questão da máfia das sanguessugas vão se sucedendo, revelando detalhes escabrosos e acirrando os ânimos de parte a parte. Declarações duras de governo e oposição se sucedem diariamente e o ambiente político vai se tornando cada vez mais contaminado.
A recente rodada de pesquisas de intenção de voto para este segundo turno também contribuiu para a radicalização dos discursos. Os números mostram que, desde o início de outubro, só tem aumentado a vantagem de Lula sobre Alckmin. A campanha oposicionista, em desvantagem e na defensiva em relação a temas como alianças eleitorais e privatização, ainda tenta acertar o tom de seu candidato e vai lançando mão de mais ataques. No que é repelida rispidamente quase que de imediato pelos porta-vozes da campanha lulista. Embora ainda seja cedo para decretar qualquer veredicto, a tendência no momento é pela reeleição do presidente-candidato.
Mas fica no ar a dúvida se Lula não poderá colher nas urnas uma vitória de Pirro, na medida em que se desenrolam investigações diversas sobre denúncias de corrupção envolvendo o governo e o PT. Setores petistas já falam abertamente que o país poderia passar por um terceiro e até um quarto turnos nos próximos meses, entre a eventual vitória de Lula, sua diplomação e posse, e depois dela, com a tentativa, pela oposição, de abertura de um processo de impeachment contra o presidente eventualmente reeleito. Se Lula vier a ser impedido, assumiria seu vice. Se também ele viesse a ser objeto da mesma ação, nova eleição seria convocada em noventa dias.
Caso, numa vitória de Lula, se confirme a suposição de setores petistas de que os falcões do PSDB, PFL e PPS partirão para a estratégia de buscar seu impedimento, a crise política que se arrasta desde 2005 deverá se aprofundar radicalmente. Resta saber qual vai ser o papel jogado nessa dinâmica por setores mais moderados da oposição, notadamente os representados pelos governadores José Serra e Aécio Neves. A primeira vista eles parecem ter pouco a ganhar com o agravamento da crise política, na medida em que são candidatos naturais à sucessão de Lula. E Lula, por tudo o que aconteceu ao PT no último ano e meio, talvez não tenha um correligionário de peso sucedê-lo em 2010. Independentemente da sensação de que a eleição já esteja decidida (o que não está), o jogo permanece em aberto.
Wagner Iglecias é doutor em Sociologia e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.
CARO LUIZ/WAGNER.
ResponderExcluirPELO POUCO QUE CONHEÇO DE POLITICA ,NÃO ACONTECERA NADA. OS DERROTADOS LAMBERÃO SUAS FERIDAS , SE ACOMODARÃO, POIS, JA ESTÃO DE OLHO EM 2010, FORMANDO SUAS COLIGAÇÕES E ARRANJOS. VAMOS AGUARDAR O LANCE POLITICO DE LULA, SOBRE QUEM ELE APOIARA PARA PROXIMA ELEÇÃO
Não sei não, João, se ouvisse a quantidade de boatos sobre a revista Veja do próximo final de semana acerca da origem dos dólares do dossiê, ficaria aparvalhado, como eu estou.
ResponderExcluirBoatos são boatos. Os dois mais insistentes - dinheiro ter vindo da ONG de Lurian ou da empresa do Lulinha - não são verdadeiros. A Veja deve vir quente no fim de semana, mas mesmo que apareça a origem do dinheiro, o presidente Lula não estando diretamente envolvido, e não está, é difícil criar um fato forte o suficiente para mudar a eleição.
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