O professor Wagner Iglecias envia mais uma colaboração para blog, a primeira após o desfecho do primeiro turno. Wagner comenta os resultados da pesquisa Datafolha que apontou o favoritismo do presidente Lula, mas recomenda bastante cautela aos petistas. Leia a seguir o texto de Iglecias.
Os últimos dias foram marcados por rumores sobre as pesquisas de intenção de voto para presidente neste segundo turno. Alguns diziam que a candidatura Lula estaria se esfacelando em vários estados e que Alckmin já apareceria a frente do presidente-candidato na primeira rodada de pesquisas. Outros sopravam que Lula é quem manteria a dianteira, sendo sua diferença para Alckmin variável como variáveis são tais rumores, podendo situar-se entre um e até dez pontos. Na sexta-feira, finalmente, surgiram as duas primeiras pesquisas para este segundo turno. Segundo o Datafolha Lula teria 50% do total de votos, contra 43% de Alckmin. Se considerados somente os votos válidos, Lula bateria nos 54% contra 46% do ex-governador tucano. Pelo Vox Populi a situação de Lula seria até mais confortável, com 51% do total de votos, contra 41% de seu adversário.
Apesar dos números destas primeiras pesquisas mostrarem que praticamente se mantém a diferença de votos entre Lula e Alckmin observada no primeiro turno, convém certa prudência. Nada, a rigor, está decidido. E por vários motivos.
O primeiro deles é que, numa eleição em segundo turno, se o candidato que estiver atrás conseguir roubar um ponto percentual de votos do candidato líder, a diferença entre eles, obviamente, reduz-se em dois pontos. Isto mostra, como temos defendido há tempos neste e em outros espaços, que a Alckmin não há outra alternativa para ganhar eleição se não tentar tirar votos de gente que já se decidiu por Lula. Para o tucano não há mais espaço para onde crescer se não for por ai. O segundo motivo é decorrente deste. A campanha tende a transformar-se numa guerra, principalmente no horário eleitoral. Cabe saber apenas qual é o limite até o qual as duas candidaturas irão no objetivo de tentar combater-se mutuamente. Principalmente porque há farta munição, dos dois lados, para atacar o adversário numa campanha que deverá basear-se, cada vez mais, na discussão da questão ética. Se o segundo turno virar um concurso para saber quem cometeu menos peripécias com o dinheiro público, o desfecho das urnas será imprevisível. Além do que, obviamente, o país terá desperdiçado, mais uma vez, a oportunidade de discutir seus grandes problemas de forma clara, madura e propositiva.
E temos ainda, finalmente, um terceiro motivo pelo qual não dá, pelo menos por hora e apesar dos primeiros resultados das pesquisas, para um lado cantar vitória e o outro jogar a toalha, ou vice-versa. Campanhas eleitorais no Brasil tem sido pródigas em ser decididas de última hora, sendo que mudanças repentinas no eleitorado são motivadas por fatores que muitas vezes escapam à racionalidade e às mãos da classe política, dos institutos de pesquisa e dos analistas em geral. A motivação para isso pode ser o surgimento de um novo escândalo, a costura de uma aliança infeliz para segundo turno ou até algo externo à política partidária mais imediata. Por tudo que temos visto nos últimos tempos na cena política e, mais recentemente, na corrida eleitoral, onde as tabajarices se sucedem, dá para dizer que neste segundo turno os dois finalistas, Lula e Alckmin, têm a companhia do Sobrenatural de Almeida, aquela célebre figura de Nelson Rodrigues que explicava o inexplicável que as vezes ocorre numa partida de futebol. Quem sabe ele não queira dar o ar de sua graça no Fla-Flu em que se transformou a disputa entre petistas e tucanos pelo Palácio do Planalto?
Wagner Iglecias é doutor em Sociologia e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.
Os últimos dias foram marcados por rumores sobre as pesquisas de intenção de voto para presidente neste segundo turno. Alguns diziam que a candidatura Lula estaria se esfacelando em vários estados e que Alckmin já apareceria a frente do presidente-candidato na primeira rodada de pesquisas. Outros sopravam que Lula é quem manteria a dianteira, sendo sua diferença para Alckmin variável como variáveis são tais rumores, podendo situar-se entre um e até dez pontos. Na sexta-feira, finalmente, surgiram as duas primeiras pesquisas para este segundo turno. Segundo o Datafolha Lula teria 50% do total de votos, contra 43% de Alckmin. Se considerados somente os votos válidos, Lula bateria nos 54% contra 46% do ex-governador tucano. Pelo Vox Populi a situação de Lula seria até mais confortável, com 51% do total de votos, contra 41% de seu adversário.
Apesar dos números destas primeiras pesquisas mostrarem que praticamente se mantém a diferença de votos entre Lula e Alckmin observada no primeiro turno, convém certa prudência. Nada, a rigor, está decidido. E por vários motivos.
O primeiro deles é que, numa eleição em segundo turno, se o candidato que estiver atrás conseguir roubar um ponto percentual de votos do candidato líder, a diferença entre eles, obviamente, reduz-se em dois pontos. Isto mostra, como temos defendido há tempos neste e em outros espaços, que a Alckmin não há outra alternativa para ganhar eleição se não tentar tirar votos de gente que já se decidiu por Lula. Para o tucano não há mais espaço para onde crescer se não for por ai. O segundo motivo é decorrente deste. A campanha tende a transformar-se numa guerra, principalmente no horário eleitoral. Cabe saber apenas qual é o limite até o qual as duas candidaturas irão no objetivo de tentar combater-se mutuamente. Principalmente porque há farta munição, dos dois lados, para atacar o adversário numa campanha que deverá basear-se, cada vez mais, na discussão da questão ética. Se o segundo turno virar um concurso para saber quem cometeu menos peripécias com o dinheiro público, o desfecho das urnas será imprevisível. Além do que, obviamente, o país terá desperdiçado, mais uma vez, a oportunidade de discutir seus grandes problemas de forma clara, madura e propositiva.
E temos ainda, finalmente, um terceiro motivo pelo qual não dá, pelo menos por hora e apesar dos primeiros resultados das pesquisas, para um lado cantar vitória e o outro jogar a toalha, ou vice-versa. Campanhas eleitorais no Brasil tem sido pródigas em ser decididas de última hora, sendo que mudanças repentinas no eleitorado são motivadas por fatores que muitas vezes escapam à racionalidade e às mãos da classe política, dos institutos de pesquisa e dos analistas em geral. A motivação para isso pode ser o surgimento de um novo escândalo, a costura de uma aliança infeliz para segundo turno ou até algo externo à política partidária mais imediata. Por tudo que temos visto nos últimos tempos na cena política e, mais recentemente, na corrida eleitoral, onde as tabajarices se sucedem, dá para dizer que neste segundo turno os dois finalistas, Lula e Alckmin, têm a companhia do Sobrenatural de Almeida, aquela célebre figura de Nelson Rodrigues que explicava o inexplicável que as vezes ocorre numa partida de futebol. Quem sabe ele não queira dar o ar de sua graça no Fla-Flu em que se transformou a disputa entre petistas e tucanos pelo Palácio do Planalto?
Wagner Iglecias é doutor em Sociologia e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.
Passei aqui para ver seus comentários sobre o debate....não achei nada, vc foi lá?
ResponderExcluirA Heloisa Helena 'baixou' no chuchu!!!!! O que deu no moço? Resolveu mudar de tática? Será que cola?
Eu não gostei da performance do Lula. Esperava mais. Ele é melhor que isso.
Mas o bicho pegou, o sangue ferveu! Bom para quem assiste.