Ninguém aguenta mais ouvir Lula e Alckmin falando de números que, a rigor, só as assessorias dos candidatos conhecem em detalhes. Para o eleitor, a coisa toda é de pouca valia: ninguém vai mudar de opinião se o número de Alckmin estiver errado e o de Lula, correto. O voto já está muito cristalizado e os debates foram momentos apenas para os dois postulantes à presidência aparecerem na telinha um pouco mais do que no horário eleitoral. Evidentemente, o confronto é sempre mais fácil para quem está na oposição – Lula sabe bem disto –, mas debates só mudam a história em casos excepcionais, como um desastre na performance de um ou de outro. A rigor, este programa da Globo não deve ter grande influência no resultado da eleição. O jogo está jogado e no domingo, Lula deverá ser reeleito. A questão agora é saber se ele terá mais ou menos votos, proporcionalmente, do que em 2002. Se tiver mais, seu governo começará muito mais forte do que a oposição imaginou durante todo o processo. Se tiver menos, terá que calçar as tais sandálias da humildade e negociar bastante. Faz parte da democracia e é bom que seja assim.
O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda
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