Pular para o conteúdo principal

As disputas de segundo turno nos Estados poderão definir resultado da eleição presidencial

Pouca gente está olhando para este fator, mas em 10 Estados brasileiros o jogo eleitoral continua rolando e certamente vai influenciar na votação presidencial. É claro que muitas vezes a votação do candidato ao governo "descola" da votação presidencial, mas é razoável supor que no segundo turno a polarização tende a ocorrer nas duas esferas – estadual e federal. Assim, é importante observar as alianças que estão se formando nesses 10 Estados. Vamos a elas:

Maranhão: Roseana Sarney (PFL) e Jackson Lago (PDT) se enfrentarão. No primeiro turno, Roseana fingiu, fingiu, mas no final pediu votos abertamente para Lula. O presidente teve 78% dos votos válidos por lá e Alckmin, 12%. O PFL vai tentar a neutralidade de Roseana, mas dificilmente ela cumprirá qualquer acordo: seu pai, José Sarney, é lulista de carteirinha. Total de eleitores que votaram no primeiro turno no Estado: 3,1 milhões.

Pará: A disputa será entre a petista Ana Júlia e o tucano Almir Gabriel. Em tese, uma eleição equilibrada, mas a senadora do PT pode levar vantagem pelo apoio que receberá do deputado Jader Barbalho, outro lulista de carteirinha. Alckmin deverá tentar "colar" em Gabriel e bater forte em Barbalho. Total de eleitores que votaram no primeiro turno no Estado: 3,3 milhões.

Rio Grande do Norte: A governadora Vilma Faria (PSB) tem o apoio de Lula e terá uma eleição duríssima contra o senador Garibaldi Filho (PMDB). No primeiro turno, Lula teve 60% dos votos e Alckmin, 30% no Rio Grande do Norte. A aposta do tucano será tentar diminuir esta diferença e chegar mais próximo da votação de Garibaldi, mas o problema todo é que o PMDB local está dividido entre Alckmin e Lula. O tucano não deve esperar grande melhora na sua votação entre os eleitores potiguares. Total de eleitores que votaram no primeiro turno no Estado: 1,78 milhão.

Paraíba: Mais um Estado onde o presidente Lula deve ter apoio do PMDB, uma vez que o adversário do senador José Maranhão será o governador Cássio Cunha Lima, do PSDB. No primeiro turno, Lula deu apoio ao peemedebista e ainda defendeu o senador Ney Suassuna, envolvido no escândalo dos sanguessugas. O presidente teve 65% dos votos no Estado e deve repetir a performance, até porque Cássio é um dos tucanos mais afáveis com Lula. Certamente Alckmin terá dificuldade para superar os 27% que obteve no primeiro turno. Total de eleitores que votaram no primeiro turno no Estado: 2,1 milhões.

Pernambuco: No estado natal de Lula, a eleição será entre o ex-ministro Eduardo Campos (PSB), neto de Miguel Arraes, e Mendonça Filho (PFL). Campos terá o apoio de Humberto Costa (PT) e cerra fileiras com Lula. Alckmin terá a força de Jarbas Vasconcelos, eleito senador pelo PMDB, mas também enfrentará dificuldade para reverter a popularidade de Lula, que conseguiu 70% do total de votos dos pernambucanos em 1° de outubro. Alckmin teve 22% e se chegar a 30% já terá conseguido uma façanha. Total de eleitores que votaram no primeiro turno no Estado: 4,7 milhões.

Goiás: É mais um Estado em que Lula e Alckmin já têm lado. O presidente estará no palanque de Maguito Vilela (PMDB) para tentar reverter o resultado do primeiro turno, que foi favorável a Alckmin e Alcides Rodrigues (PP), candidato do senador eleito Marconi Perillo. Maguito teve 41% e Lula 40%. Rodrigues não venceu por pouco, teve 48% e Alckmin superou os 50%. Total de eleitores que votaram no primeiro turno no Estado: 3,09 milhões.

Rio de Janeiro: Os cariocas vão se defrontar com a situação mais esquizofrênica de toda a campanha eleitoral, parecida com o célebre poema de Drumond: Denise Frossard ama Alckmin que ama Garotinho que ama Cabral que ama Lula. Os palanques serão separados: Alckmin sobe no de Frossard, mas sem a presença de Garotinho; Lula sobe no de Cabral, mas Garotinho, que apóia o candidato do PMDB, não subirá. Desta loucura toda temos que Alckmin ganhará votos nos redutos de Garotinho, mas perderá votos entre os eleitores de Frossard que rejeitam o ex-governador e sua mulher Rosinha Matheus. Lula, por outro lado, ganha votos correndo o estado ao lado do favorito Sérgio Cabral, mas também atrai a rejeição dos 18% de eleitores cariocas de Heloísa Helena, que tendem a votar em Denise Frossard. Será interessante acompanhar o resultado desta eleição maluca e cruzar os dados da votação para governo e para presidente. No primeiro turno, Lula venceu com 49% no Rio. Alckmin teve 28%. Total de eleitores que votaram no primeiro turno no Estado: 9,2 milhões.

Paraná: Os três Estados do Sul são os mais problemáticos para Lula. No Paraná, o governador Roberto Requião (PMDB) deve ser levado a apoiar Lula, uma vez que seu adversário Osmar Dias (PDT) já declarou que está com Geraldo Alckmin. Na verdade, a questão do apoio é mais complicada para Requião, que não gostaria de se contaminar com a rejeição ao presidente na região Sul, onde Alckmin teve sua melhor votação, com 55%. No Paraná, o tucano conseguiu 53%. Lula tentará diminuir a diferença colando em Requião, governador que aitem alta popularidade, especialmente no interior. Total de eleitores que votaram no primeiro turno no Estado: 5,9 milhões.

Santa Catarina: O governador Luiz Henrique, candidato à reeleição, fechou com o PSDB local e apóia Alckmin. Lula não terá apoio formal no Estado, o que dificulta bastante o seu trabalho de convencer os catarinenses a mudar de lado – Alckmin teve 56% do total de votos no Estado. Esperidião Amin (PP), adversário de Luiz Henrique, até deve ser simpático a Lula, mas o presidente terá mesmo que lutar sozinho . Total de eleitores que votaram no primeiro turno no Estado: 3,58 milhões.

Rio Grande do Sul: Outra parada duríssima para Lula, embora o cenário pudesse ser ainda pior. Se Olívio Dutra (PT) estivesse enfrentando o governador Germano Rigotto (PMDB) no segundo escrutínio, o PSDB não hesitaria em apoiar o atual ocupante do palácio do Piratini e as coisas estariam ainda pior para o presidente. Olívio enfrentará Yeda Cruisius e Rigotto já prometeu ficar neutro, embora os deputados do PMDB queiram apoiar Yeda e Alckmin. Paradoxalmente, o melhor para Lula era que Rigotto e Yeda se enfrentassem, pois neste caso PT e PMDB estariam unidos em torno da sua candidatura. Olívio, porém, tem a vantagem de já ter passado pelo governo gaúcho e de ostentar um forte vínculo local, coisa que o eleitorado do Rio Grande aprecia. Yeda, para quem não sabe, é paulista. Faz muita diferença.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe