Pular para o conteúdo principal

O povo falou

Vai ter segundo turno na eleição presidencial deste ano. A diferença foi pequena - faltou pouco mais de 1% para Lula ser reeleito ontem, mas o que vale é a regra do jogo: ele precisava de 50% mais um voto e não conseguiu este montante. Com isto, no próximo dia 29 os brasileiros vão escolher entre o atual presidente e Geraldo Alckmin (PSDB). Será uma disputa dura, ninguém tem dúvida, e nos estados em que também a eleição estadual foi para o segundo escrutínio os candidatos terão que dizer de que lado estão. O país vai ferver e se dividir em dois.

A rigor, foram várias as surpresas eleitorais, mas no âmbito federal, a maior delas foi a boa performance de Alckmin nas urnas. O tucano superou os 40%, superando as melhores expectativas dos seus aliados. A decepção ficou por conta de Heloísa Helena, que não atingiu os 8% esperados. Por óbvio, a tarefa mais fácil agora é do presidente Lula, que precisa agregar apenas 1,5 ponto percentual para vencer, enquanto seu adversário tem que correr atrás de 9 pontos. Em tese, bastaria Lula conseguir 2 dos seis pontos de Heloísa que a eleição estaria liquidada, mas a coisa não é assim tão clara. Heloísa teve quase 20% no Rio de Janeiro, mas trata-se, por exemplo, de um eleitorado que não necessariamente votará em Lula. Ademais, as denúncias sobre o caso do dossiê continuarão pautando a campanha, e é possível que Lula perca votos em sua própria base.

A grande verdade é que o quadro está indefinido. A força eleitoral do presidente Lula no Nordeste ficou provada nesta eleição, mas ele também tem no Sul um calcanhar de Aquiles. Evidentemente, Lula e Alckmin vão estudar muito bem os mapas eleitorais para tentar reverter suas fragilidades e ampliar seus pontos fortes. Vai ser um duelo muito mais complicado do que em 2002 e a tensão deverá crescer.

Já corre a boca pequena no tucanato, porém, que Lula larga na frente porque contará com o apoio decisivo, no Sudeste, de dois grandes líderes: José Serra e Aécio Neves. Maldade ou não, Geraldo Alckmin ainda não é coisa alguma e os dois já são governadores eleitos, com um olho bem grande em 2010.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue...

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...