Pular para o conteúdo principal

Cardoso recua: faltou um "ponto e vírgula"

Depois de defender a venda da Petrobras, Fernando Henrique Cardoso deve ter levado um puxão de orelha de seus correligionários e soltou nota oficial, reproduzida abaixo, para "esclarecer" a sua posição sobre o assunto. A bem da verdade, Cardoso esclarece uma parte de frase, mas omite que disse textualmente o seguinte: "A Petrobras poderia deixar de ser uma estatal, de controle do governo, para passar a ser de controle público, formado por grupos da sociedade." Este blog entende que quando uma empresa deixa de ser ser estatal, na melhor das hipóteses ela se torna uma companhia de capital misto, portanto com presença de capital privado. Noves fora zero, a coisa tem um nome: Privatização.


Nota de esclarecimento


Um cacoete de linguagem, de minha parte, e uma transcrição imprecisa da entrevista que dei hoje pela manhã à rádio CBN deram origem a um mal-entendido sobre minha posição quanto ao controle da Petrobrás e do Banco do Brasil. Minha posição é clara: estas empresas devem ser públicas. Ao contrário do que vem ocorrendo no governo atual, que as utiliza para fins privados, no interesse de grupos e partidos políticos.


Perguntado sobre a onda de desinformação e terrorismo eleitoral em torno do assunto das privatizações, declarei textualmente: "Isto é demagogia. Ninguém vai privatizar a Petrobras. Eu disse isso quando foi feita a Lei (que flexibilizou o monopólio estatal no setor). Eu mandei uma carta ao Senado. Eu não (e aqui caberia a vírgula ou o ponto e vírgula que ficou faltando para dar sentido à frase), sou contrário à privatização da Petrobras. Ela deve ser outra coisa: uma empresa pública. E não ser utilizada para fins políticos". Sobre o sentido da minha declaração, não cabe dúvida. Dúvida, aí sim, pesa sobre honestidade, inclusive intelectual, daqueles que fazem do vale-tudo um método de luta política.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Comentários

  1. Esas história de ponto-e-virgula é ridícula!!! FHC tomou mesmo uma dura. É, o PSDB não é mais o mesmo. A turma de Pindamonhangaba, do Alckmin e Chalita, tá dominando!

    ResponderExcluir
  2. Acontece que foi divulgada a voz do FHC, antes do texto impresso, e toda fala insinua uma pontuação pelas pausas, pela respiração, etc. Ele jamais emendaria a frase inteira sem uma pausa, se estivesse implicando um ponto e vírgula. FHC pensa que todo mundo é idiota. Aliás, falta mesmo alguém do PSDB defender frontalmente as razões da opção privatizante. Digam com todas as letras, defendam sua proposta. Falta coragem ou sabem que debaixo dos panos existem sim interesses inconfessáveis?

    ResponderExcluir
  3. Concordo com o comentario acima (do anonymous...). Eles precisam assumir as posturas. São a favor da privatização e contra o Bolsa Família.
    Contudo, não é o que vemos. O Alckmin usa os programas de rádio e TV para falar que é contra a privatização e vai manter e ampliar o programa Bolsa Familia.
    Bem, se ele falar o contrário perderá votos, como já está perdendo, já que Lula está batendo nesse ponto.
    Afinal, o que eles defendem? E qual com qual interesse: no bem público e na justiça social ou para fins eleitoreiros?

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

Dica da semana: Nine Perfect Strangers, série

Joia no Prime traz drama perturbador que consagra Nicole Kidman  Dizer que o tempo não passou para Nicole Kidman seria tão leviano quanto irresponsável. E isso é bom. No charme (ainda fatal) de seus 54 anos, a australiana mostra que tem muita lenha para queimar e escancara o quanto as décadas de experiência lhe fizeram bem, principalmente para composição de personagens mais complexas e maduras. Nada de gatinhas vulneráveis. Ancorando a nova série Nine Perfect Strangers, disponível na Amazon Prime Video, a eterna suicide blonde de Hollywood – ok, vamos dividir o posto com Sharon Stone – empresta toda sua aura de diva para dar vida à mística Masha, uma espécie de guru dos novos tempos que desenvolveu uma técnica terapêutica polêmica, pouco acessível e para lá de exclusiva. Em um lúdico e misterioso retiro, a “Tranquillum House”, a exotérica propõe uma nova abordagem de tratamento para condições mentais e psicossociais manifestadas de diferentes formas em cada um dos nove estranhos, “...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...