Pular para o conteúdo principal

O segundo turno fortaleceu Lula













Acabou a guerra e Luiz Inácio Lula da Silva saiu desta eleição maior do que entrou. Pode parecer uma piada, mas com os 58 milhões de votos que obteve neste domingo, o presidente reeleito deveria agradecer aos céus pela desastrada Operação Tabajara, que levou a disputa eleitoral para o segundo turno. O raciocínio é simples: se Lula tivesse vencido no primeiro turno, teria obtido uma maioria bem mais estreita, algo em torno de 51% , 52% dos votos válidos. Começaria a sua segunda gestão emparedado por denúncias de corrupção no primeiro mandato e precisaria realizar uma exaustiva negociação para obter maioria no Congresso. Graças aos "aloprados", porém, a eleição foi para uma segunda rodada e Lula obteve uma vitória magnífica, praticamente do tamanho da que conseguiu em 2002.

É preciso ler os números com atenção: a votação de hoje – 60% dos votos válidos – foi um ponto percentual menor do que a de 2002, contra José Serra. Em 2002, porém, Lula estava na oposição, enfrentando um candidato que nem sequer conseguia defender o governo do qual fez parte. A economia patinava, o dólar estava na casa dos R$ 4, o risco-país passava de 2 mil pontos. Havia quase que uma unanimidade de que a situação brasileira era catastrófica. Na vitória de 2006, a história foi diferente: Lula estava defendendo o governo e o candidato da oposição focou o seu discurso nas denúncias de corrupção da atual administração federal e em uma crítica feroz à "falta de crescimento" do Brasil. Mesmo assim, Lula repetiu a votação de 2002.

As explicações para o tamanho da vitória de Lula serão muitas: alguns dirão que foi a economia, outros que o carisma do presidente preponderou e não vai faltar engenheiro de obra feita para afirmar que na verdade, foi a oposição que perdeu, ao escolher Alckmin. Vamos com calma. Apesar de Geraldo Alckmin ter obtido menos votos do que no primeiro turno, ele ganhou de Lula em 7 Estados – Serra venceu em apenas um em 2002. Ninguém acreditava muito no "picolé de chuchu, mas ele se mostrou competitivo no primeiro turno.

Quanto à economia, se é verdade que o Brasil melhorou, não houve o tal espetáculo do crescimento e o país está crescendo menos do que os demais países da região, de forma que não dá para aplicar o bordão "é a economia, estúpido". O carisma de Lula é grande, mas também não cabem nele os 60% dos votos válidos obtidos neste segundo turno. Na verdade, este blog acredita que uma conjunção de fatores levou a uma vitória tão extraordinária do presidente Lula – incluídos os três recém citados. Além deles e da rejeição do povão às privatizações tucanas, porém, é preciso levar em conta uma questão que foi pouco falada ao longo da campanha: as oposições vieram para a eleição sem um projeto alternativo ao de Lula. E não foi só Alckmin, é bom que se diga: Cristovam Buarque e Heloísa Helena também não conseguiram mostrar em detalhes o que poderiam fazer de diferente. Cristovam apenas dizia que daria mais dinheiro para a educação e a senadora do PSOL, nos poucos momentos em que não estava vociferando contra os "dólares nas genitálias masculinas", era incapaz de explicar o que faria no Palácio do Planalto. Alckmin, ao longo do segundo turno, também não explicou o que significava o seu "choque de gestão". Ora, ninguém troca o certo pelo duvidoso, como bem sintetizou a letra do jingle de Lula.

Lula venceu porque a aprovação ao seu governo é alta (53% dizem que é ótimo ou bom e quase 30%, que é regular) e porque a oposição não tinha o que oferecer. A primeira coisa para tentar tirar um presidente popular do cargo é dizer o que vai ser feito no lugar. Ninguém ofereceu o básico, portanto, o povão preferiu continuar com o feijão-com-arroz lulista a colocar o país em uma nova aventura. É simples assim.

Comentários

  1. Na realidade, Lula tem 60,9% dos votos, ou seja quase, quase os 61% de 2002, e mais votos em números absolutos, mais de 58 milhões, do que em 2002. Além disso, superou a marca dos 54,4 milhões de Ronald Reagan, como o presidente mais votado do mundo. Que coisa, né?

    ResponderExcluir
  2. Vejam a análise do Marcos Coimbra, do instituto Vox Populi, no Blog do Noblat, sobre as razões da vitória esmagadora de Lula. Claríssimo.

    ResponderExcluir
  3. Superou o Reagan, mas não superou o Bush de 2004, que teve quase 59 milhões. Quem sabe ele chega lá em 2014...

    ResponderExcluir
  4. Acredito que a intensidade dos ataques agora vai piorar. Agora que o candidato da oposição não foi eleito, é que vai ficar ruim a coisa. Os jornalões também vão dar mais atenção a internet, e é preciso manter o trabalho de forma a anular as ações da $inhá mídia.

    ResponderExcluir
  5. Seus argumentos são válidos sim, mas acho que grande parte dos eleitores de Lula são a ele fiéis pela mudança de mentalidade que este impôs ao comando do país: ao invés de crescer a economia para depois distribuir a renda, Lula optou por distribuir a renda para que seja possível a economia crescer. Uma inversão de valores não só simples e genial, mas justíssima. Falei sobre isso no meu Blog (http://sobreassuntos.blig.ig.com.br). Por causa disso sou eleitor de Lula, sim, e não é por causa da falta de propostas da oposição.

    ResponderExcluir
  6. Não vai mais atualizar???
    Abraços!!!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe