Pular para o conteúdo principal

Maia vê arrogância em Alckmin no debate

O prefeito Cesar Maia escreveu nesta segunda-feira em seu ex-blogo um longo comentário sobre o debate de ontem na TV Bandeirantes. Vale a pena ler na íntegra, que está reproduzida abaixo. De tudo que o aliado de Alckmin diz, chama atenção para a crítica do tom adotado pelo tucano. Segundo ele, Geraldo Alckmin pode ter passado uma certa arrogância para os eleitores. A sorte do candidato do PSDB é que Lula também não conseguiu passar a empatia com o povão que normalmente consegue com muita facilidade. Apesar disto, observa Maia, Lula passou mais emoção do que Alckmin. É verdade: o candidato do PSDB continua excessivamente robotizado na telinha, o que acaba atrapalhando a comunicação com os mais pobres. Nas faixas mais escolarizadas, o argumento racional é o que vale, mas na massa que elege os políticos, a maneira com que se diz as coisas é mais importante do que o que está sendo dito.


DEBATE BAND: GERALDO 1 X 0 LULA!

1. Tá vendo, Lula, o que dá se negar a dar coletivas e entrevistas para a TV durantes estes quase 4 anos? Se tivesse feito, estaria muito mais treinado para falar na TV. Falhou com Bonner na TV Globo e agora de novo. Você desaprendeu a usar a TV. Não consegue olhar para a câmera (nem na fala final), fala com expressão facial contraída, sobe o tom, pensa que está falando em comício, o riso falso mostrando nervosismo, insegurança... tudo errado. Numa vez que leu se esqueceu de tirar o óculos para perto e continuou falando com ele: sinal de nervosismo. Por que a maquiadora não reforçou a base para sua pele oleosa?

2. Tá vendo, Geraldo, como é muito melhor falar sem teleprompter? Tudo quase certo. Seu tom ficou um pouco acima do recomendado na TV, o que em seu caso ficou na fronteira da arrogância. Ou denotando um pouquinho de tensão. E o Brasil é muito grande, e não apenas SP. Minas Gerais, estado eleitoralmente fundamental, não foi citado uma vez, nem seu governador campeão de votos. Jarbas Vasconcelos poderia ter sido citado.

3. Aliás, Lula e Geraldo pensam que Brasil é SP. Debateram quase sempre em torno do que se fez e não se fez em SP. E o resto do país? Entrou no debate residualmente. Lula esqueceu de fazer o contraponto com o governo FHC e até o citou sobre cartões de crédito. Que erro, hein? Afinal, Geraldo terminou o governo muito bem avaliado e FHC muito mal avaliado.

4. A BAND ao colocar a imagem dos dois na tela durante as perguntas cria a obrigação de ambos fazerem caras e bocas. Não fizeram. Geraldo uma vez estava arrumando a gravata. Lula na pergunta sobre estradas, procurou a pasta entre dezenas delas e nào encontrou. E bebia água toda hora.

5. Geraldo introduziu uma novidade: usar a réplica para fazer uma nova pergunta. Lula caiu na armadilha duas vezes.

6. Lula -de qualquer forma, passou mais emoção, e teve como ponto alto a resposta sobre política externa.

7. Geraldo fez o que deveria ter feito desde o início dos programas de TV. Tomou a iniciativa ao tratar de corrupção. Mas faltou usar imagens na fala, com narrativas sobre petequeiro, Waldomiro...

8. Lula começou chamando Geraldo de governador e até de excelência e só da metade para o final se deu conta e começou a tratá-lo còmo Alckmin. Geraldo tratou-o de igual para igual retirando-o do pódio da presidência e chamou-o de candidato e Lula o tempo todo. Lula se esqueceu de completar o que diz. Por exemplo, no caso do Marcos Valério e do presidente do PSDB. Ficou com medo do Aécio ficar zangado?

9. Lula usou umas 10 vezes a mesma expressão que usaram contra ele e o PT em 1994 e 1998. Ficou repetitivo.

10. Ambos tentataram influenciar quem via o debate, dizendo como o outro se comportava. Não precisa: quem vê sabe. E se for falso, fica mal para quem diz. No máximo deve ser dito para reforçar o óbvio.

11. Como é possível dois políticos seniors não conseguirem controlar o tempo de fala. Geraldo ultrapassou quase todos e ficou com microfone mudo, o que dá uma impressão, a quem vê, de que levou um carão.

12. Faltaram as promessas ou compromissos concretos: vou fazer isso, vou fazer aquilo...

13. Como todo o debate: ninguém ganha 48 horas depois. E só perde quem derrapa: não foi o caso. Quarta-feira nada terá acontecido. E Lula terá tido as informações e críticas que este debate lhe deu. E aprenderá que todos os debates servem como teste para o debate onde se corre mais risco, que é o da TVG, pela audiência e pela proximidade da eleição, no caso de uma diferença pequena.

14. Lembro que é a medição apenas para SP. Band informa: "O primeiro debate entre os candidatos Lula e Geraldo Alckmin realizado neste domingo à noite pela Band chegou a 20 pontos de pico. Segundo a prévia do Ibope, a média da emissora no horário, entre 20h30 e 22h50, foi de 14,2. Com o debate, a Band chegou a ficar vários minutos segundo lugar, revezando-se na vice-liderança com o SBT". "A Bandeirantes alcançou, entre 20h30 e 22h50, período total do confronto entre Lula e Alckmin, o patamar dos 14 pontos de audiência, com 20 de pico. A primeira hora rendeu 12 de média e 17 de pico, o que significa que o programa foi ganhando adesões ao longo da discussão.

15. Enquete (até as 24h) nos sites: Agência Estado deu 75% para Geraldo, UOL deu 65% e Globo 60%. Geraldo venceu entre seus eleitores, o que é tradicional.

Comentários

  1. O César Maia está querendo é se afirmar como marqueteiro, porque como político e prefeito não dá pra levar a sério.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe