Vale a pena ler o que escreveu Mauro Malin para o Observatório da Imprensa sobre os últimos acontecimentos. Voltamos ao assunto em seguida.
Vedoin, Época, Veja, IstoÉ
Sucessivamente, as três revistas semanais brasileiras foram usadas pelo empresário-bandido-réu-confesso Luiz Antônio Vedoin para fazer revelações administradas em doses medidas segundo suas próprias conveniências - como não podia deixar de ser, a menos que se imaginasse que o cidadão se havia transformado num herói da República, como, por sinal, se imaginou ter ocorrido no caso do ex-deputado Roberto Jefferson.
Os jornalistas dizem que diante do furo, com a exibição de documentos, só lhes cabe publicar o material. Não é bem assim. Há relatos de furos semelhantes que jamais vieram à tona, porque a empresa jornalística preferiu usar a reportagem como instrumento de barganha para resolver problemas ou obter vantagens. Nada muito diferente do que fazia o velho Chateubriand nos Associados.
Existem também simpatias, empatias, idiossincracias. Recentemente, a trajetória do ex-deputado federal Emerson Kapaz foi tratada com parcimônia em toda a mídia e ele até ganhou da Folha de S. Paulo uma espécie de "direito de resposta" em que não se vêem as acusações, só a defesa. Havia uma anedota curiosa a mencionar, mas ela não foi captada pelos radares das redações. Em 2005, Kapaz coordenou, no projeto DNA Brasil, o grupo de trabalho que se ocupava do tema "Somos ou estamos corruptos?". Parece piada, mas é verdade.
Não estaria na hora de se repensar os critérios - e até mesmo as técnicas - usados nessas reportagens com denúncias bombásticas? Não para livrar políticos proeminentes de acusações bem documentadas. Seria catastrófico. Mas também seria catastrófico passar a idéia de que os veículos de imprensa são manipuláveis por criminosos. Eles são manipuláveis, sim. Mas não num grau que contamine todo o seu trabalho jornalístico.
Em tempo: usa-se aqui a palavra criminoso para designar toda e qualquer pessoa que fere a lei. Seja caixa dois, propina, estelionato, falsidade ideológica, sonegação, furto, roubo, latrocínio, seqüestro, etc. Existe uma faixa em que todos os delinqüentes convivem. Os traficantes e os consumidores. Os doadores e os beneficiários de dinheiros escusos. E assim por diante.
Repito o que escrevi em artigo publicado pelo Diário de S. Paulo em novembro de 2003: "Existe uma vastíssima zona cinzenta em que indivíduos das classes de renda alta e média e grupos do submundo se cruzam o tempo todo. É onde se acham serviços de contrabandistas, ´piratas´, doleiros, prostitutas, traficantes de drogas ilegais, policiais, juízes e outras autoridades subordináveis. E onde empresas que já escorregaram para a informalidade dão mais uma volta no parafuso e compram matéria-prima ou mercadoria roubada. Sem falar na extensão da lavagem de dinheiro, capítulo obscuro e preocupante".
Hoje, seria indispensável acrescentar uma menção a relações espúrias entre fornecedores e o Estado. Em todos os poderes e escalões da República.
Vedoin, Época, Veja, IstoÉ
Sucessivamente, as três revistas semanais brasileiras foram usadas pelo empresário-bandido-réu-confesso Luiz Antônio Vedoin para fazer revelações administradas em doses medidas segundo suas próprias conveniências - como não podia deixar de ser, a menos que se imaginasse que o cidadão se havia transformado num herói da República, como, por sinal, se imaginou ter ocorrido no caso do ex-deputado Roberto Jefferson.
Os jornalistas dizem que diante do furo, com a exibição de documentos, só lhes cabe publicar o material. Não é bem assim. Há relatos de furos semelhantes que jamais vieram à tona, porque a empresa jornalística preferiu usar a reportagem como instrumento de barganha para resolver problemas ou obter vantagens. Nada muito diferente do que fazia o velho Chateubriand nos Associados.
Existem também simpatias, empatias, idiossincracias. Recentemente, a trajetória do ex-deputado federal Emerson Kapaz foi tratada com parcimônia em toda a mídia e ele até ganhou da Folha de S. Paulo uma espécie de "direito de resposta" em que não se vêem as acusações, só a defesa. Havia uma anedota curiosa a mencionar, mas ela não foi captada pelos radares das redações. Em 2005, Kapaz coordenou, no projeto DNA Brasil, o grupo de trabalho que se ocupava do tema "Somos ou estamos corruptos?". Parece piada, mas é verdade.
Não estaria na hora de se repensar os critérios - e até mesmo as técnicas - usados nessas reportagens com denúncias bombásticas? Não para livrar políticos proeminentes de acusações bem documentadas. Seria catastrófico. Mas também seria catastrófico passar a idéia de que os veículos de imprensa são manipuláveis por criminosos. Eles são manipuláveis, sim. Mas não num grau que contamine todo o seu trabalho jornalístico.
Em tempo: usa-se aqui a palavra criminoso para designar toda e qualquer pessoa que fere a lei. Seja caixa dois, propina, estelionato, falsidade ideológica, sonegação, furto, roubo, latrocínio, seqüestro, etc. Existe uma faixa em que todos os delinqüentes convivem. Os traficantes e os consumidores. Os doadores e os beneficiários de dinheiros escusos. E assim por diante.
Repito o que escrevi em artigo publicado pelo Diário de S. Paulo em novembro de 2003: "Existe uma vastíssima zona cinzenta em que indivíduos das classes de renda alta e média e grupos do submundo se cruzam o tempo todo. É onde se acham serviços de contrabandistas, ´piratas´, doleiros, prostitutas, traficantes de drogas ilegais, policiais, juízes e outras autoridades subordináveis. E onde empresas que já escorregaram para a informalidade dão mais uma volta no parafuso e compram matéria-prima ou mercadoria roubada. Sem falar na extensão da lavagem de dinheiro, capítulo obscuro e preocupante".
Hoje, seria indispensável acrescentar uma menção a relações espúrias entre fornecedores e o Estado. Em todos os poderes e escalões da República.
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