Longe das paixões e dos dossiês, uma excelente análise sobre a reta final das eleições está no Estadão de hoje, assinada por Fátima Pacheco Jordão. A íntegra do texto está abaixo:
Segundo turno, tão longe e tão perto
As chances de ocorrer um segundo turno ainda estão em perspectiva, mas são menores hoje do que há quatro semanas atrás, no início da propaganda de rádio e TV. Não porque os números, neste período, tenham melhorado para Lula, ou piorado para Alckmin. Ao contrário, houve até pequenos deslocamentos, que mostram o fôlego do candidato tucano, que passou de 26% dos votos válidos, no início de agosto, para 32%, enquanto Lula oscilou de 57% para 55% . Até a propaganda tucana foi percebida pelos eleitores como a melhor, como mostrou a pesquisa CNI-Ibope, publicada na última sexta-feira.
No entanto, as mudanças favoráveis ao tucano foram mais lentas do que o processo de consolidação de Lula, que está com 60% dos votos válidos, entre eleitores que declaram voto sem ajuda de lista de candidatos. Além do mais, cresceu onde parecia impossível, no Nordeste. Segundo o Ibope, em agosto Lula tinha 75% dos votos válidos na sua região de origem, em setembro chega a 78% (voto estimulado).
Um fator importante nessa arquitetura de Lula foi a construção de uma percepção positiva do seu desempenho de governo junto ao eleitorado. Hoje as pesquisas mostram como foi eficaz a estratégia do candidato de não se desvincular do governo. A superposição de papéis propiciou a formatação da agenda de presidente em moldes de campanha de um candidato. Nem a legislação, nem a vigilância da mídia conseguiram contrapor a astúcia dessa estratégia. Em junho os indicadores de avaliação positiva de governo superaram o patamar de 40%. Na propaganda de TV, a partir de 15 de agosto, o discurso de Lula foi o de enfatizar, para o eleitorado, feitos de seu governo e que estes estavam em sintonia com as demandas, sobretudo as dos mais pobres.
Os números da pesquisa CNI-Ibope são claros e contundentes. Entre junho e setembro, cresce de 34% para 49% a percepção de que o governo Lula vem obtendo melhores resultados no combate à fome e à pobreza. Da mesma maneira cai de 41% para 21% a crítica sobre ações governamentais para reduzir o desemprego. Os alvos foram acertados com precisão e sintonia fina.
As condições de qualidade de vida dos mais pobres certamente não melhoram nessas proporções, como também, as taxas de desemprego. Mudou para melhor, isto sim, acesso a bens de consumo, através de estratégias de crédito e de barateamento de componentes da cesta básica. Não é pouco, sobretudo para os mais pobres. Mas essa melhora não ocorreu nestes poucos meses.
Além do mais, a pesquisa CNI-Ibope aponta que o atributo 'honestidade' é ainda o mais demandado (57%) para o próximo presidente. Característica que Lula não tem como incorporar integralmente, a não ser pela a deliberada omissão da campanha tucana ou cálculo de parte do eleitorado, na linha do 'rouba, mas faz um pouco para os mais pobres' ou ainda: 'todos os políticos roubam'.
Essa postura é um dos cabos de sustentação da possível vitória de Lula no primeiro turno. Mas, por incômodo ou por inconsistência (a grande maioria quer um presidente honesto, mais do qualquer outra característica) o cabo pode se tornar apenas um fio de apoio, que esticado, acabe por mexer com as probabilidades das pesquisas publicadas até o momento.
Aliás, a candidatura Lula não está delineada pela divisória entre ricos e pobres de maneira uniforme em todo o Brasil. No Nordeste, lendo-se as pesquisas por Estado (Bahia, Ceará e Pernambuco), 60% a 70% dos eleitores com escolaridade média ou superior votam em Lula, assim como os que têm apenas educação fundamental, mais pobres. Já em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, por exemplo, o eleitorado com ensino básico (e portanto de mais baixa renda) tende a levar a eleição para segundo turno. Há mais complexidade neste final de campanha do que os números e os fatos aparentam.
Em tempo, a pesquisa CNI-Ibope mostra que a definição de segundo turno tem um tamanho. Mantidos 9% de indecisos, votos nulos e em branco, os candidatos de oposição têm de tirar de Lula 5 pontos porcentuais. Lula precisaria recuar de 50% para 45% de intenção de voto estimulado e os candidatos de oposição, que na pesquisa CNI Ibope têm 41%, subiriam para 46%. Parece fácil, mas em duas semanas, não é. Só não é impossível.
Segundo turno, tão longe e tão perto
As chances de ocorrer um segundo turno ainda estão em perspectiva, mas são menores hoje do que há quatro semanas atrás, no início da propaganda de rádio e TV. Não porque os números, neste período, tenham melhorado para Lula, ou piorado para Alckmin. Ao contrário, houve até pequenos deslocamentos, que mostram o fôlego do candidato tucano, que passou de 26% dos votos válidos, no início de agosto, para 32%, enquanto Lula oscilou de 57% para 55% . Até a propaganda tucana foi percebida pelos eleitores como a melhor, como mostrou a pesquisa CNI-Ibope, publicada na última sexta-feira.
No entanto, as mudanças favoráveis ao tucano foram mais lentas do que o processo de consolidação de Lula, que está com 60% dos votos válidos, entre eleitores que declaram voto sem ajuda de lista de candidatos. Além do mais, cresceu onde parecia impossível, no Nordeste. Segundo o Ibope, em agosto Lula tinha 75% dos votos válidos na sua região de origem, em setembro chega a 78% (voto estimulado).
Um fator importante nessa arquitetura de Lula foi a construção de uma percepção positiva do seu desempenho de governo junto ao eleitorado. Hoje as pesquisas mostram como foi eficaz a estratégia do candidato de não se desvincular do governo. A superposição de papéis propiciou a formatação da agenda de presidente em moldes de campanha de um candidato. Nem a legislação, nem a vigilância da mídia conseguiram contrapor a astúcia dessa estratégia. Em junho os indicadores de avaliação positiva de governo superaram o patamar de 40%. Na propaganda de TV, a partir de 15 de agosto, o discurso de Lula foi o de enfatizar, para o eleitorado, feitos de seu governo e que estes estavam em sintonia com as demandas, sobretudo as dos mais pobres.
Os números da pesquisa CNI-Ibope são claros e contundentes. Entre junho e setembro, cresce de 34% para 49% a percepção de que o governo Lula vem obtendo melhores resultados no combate à fome e à pobreza. Da mesma maneira cai de 41% para 21% a crítica sobre ações governamentais para reduzir o desemprego. Os alvos foram acertados com precisão e sintonia fina.
As condições de qualidade de vida dos mais pobres certamente não melhoram nessas proporções, como também, as taxas de desemprego. Mudou para melhor, isto sim, acesso a bens de consumo, através de estratégias de crédito e de barateamento de componentes da cesta básica. Não é pouco, sobretudo para os mais pobres. Mas essa melhora não ocorreu nestes poucos meses.
Além do mais, a pesquisa CNI-Ibope aponta que o atributo 'honestidade' é ainda o mais demandado (57%) para o próximo presidente. Característica que Lula não tem como incorporar integralmente, a não ser pela a deliberada omissão da campanha tucana ou cálculo de parte do eleitorado, na linha do 'rouba, mas faz um pouco para os mais pobres' ou ainda: 'todos os políticos roubam'.
Essa postura é um dos cabos de sustentação da possível vitória de Lula no primeiro turno. Mas, por incômodo ou por inconsistência (a grande maioria quer um presidente honesto, mais do qualquer outra característica) o cabo pode se tornar apenas um fio de apoio, que esticado, acabe por mexer com as probabilidades das pesquisas publicadas até o momento.
Aliás, a candidatura Lula não está delineada pela divisória entre ricos e pobres de maneira uniforme em todo o Brasil. No Nordeste, lendo-se as pesquisas por Estado (Bahia, Ceará e Pernambuco), 60% a 70% dos eleitores com escolaridade média ou superior votam em Lula, assim como os que têm apenas educação fundamental, mais pobres. Já em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, por exemplo, o eleitorado com ensino básico (e portanto de mais baixa renda) tende a levar a eleição para segundo turno. Há mais complexidade neste final de campanha do que os números e os fatos aparentam.
Em tempo, a pesquisa CNI-Ibope mostra que a definição de segundo turno tem um tamanho. Mantidos 9% de indecisos, votos nulos e em branco, os candidatos de oposição têm de tirar de Lula 5 pontos porcentuais. Lula precisaria recuar de 50% para 45% de intenção de voto estimulado e os candidatos de oposição, que na pesquisa CNI Ibope têm 41%, subiriam para 46%. Parece fácil, mas em duas semanas, não é. Só não é impossível.
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