Pular para o conteúdo principal

A hora e a vez da pancadaria

Estava demorando, mas começou. As inserções e o programa de televisão do PSDB estão cada vez mais agressivos, falando de corrupção e fazendo a mais autêntica propaganda negativa contra o presidente Lula. O marqueteiro de Alckmin, Luiz González, não queria muito partir para a ignorância tão cedo – o plano era apelar apenas se o jogo já tivesse realmente ido para o brejo –, mas a pressão dos aliados do candidato foi forte demais e ele teve de ceder. O maior problema é que Alckmin não cabe no figurino de um Carlos Lacerda, então a solução está sendo usar dublês (locutores ou atores) para bater forte no governo e no presidente.

Os marqueteiros vão medindo e acertando o tom dos programas por meio das pesquisas qualitativas, as chamadas qualis, no jargão das campanhas, mas o que vale mesmo são os levantamentos quantitativos feitos pelos grandes institutos de pesquisa. Se na próxima semana o presidente Lula cair nas pesquisas quantitativas, a pancadaria continua. Se não cair, a crise da campanha de Alckmin tende a se agravar e tornar generalizada a debandada dos aliados regionais.

É difícil prever o que vai acontecer, mas a lógica é que haja alguma queda de Lula. Se Alckmin vai subir com esta estratégia, já não é tão certo. Muitas vezes, quem bate ganha a antipatia do eleitor. Geraldo Alckmin já não é uma figura simpática e pode receber o carimbo de "candidato desesperado", se o marketing de Lula souber usar bem este mote. O grande problema dos tucanos é que Lula acumulou gordura eleitoral e mesmo com o discurso mais pesado de seus adversários, pode cair um pouco e garantir a vitória no primeiro turno. Para ganhar do presidente, era preciso uma campanha mais bem planejada e uma base política mais consistente. Ninguém é imbatível, mas a vantagem de Lula entre os mais pobres é realmente muito difícil de ser revertida por um candidato sem carisma e com um discurso de tecnocrata. Resta saber se a classe média vai se encantar com o jogo mais agressivo de Geraldo Alckmin.

Comentários

  1. Mas, Luiz, você não acha que o jogo já foi para o brejo?! Aliás, sabe quando eu acho que o jogo foi para o brejo? No momento em que Alckmim saiu no lugar do Serra. Conversei com muitos tucanos e os próprios já faziam essa avaliação, qual é a sua visão sobre isso?

    ResponderExcluir
  2. Acho que é mesmo muito difícil para o Alckmin virar o jogo, mas não impossível. Penso que com mais uma semana, será possível dizer se a eleição já terminou. Não acho que o PSDB tenha entrado para perder, como alguns tucanos gostam de dizer, porque o Alckmin se acha, sim, competitivo, mas sem dúvida o Serra era o candidato para tentar bater o Lula neste ano. Neste sentido, acho que o Lula começou a ganhar a eleição quando o Serra venceu a Marta. Porque se ele não fosse prefeito, não haveria razão para não ser o candidato, não teria aquela conversa de que "é melhor ficar na prefeitura" ou de que "pegaria mal" largar o cargo no meio do mandato...

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

Dica da semana: Nine Perfect Strangers, série

Joia no Prime traz drama perturbador que consagra Nicole Kidman  Dizer que o tempo não passou para Nicole Kidman seria tão leviano quanto irresponsável. E isso é bom. No charme (ainda fatal) de seus 54 anos, a australiana mostra que tem muita lenha para queimar e escancara o quanto as décadas de experiência lhe fizeram bem, principalmente para composição de personagens mais complexas e maduras. Nada de gatinhas vulneráveis. Ancorando a nova série Nine Perfect Strangers, disponível na Amazon Prime Video, a eterna suicide blonde de Hollywood – ok, vamos dividir o posto com Sharon Stone – empresta toda sua aura de diva para dar vida à mística Masha, uma espécie de guru dos novos tempos que desenvolveu uma técnica terapêutica polêmica, pouco acessível e para lá de exclusiva. Em um lúdico e misterioso retiro, a “Tranquillum House”, a exotérica propõe uma nova abordagem de tratamento para condições mentais e psicossociais manifestadas de diferentes formas em cada um dos nove estranhos, “...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...