Pular para o conteúdo principal

Um mico em loja de louça

Esta quarta-feira foi mais um dia de cão para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Depois de muitas reuniões, ele decidiu demitir o coordenador de sua campanha, Ricardo Berzoini, que é simplesmente o presidente do PT. Não deve ser fácil afastar alguém assim, ainda mais faltando pouco mais de uma semana para a eleição. A notícia mais importante do dia, no entanto, não foi esta. O candidato ao governo de São Paulo, Aloizio Mercadante, também mandou para casa o coordenador de comunicação da campanha do PT paulista, Hamilton Lacerda, que confessou ter negociado com o revista IstoÉ a publicação da entrevista com Luiz Antonio e Darci Vedoin. É o primeiro assessor de Mercadante diretamente envolvido no caso.

Na verdade, para quem conhece melhor os bastidores petistas, já são três os envolvidos no escândalo que têm relação estreita com Mercadante: além do próprio Lacerda, Expedito Afonso Veloso e Osvaldo Bargas são velhos conhecidos do senador. Bargas também é muito próximo de Lula, até porque é casado com a secretária particular do presidente.

Ainda há muito o que descobrir sobre o episódio da suposta tentativa de compra do dossiê – sim, suposta tentativa, porque até agora não há prova material de que existiu um dossiê, o que realmente existe é a publicação de uma entrevista na revista IstoÉ e quase R$ 2 milhões em cash apreendidos com dois militantes petistas –, mas uma boa hipótese de trabalho é que a trapalhada tenha sido arquitetada a partir de São Paulo, com o conhecimento de gente muito próxima do presidente Lula, mas não do presidente. É realmente muito difícil acreditar que ele autorizaria uma ação de tamanho risco às vésperas da eleição, em vias de se consagrar nas urnas já no primeiro turno.

Fazendo a velha pergunta – cui prodest? (a quem aproveita?) –, e considerando a hipótese de que a operação tivesse sido bem sucedida, só há uma resposta possível: Aloizio Mercadante. Ele, bem mais do que Lula, teria interesse em desmoralizar o tucano José Serra e forçar um segundo turno em São Paulo. Não se trata aqui acusar o próprio Aloizio de nada – ele mesmo tem refutado com veemência que tenha tomado parte na coisa, mas é bastante plausível que a idéia e a execução da trapalhada tenha partido de gente ligada à campanha do PT paulista. Que o candidato não tivesse conhecimento da jogada é apenas um detalhe, revelador, aliás, do que se poderia esperar caso ele se tornasse governador de São Paulo.

Comentários

  1. É inacreditável que o PT tenha se metido nesta história. Não dá mais para aceitar essa assessoria rasa. Alguns dirigentes que ainda tem credibilidade deveriam pensar sobre isso.
    Pessoalmente, acredito que o Lula não tenha nada que ver com isso. Para ele é péssimo. Deve mesmo ser coisa do PT paulista.....
    Bem, ponto para o Plinião!!!!!!!!!
    Mas queria chamar atenção para outra coisa: a mídia só fala desse babado (tirando a Cicarelli de lado, é claro). As supostas denúncias ninguém está comentando. Por que?
    (ps: o blog não fará comentários sobre a Cicarelli? Bota uma foto ai que seu blog vai bombar!!!!!)

    ResponderExcluir
  2. Que coisa, né? Lula nunca sabe de nada. Que está fazendo no planalto, então? Concordo com a coluna da Eliane Cantanhede, na Folha de ontem (20/9). Será que o blogueiro leu? Essa é a onda do PT fazer as coisas: preserva o Lulão que alguém vai assumir a culpa. Ontem, Eliane pagou a aposta. Hoje, Berzoini tá fora. É isso aí!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

Um pai

Bruno Covas, prefeito de São Paulo, morreu vivendo. Morreu criando novas lembranças. Morreu não deixando o câncer levar a sua vontade de resistir.  Mesmo em estado grave, mesmo em tratamento oncológico, juntou todas as suas forças para assistir ao jogo do seu time Santos, na final da Libertadores, no Maracanã, ao lado do filho.  Foi aquela loucura por carinho a alguém, superando o desgaste da viagem e o suor frio dos remédios.  Na época, ele acabou criticado nas redes sociais por ter se exposto. Afinal, o que é o futebol perto da morte?  Nada, mas não era somente futebol, mas o amor ao seu adolescente Tomás, de 15 anos, cultivado pela torcida em comum. Não vibravam unicamente pelos jogadores, e sim pela amizade invencível entre eles, escreve Fabrício Carpinejar em texto publicado nas redes sociais. Linda homenagem, vale muito a leitura, continua a seguir.  Nos noventa minutos, Bruno Covas defendia o seu legado, a sua memória antes do adeus definitivo, para que s...

Dica da Semana: Tarso de Castro, 75k de músculos e fúria, livro

Tom Cardoso faz justiça a um grande jornalista  Se vivo estivesse, o gaúcho Tarso de Castro certamente estaria indignado com o que se passa no Brasil e no mundo. Irreverente, gênio, mulherengo, brizolista entusiasmado e sobretudo um libertário, Tarso não suportaria esses tempos de ascensão de valores conservadores. O colunista que assina esta dica decidiu ser jornalista muito cedo, aos 12 anos de idade, justamente pela admiração que nutria por Tarso, então colunista da Folha de S. Paulo. Lia diariamente tudo que ele escrevia, nem sempre entendia algumas tiradas e ironias, mas acompanhou a trajetória até sua morte precoce, em 1991, aos 49 anos, de cirrose hepática, decorrente, claro, do alcoolismo que nunca admitiu tratar. O livro de Tom Cardoso recupera este personagem fundamental na história do jornalismo brasileiro, senão pela obra completa, mas pelo fato de ter fundado, em 1969, o jornal Pasquim, que veio a se transformar no baluarte da resistência à ditadura militar no perío...

Dica da semana: Nine Perfect Strangers, série

Joia no Prime traz drama perturbador que consagra Nicole Kidman  Dizer que o tempo não passou para Nicole Kidman seria tão leviano quanto irresponsável. E isso é bom. No charme (ainda fatal) de seus 54 anos, a australiana mostra que tem muita lenha para queimar e escancara o quanto as décadas de experiência lhe fizeram bem, principalmente para composição de personagens mais complexas e maduras. Nada de gatinhas vulneráveis. Ancorando a nova série Nine Perfect Strangers, disponível na Amazon Prime Video, a eterna suicide blonde de Hollywood – ok, vamos dividir o posto com Sharon Stone – empresta toda sua aura de diva para dar vida à mística Masha, uma espécie de guru dos novos tempos que desenvolveu uma técnica terapêutica polêmica, pouco acessível e para lá de exclusiva. Em um lúdico e misterioso retiro, a “Tranquillum House”, a exotérica propõe uma nova abordagem de tratamento para condições mentais e psicossociais manifestadas de diferentes formas em cada um dos nove estranhos, “...