Pular para o conteúdo principal

Crise aérea é o batismo de Lula no Poder

É verdade que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já superou crises graves no seu primeiro mandato, mas também é certo que se tratavam de problemas políticos – casos Valdomiro, mensalão e Francenildo –, e política é o ponto forte do presidente. Lula, talvez melhor do que ninguém neste país, como ele mesmo poderia dizer, sabe agir de forma a minimizar os danos à sua imagem e maximizar a postura de líder compreensivo e magnânimo, que pega muito bem na população, especialmente entre os mais pobres.

A crise aérea em curso, porém, deve requerer do presidente algo mais do que o faro de sindicalista treinado para negociações. O problema que Lula está enfrentando exige, além, obviamente, do senso político para estabelecer uma boa negociação, uma postura de comandante supremo da Nação. Para ser mais claro, exige que o presidente saiba mandar – nos ministros militares, por um lado, e nos sargentos que paralisaram os céus do país na sexta-feira. No fundo, o atual episódio é uma espécie de batismo de fogo do presidente Lula no Poder. Se ele se sair bem, terá marcado muitos pontos em uma trajetória que pode até acabar em um terceiro mandato, mais provavelmente em 2014, mas, eventualmente, já em 2010, se o povão assim o exigir. Se fracassar, terá sepultado este mesmo caminho e poderá complicar bastante o planejamento para este mandato em curso.

Apesar da gritaria dos veículos conservadores, porém, é preciso ponderar que do ponto de vista de prejuízos à imagem do presidente Lula esta crise é bem pouco devastadora, porque no Brasil a parcela da população que toma avião é quase ínfima, embora bastante influente. No povão, há até um certo escárnio em relação aos problemas dos que "sofrem" nos aeroportos. Como disse um taxista dia desses, é bom ver ricos pegando fila de vez em quando...

Tudo somado, porém, não deixa de ser o primeiro teste mais complicado para o presidente Lula fora da esfera política. É preciso garantir a segurança de quem voa pelos céus do Brasil e ao mesmo tempo não é possível ceder às chantagens de uma categoria que não tem mais do que 3 mil trabalhadores...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...

Dúvida atroz

A difícil situação em que se encontra hoje o presidente da República, com 51% de avaliação negativa do governo, 54% favoráveis ao impeachment e rejeição eleitoral batendo na casa dos 60%, anima e ao mesmo tempo impõe um dilema aos que articulam candidaturas ditas de centro: bater em quem desde já, Lula ou Bolsonaro?  Há quem já tenha a resposta, como Ciro Gomes (PDT). Há também os que concordam com ele e vejam o ex-presidente como alvo preferencial. Mas há quem prefira investir prioritariamente no derretimento do atual, a ponto de tornar a hipótese de uma desistência — hoje impensável, mas compatível com o apreço presidencial pelo teatro da conturbação — em algo factível. Ao que tudo indica, só o tempo será capaz de construir um consenso. Se for possível chegar a ele, claro. Por ora, cada qual vai seguindo a sua trilha. Os dois personagens posicionados na linha de tiro devido à condição de preferidos nas pesquisas não escondem o desejo de se enfrentar sem os empecilhos de terceira,...