Pular para o conteúdo principal

Fiocca, o herói Folha

O novo ombudsman da Folha de S. Paulo, Mário Magalhães, começou bem o seu trabalho. Em sua Crítica Interna desta segunda-feira, ele faz vários comentários inteligentes e questiona a manchete da edição de domingo do jornal, conforme o texto que vai a seguir:

A manchete "Entidade alertou Lula de falhas no controle aéreo" soa mal aos ouvidos ("alertou... de", em vez de "sobre"), mas esse não é o seu maior problema jornalístico. Combinada com a linha-fina, ela dá a entender que o relatório feito a partir de vistoria no Cindacta-1 foi encaminhado ao presidente da República. Não é o que diz a (ótima) reportagem. Como descreve a chamada da primeira página, a Ifatca [Federação Internacional das Associações dos Controladores de Tráfego Aéreo] enviou a Lula uma proposta de consultoria _não o relatório sobre as falhas no controle aéreo.

O comentário mais saboroso da Crítica Interna, disponível na íntegra no site do Ombudsman, porém, vem um pouco depois. A reprimenda de Magalhães, como se pode ver abaixo, é legítima, mas alguém podia ter lembrado o Ombudsman que o companheiro Demian Fiocca é prata da casa e foi editorialista do jornal entre 1994 e 1998.

Jornalismo acrítico

Parece contraditório com o jornalismo crítico preconizado pela Folha o texto "Fiocca anuncia números recordes no dia de sua despedida do BNDES" (pág. B2).

Com tom mais promocional que jornalístico, a nota diz que Demian Fiocca deverá "fechar seu período" à frente do BNDES com "chave de ouro". Que os números "impressionam". Os valores "espantam". "Todos os indicadores são extremamente favoráveis." "Números recordes." Fiocca "vai deixar claro que parte desses recordes se deve também à gestão do banco". "O sucessor de Fiocca irá ter uma vida bem facilitada." "Trata-se do melhor momento da história do banco."

É possível que o trabalho de Demian Fiocca tenha sido mesmo excelente.Mas a Folha, em nome da independência editorial, deveria ser mais sóbria ao tratar do desempenho de gestores públicos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe