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Ainda sobre a briga Jabor vs. Chinaglia

Vale a pena ler o texto abaixo, do jornalista Luiz Weis, na íntegra. Originalmente publicado no blog Verbo Solto, o comentário do experiente jornalista avança em relação a alguns argumentos utilizados pelo autor destas Entrelinhas, em nota anterior, sobre a polêmica provocada pelo processo que o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), promete abrir contra o jornalista-cineasta Arnaldo Jabor . Weis é extremamente feliz em qualificar o trabalho de Jabor, e Diogo Mainardi, entre outros, como "jornalismo de insulto". É exatamente disto que se trata e os insultados estão corretíssimos em recorrer ao judiciário em busca da reparação, ainda que a crítica faça sentido ou seja meritória, como é o caso da indignação de Jabor com o desperdício de recursos públicos no legislativo federal. Em outras palavras, a crítica pode até ser justa, mas a forma imprópria transforma o que Jabor e Mainardi devem qualificar de "contundência" em um verdadeiro tiro no pé, como brilhantemente aponta Weis. A seguir, o texto do jornalista:

O nefasto jornalismo de insulto
Postado por Luiz Weis em 27/4/2007 às 10:18:58 AM

“No momento em que o Conselho de Ética anistiava deputados mensaleiros que foram reeleitos, dirigentes da Câmara e líderes partidários decidiram adotar duas medidas para se defenderem de críticas e cobranças: a votação de uma proposta de emenda constitucional (PEC) criando uma espécie de Advocacia Geral do Legislativo; e a abertura de um processo contra o comentarista Arnaldo Jabor, por críticas que fez à impunidade parlamentar.”

A informação é da repórter Maria Lima, do Globo. Nada s respeito, estranhamente, nem na Folha, nem no Estado.

Começando pelo fim. Em comentário na rádio CBN, Jabor disse:

“Todos sabemos que os nosso queridos deputados têm direito de receber de volta o dinheiro gasto com gasolina, seja indo para seus redutos eleitorais ou indo para o hotel com suas amantes ou seus amantes. A Câmara, ou melhor, você e eu, pagamos o custo, desde que eles levem notas fiscais para comprovar os gastos da gasosa. Será que o senhor Arlindo Chinaglia não vê isso ou só continua pensando no bem do PT? Quando é que vão prender esses canalhas? Ah, esqueci, eles têm imunidade, têm foro privilegiado, é isso aí amigos otários, otários como eu.”

O Brasil é um país livre. Jabor é livre para dizer o que pensa. O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, é livre para processá-lo por ofensa à honra. E eu sou livre para dizer que o processo vem em boa hora, assim como o que o agora ministro da Comunicação do governo, Franklin Martins, moveu contra o colunista Diego Mainardi, da Veja.

O que está em jogo, no caso do processo contra Jabor, não é o mérito de suas críticas ao mais do que reprovável comportamento dos deputados, a lambança que eles fazem com o meu, o seu, o nosso dinheiro. É a brutalidade mainardiana, ou reinaldo-azevediana, do protesto.

Situações de impunidade parlamentar estão na imprensa dia sim, o outro também. Nem por isso deveria ficar fora do alcance da Justiça a transgressão dos padrões elementares de civilidade, contida, no caso, na expressão “esses canalhas”.

Indignação e palavrão rimam, mas não são sinônimos. E deve existir, sim, nas sociedades que se pretendam decentes, uma coisa chamada decoro jornalístico.

Democracia e liberdade de expressão servem para a denúncia substantiva dos malfeitos dos poderosos, onde quer que estejam, sejam eles quais forem. A razão de ser da denúncia é informar a sociedade e os órgãos de proteção dos interesses difusos, quando couber.

Já a baixaria do insulto de porta de botequim e o exercício do ódio podem fazer bem ao ego dos seus autores, mas degradam a liberdade de que todos devemos usufruir. Não melhoram a democracia - e, de quebra, não ajudam em nada a mudar o muito que precisa mudar no comportamento dos donos do poder protegidos por seus privilégios.

De resto, assediados, o que fazem suas excelências, os parlamentares federais? Resolvem usar dinheiro público para criar uma advocacia própria para ele, já não bastasse o maior escritório do gênero no país que também os atende, a Advocacia-Geral da União.

O projeto de emenda constitucional para isso não é novo. Foi aprovado no Senado em 2003. O que se decidiu ontem na Câmara, informa o Globo, foi acelerar a sua tramitação.

Mas não custa registrar, primeiro, que a iniciativa partiu do então senador Ney Suassuna, acusado no ano passado de fazer parte da máfia dos sanguessugas. [Ele não se reelegeu].

E, segundo, que a decisão da Câmara coincidiu não só com a anistia do Conselho de Ética a três protagonistas de escândalos na legislatura passada – como apontou a repórter Maria Lima – mas ainda com a apresentação dos projetos de decretos legislativos que aumentam os salários dos legisladores, ministros e presidente da República em 29,81% e instituem um gatilho salarial automático, vinculado aos aumentos do funcionalismo federal.

Sim, dá vontade de cobri-los todos de impropérios. Mas, quando se é jornalista, ou, não sendo, quando se tem acesso à mídia para informar e formar a opinião pública, esse tipo de reação é nefasto: um tiro no pé.

Como lembra, mais do que oportunamente a matéria do Globo, “ano passado, o diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) perdeu o emprego por causa de um texto em que chamava a CPI dos Correios de picadeiro e seus integrantes de bestas-feras.”

Comentários

  1. Tipos como Digo Mainardi, Reinaldo Azevedo e Arnaldo Jabor, que não fazem jornalismo, mas propaganda anti-governo deveriam ser repudiados por todos os brasileiros.
    São pessoas que nada constroem para o pais, pois vivem com eterno rancor contra o governo e Lula. Fazem todo tipo de ataques de forma despudorada e rancorosa.
    Acredito que ainda não aceitaram a derrota do seu candidato à presidência.
    Espero que eles se acostumem, pois dificilmente verão um candidato da direita no poder.

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  2. Por falar em Jabor me lembrei de Reinaldo Azevedo aquele da revista PRIMEIRA LEITURA que recebeu dinheiro da Nossa Caixa para atacar o governo, Lula e o PT. A revista foi a falência o tio Reinaldo como é chamado pelo pessoal da direita, pois ele cumpre o papel de porta voz da esculhabação e da mentira, muito a gosto desta gente, não pagou o que devia.
    A Nossa Caixa levou um calote, que deverá aparecer na CPI que está sendo instalada.

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