Pular para o conteúdo principal

Jornais escondem os bons
números sobre emprego

Os principais jornais brasileiros não deram muita bola para os excelentes números da evolução do emprego no País, divulgados ontem em duas pesquisas distintas. Os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados) reveleram que em março foram criados 146 mil novos empregos com carteira assinada, resultado foi 91,15% superior ao verificado no mesmo mês de 2006 e recorde histórico desde 1992, quando a pesquisa começou a ser feita. Também a pesquisa do Seade/Dieese, que apontou um aumento no desemprego nas regiões metropolitantas em março é positiva, porque trata-se da menor taxa de desemprego para o mês de março em 10 anos. O desemprego normalmente aumenta nos três primeiros meses do ano porque é a época em que muita gente entra no mercado de trabalho para procurar emprego, provocando um efeito estatístico nas taxas. O correto, portanto, é comparar o nível com o de anos passados, e não com os meses anteriores.

Na Folha de S. Paulo, o assunto sequer rendeu chamada na primeira página e ficou escondido no meio do caderno Dinheiro. A chamada para a pesquisa do Dieese é um primor de manipulação: "Desemprego em S. Paulo tem taxa recorde no mês". Quem não atentar para o texto da nota ("A taxa de desemprego na região metropolitana de São Paulo subiu para 15,9% em março, mas o patamar é o menor para o mês em dez anos, divulgaram ontem a Fundação Seade e o Dieese.") vai achar que o recorde é negativo - o maior desemprego para mês de março...

No Estadão, o assunto rendeu chamada de capa, mas a retranca sobre os dados da Fundação Seade simplesmente não explicam que o índice foi o mais baixo em dez anos nem que o aumento em março se deve à sazonalidade. O Globo deu uma matéria honesta, em abre de página, mas também preferiu não dar o assunto na primeira página.

Os jornais podem se preparar: segundo o professor Cláudio De Decca revelou ao DCI, o atual aumento no emprego está se dando com uma taxa de crescimento do PIB de algo em torno de 3,3% a 3,5% ao ano. Ao longo de 2007, esta taxa anualizada deve subir até chegar aos 4% ou 4,5% previstos para o ano todo e o mercado de trabalho deverá refletir o crescimento. Mais recordes serão quebrados em breve. Lula, portanto, terá o que comemorar. Resta saber se os jornais terão coragem de dar o merecido destaque à recuperação do emprego no País.

Comentários

  1. Luiz,
    como se pode explicar que dois jornais de uma mesma empresa (FOLHA) podem ter linhas editoriais tão diferentes?

    Cito o Valor Econômico e FSP.

    ResponderExcluir
  2. É simples, Alexandre: o Valor é destinado para um público que já tem a "cabeça feita" (empresários, industriais, economistas, etc). Fica até ridículo fazer proselitismo com essa turma. Assim, no Valor o debate costuma ser mais "elevado", digamos assim, mas não sem viés. Repare como o Valor defende as instituições financeira. Sempre há viés, apenas é focado no público a quem o jornal se destina.
    abs. e obrigado pela audiência

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue...

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...