Pular para o conteúdo principal

A malandragem da Folha e os gastos de Lula

A manchete da Folha de S. Paulo desta terça-feira é bem malandrinha, para dizer o mínimo: "Lula é recordista em publicidade". Quando o pobre leitor, já horrorizado com o presidente perdulário, que teria gasto mais de R$ 1 bilhão para a sua própria promoção no ano passado, lê a reportagem (e não é todo mundo que passa da leitura dos títulos), obtém algumas informações esclarecedoras: 75% dos gastos de publicidade em 2006 não são propriamente do governo federal, mas das empresas estatais, que entre outras coisas, têm de concorrer no mercado (Banco do Brasil, Petrobrás, Caixa Econômica Federal e tantas outras empresas). O bravo matutino da Barão de Limeira poderia ter informado, apenas para dar uma boa base de comparação, quanto gastam Bradesco e Itaú com publicidade por ano. É com eles, por exemplo, que o Banco do Brasil tem de competir...

A primeira constatação, portanto, é a de que Lula não gastou R$ 1 bilhão em publicidade, mas apenas 25% deste total. Seria muito mais interessante comparar as gestões FHC e Lula tomando como base os gastos apenas do governo federal propriamente dito (administração direta), excluindo as estatais. A razão é simples: sob Lula, as estatais foram responsáveis por um percentual maior da publicidade total do que sob Fernando Henrique Cardoso. Em outras palavras, o tucano Cardoso gastava muito mais em "auto-promoção" do que Lula. Mas isto, que pena, a Folha não explica.

Levando em consideração, portanto, o aumento da parcela das estatais no bolo total, o jornal não estaria errado se levasse para a sua manchete o título: "Gasto com publicidade do governo cai na gestão Lula". Em termos proporcionais, é exatamente isto que ocorreu, basta usar uma calculadora e os dados divulgados pela própria Folha:

*** sob FHC, o governo federal, excluindo estatais, gastou R$ 354 milhões em 98; R$ 251 mi em 1999; R$ 328 mi em 2000; R$ 339 mi em 2001; e R$ 281 mi em 2002.

*** Lula assumiu e os gastos caíram para R$ 172 mi em 2003, subindo para R$ 260 mi em 2004; para R$ 272 mi em 2005 e caindo para R$ 240 mi em 2006!

De duas, uma: ou o pessoal da Folha não sabe fazer conta, ou está de má vontade com o presidente Lula: você decide.

Comentários

  1. meu comentário é:
    sem comentários ...

    A Falha virou um panfleto ridículo.

    ResponderExcluir
  2. Ao ler a manchete na Folha-online fique sem palavras,. Lendo o texto vejo que tudo foi montagem da Folha.
    Esta perdendo credibilidade.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe