Pular para o conteúdo principal

Ainda sobre a pesquisa CNT/Sensus

Não dá para não reproduzir o comentário do jornalista Luiz Carlos Azenha sobre a manipulação da mídia em torno da pesquisa CNT/Sensus. O texto a seguir foi publicado originalmente no site Vi o Mundo, que, por sinal, este blog recomenda.

Pesquisa CNT/Sensus: 88,8% dos brasileiros não confiam na mídia

Quando uma nova pesquisa é divulgada, cada um escolhe os números que quer destacar, de acordo com suas conveniências políticas.

Apesar da aprovação pessoal do presidente Lula ter crescido, assim como a aprovação do governo dele, assistimos hoje a um festival de manchetes NEGATIVAS baseadas nos mesmos números.

O Jornal do Commercio, de Pernambuco, em sua edição online, destacou:

"Governo é responsável pela crise aérea, aponta CNT/Sensus"

Diz o texto:

"BRASÍLIA - O governo federal foi apontado como o principal responsável pela crise aérea no País.

Pesquisa CNT-Sensus mostra essa constatação para 21,2% dos entrevistados.

Tomando por base apenas os entrevistados que tiveram contato com o assunto (acompanham ou ouviram falar), esse número sobe para 25,8%.

Os controladores de vôo e as companhias aéreas foram apontados como os responsáveis pela crise por 12,4% e 9%, respectivamente, do total de entrevistados.

A Aeronáutica e a Infraero aparecem logo depois, com 8,1% e 7,6%, respectivamente.

Entre os entrevistados que tiveram contato com o assunto, os controladores ficaram em segundo com 15,1%. As companhias aéreas aparecem em terceiro, com 10,9%, a Aeronáutica com 9,9% e a Infraero com 9,3%."

O título é enganoso.

Na verdade, do total de entrevistados, só 21,2% culparam o governo Lula.

Ou, levando em conta o total de entrevistados: 78,8% dos brasileiros não atribuem a crise aérea ao governo federal.

Vejam o que destacou o jornal A Tarde, de Salvador, em sua edição online:

CNT/Sensus: novo índice aponta piora nos serviços sociais

Agencia Estado

A pesquisa CNT/Sensus, divulgada hoje, mostrou que, apesar da melhora na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do governo, houve uma percepção de piora nos serviços sociais (emprego, renda, educação, saúde e segurança), nos últimos seis meses.

Essa piora, segundo o diretor da Sensus Ricardo Guedes, é medida pelo Índice de Avaliação, um novo indicador criado pela Sensus e divulgado hoje.

A pesquisa mostra que esse índice ficou em 42,48 pontos, em uma escala de 1 (um) a 100 (cem) pontos.

Nessa escala, valores menores do que 50 indicam piora na avaliação, e maiores do que 50 indicam avaliação positiva.

Outro indicador novo divulgado hoje foi o Índice de Expectativa, que ficou em 66,58 pontos, na mesma escala, mostrando uma expectativa favorável em relação aos serviços sociais.

"Os indicadores do cidadão mostram que existe uma avaliação relativamente negativa dos serviços sociais, mas há uma expectativa de melhora por parte da população", explicou Guedes.

A pesquisa CNT/Sensus mostrou também que, para 26,3% da população, a principal preocupação dos brasileiros continua sendo com emprego e renda.

Mas o porcentual caiu significativamente em relação a abril de 2006, quando igual pergunta foi feita, e 36,6% dos entrevistados se declararam preocupados com emprego e renda.

No levantamento divulgado hoje, a saúde pública aparece em segundo lugar, com 25,7%, ante 24,9% no anterior. Segurança pública vem em terceiro lugar, com 18,2%, ante 14,4%.

A educação pública vem em seguida, com 16,7%, ante 15,3% na pesquisa anterior".

Ué, cadê os índices de aprovação de Lula e do governo?

Sumiram!

Quando a pesquisa não dá o que ELES querem, os números simplesmente somem.

A aprovação pessoal de Lula, de 63,7%, é a mais alta desde abril de 2005.

"Metade da população aprova o governo", diz Veja.

A revista também poderia ter destacado: "Aumenta a aprovação a Lula apesar da campanha da mídia contra o presidente".

Ou, se somasse os que avaliam o governo como ótimo, bom ou regular, poderia ter escrito:

"Pesquisa revela que 83,8% acham o governo Lula ótimo, bom ou regular".

Quem sabe: "Só 16,2% acham governo Lula ruim ou péssimo".

O Globo Online disse:

"CNT Sensus: 81,5% apóiam redução da maioridade. Para 90%, violência aumentou".

Também poderia ter dito: "Cai apoio à redução da maioridade penal".

Sim, porque é isso o que revela a pesquisa.

O apoio à redução da maioridade penal CAIU de 88,1% em dezembro de 2003 para 81,5% em abril de 2007.

E isso DEPOIS do brutal assassinato do menino João Hélio.

Mas meu dado preferido da pesquisa foi sobre as instituições em que os brasileiros mais confiam: igreja, 37,2%; Forças Armadas, 16,5%; mídia, 11,2%; Justiça, 9,5%; governo federal, 5%; polícia, 3,4% e Congresso, 1,1%.

Ou seja, dá para extrair daí duas belas manchetes:

"62,8% dos entrevistados não confiam em nenhuma das principais instituições do Brasil".

Ou a minha preferida: "Quase noventa por cento dos brasileiros não confiam na mídia"

Melhor ainda: "Só 11,2% confiam na mídia golpista".

Leia aqui os resultados completos e tire suas próprias conclusões:

http://www.cnt.org.br/

Comentários

  1. É simplesmente impressionante como vem agindo a mídia no Brasil.
    No caso da recente pesquisa da CNT, só divulgaram os pontos negativos.
    O bom foi que demostrou que 89% da população não acredita na imprensa.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe