É esperada para breve a entrada do Departamento de Justiça dos EUA no confronto com o Vale do Silício, em defesa dos jornais e demais veículos noticiosos. Começou com o governo francês e depois o australiano, ambos demandando pagamento pelo uso das informações apuradas por jornalistas. E agora estaria quase pronta uma ação antitruste contra o Google, pela concentração das ferramentas de publicidade digital, escreve Nelson de Sá na Folha, em coluna publicada dia 4/7. Continua abaixo.
A Bloomberg, do magnata Michael Bloomberg, já anuncia como uma vitória na campanha de anos do também magnata Rupert Murdoch, que mantém contato direto com o secretário de Justiça de Donald Trump, William Barr.
Robert Thomson, que editou os títulos de mais prestígio de Murdoch, The Times e The Wall Street Journal, e hoje é o principal executivo do grupo, voltou à carga nesta semana: "O jornalismo ao redor do mundo é sustentável. Tem algo errado é com o ecossistema".
Mas a posição já é bastante conhecida. Do outro lado, o que a tecnologia pensa do jornalismo? Não nos posts controlados de Mark Zuckerberg, do Facebook, mas nas salas fechadas.
Com a ilustração acima, o site Motherboard, da Vice, levantou um pouco a cortina ao divulgar, na noite de quinta-feira (2), uma conversa de uma hora entre executivos de tecnologia na Clubhouse, uma nova rede social por áudio.
Ainda em testes e só para convidados, que não passariam de 1.500, a plataforma se tornou ideia fixa no Vale do Silício, "furor du jour", na descrição da Wired. No Brasil, é tratada como "o app exclusivo para ricos e famosos".
Foi lá que a "elite" de tecnologia dialogou à vontade, na quarta à noite, sobre "como os jornalistas têm poder demais para 'cancelar' e o que eles, titãs do Vale do Silício, podem fazer sobre isso", descreve o Motherboard, que obteve uma gravação.
O estopim, ao menos o mais imediato, teria sido uma ironia da repórter Taylor Lorenz, do New York Times, sobre a própria Clubhouse, dizendo ser um lugar onde "às vezes pessoas entediadas falam qualquer coisa que vem à cabeça".
Um dos comentários sobre ela, na conversa posterior na rede social: "Não se pode bater em alguém e sair dizendo: 'Ei, eu tenho ovário, você não pode revidar'". Outro que viralizou: "Por que a imprensa tem o direito de investigar empresas privadas? Deixe o mercado decidir".
Boa parte dos questionamentos a Lorenz e ao jornalismo, por personalidades como o investidor Balaji Srinivasan, se voltou à suposta busca de cliques com as reportagens críticas ao Vale do Silício —e à suposta fragilidade dos executivos, seus alvos.
Os diálogos abriram imediatamente um amplo conflito público entre imprensa e tecnologia, entre Costa Leste, onde estão sediadas as principais corporações americanas de mídia, e Oeste, onde fica o Vale do Silício.
Kara Swisher, jornalista de referência na área, hoje no NYT, criticou "a mentalidade de vítima de algumas das pessoas mais ricas e poderosas no mundo, que controlam tanto da sociedade".
Balaji Srinivasan, que já vinha mirando Lorenz desde antes, ofereceu agora uma recompensa para a melhor análise legal, que ajude a acionar jornalista que "grava secretamente uma conversa privada": mil bitcoins.
E outros mil BTC para quem criar o melhor meme. Desde quinta, como resultado, a repórter está sob assédio em mídia social, com criação de perfis supostamente paródicos, usando seu nome, e os memes.
Para Emily Bell, da Universidade Columbia, seriam os primeiros tiros na "guerra cultural" entre tecnologia e imprensa.
Nelson de Sá é jornalista, cobre mídia e política na Folha desde a eleição de 1989.
A Bloomberg, do magnata Michael Bloomberg, já anuncia como uma vitória na campanha de anos do também magnata Rupert Murdoch, que mantém contato direto com o secretário de Justiça de Donald Trump, William Barr.
Robert Thomson, que editou os títulos de mais prestígio de Murdoch, The Times e The Wall Street Journal, e hoje é o principal executivo do grupo, voltou à carga nesta semana: "O jornalismo ao redor do mundo é sustentável. Tem algo errado é com o ecossistema".
Mas a posição já é bastante conhecida. Do outro lado, o que a tecnologia pensa do jornalismo? Não nos posts controlados de Mark Zuckerberg, do Facebook, mas nas salas fechadas.
Com a ilustração acima, o site Motherboard, da Vice, levantou um pouco a cortina ao divulgar, na noite de quinta-feira (2), uma conversa de uma hora entre executivos de tecnologia na Clubhouse, uma nova rede social por áudio.
Ainda em testes e só para convidados, que não passariam de 1.500, a plataforma se tornou ideia fixa no Vale do Silício, "furor du jour", na descrição da Wired. No Brasil, é tratada como "o app exclusivo para ricos e famosos".
Foi lá que a "elite" de tecnologia dialogou à vontade, na quarta à noite, sobre "como os jornalistas têm poder demais para 'cancelar' e o que eles, titãs do Vale do Silício, podem fazer sobre isso", descreve o Motherboard, que obteve uma gravação.
O estopim, ao menos o mais imediato, teria sido uma ironia da repórter Taylor Lorenz, do New York Times, sobre a própria Clubhouse, dizendo ser um lugar onde "às vezes pessoas entediadas falam qualquer coisa que vem à cabeça".
Um dos comentários sobre ela, na conversa posterior na rede social: "Não se pode bater em alguém e sair dizendo: 'Ei, eu tenho ovário, você não pode revidar'". Outro que viralizou: "Por que a imprensa tem o direito de investigar empresas privadas? Deixe o mercado decidir".
Boa parte dos questionamentos a Lorenz e ao jornalismo, por personalidades como o investidor Balaji Srinivasan, se voltou à suposta busca de cliques com as reportagens críticas ao Vale do Silício —e à suposta fragilidade dos executivos, seus alvos.
Os diálogos abriram imediatamente um amplo conflito público entre imprensa e tecnologia, entre Costa Leste, onde estão sediadas as principais corporações americanas de mídia, e Oeste, onde fica o Vale do Silício.
Kara Swisher, jornalista de referência na área, hoje no NYT, criticou "a mentalidade de vítima de algumas das pessoas mais ricas e poderosas no mundo, que controlam tanto da sociedade".
Balaji Srinivasan, que já vinha mirando Lorenz desde antes, ofereceu agora uma recompensa para a melhor análise legal, que ajude a acionar jornalista que "grava secretamente uma conversa privada": mil bitcoins.
E outros mil BTC para quem criar o melhor meme. Desde quinta, como resultado, a repórter está sob assédio em mídia social, com criação de perfis supostamente paródicos, usando seu nome, e os memes.
Para Emily Bell, da Universidade Columbia, seriam os primeiros tiros na "guerra cultural" entre tecnologia e imprensa.
Nelson de Sá é jornalista, cobre mídia e política na Folha desde a eleição de 1989.
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