Hoje, manhã de 30 de junho, há relato de 1.368.195 casos confirmados pelo Ministério da Saúde e 58.314 mortes devido à covid 19. Por qualquer índice que se utilize, há um crescimento dia a dia desses números. Não temos ainda 2 milhões de casos confirmados apenas porque nossa capacidade de testagem é baixa. O número de mortos será corrigido sempre para mais, com revisões e maquiagens diversas. Na dúvida, pergunte ao coveiro da sua cidade se ele trabalhou mais ou menos nos últimos três meses. O país já engoliu a conta dos quase 60 mil mortos. Parece que observamos um fenômeno climático: choveu muito; está seco. Nada que possamos fazer, além de observar. Próximo número mágico a ser ultrapassado será o das 100 mil mortes. Quando será alcançado? Acredito que no transcorrer do mês de julho ou início de agosto. Adivinhação? Prestidigitação? Não - basta observar o evoluir diário dos números. Nem é preciso entender de sofisticados modelos matemáticos, escreve Iran Gonçalves Júnior no Valor, em ótima análise, publicada dia 3/7. Continua a seguir.
Então, vamos tentar alguma abordagem mais “racional”. Não uso aqui a palavra “científica” porque ela fere algumas sensibilidades. Ou vamos continuar olhando as condições climáticas pela janela? Assim, decisão tomada, vamos diminuir o isolamento enquanto o número de casos aumenta, decisão “racional” e embasada no que há de melhor em estudos epidemiológicos. Mas não fica só nisso. Vamos também fechar e desmontar hospitais de campanha, já que o número de casos aumenta. Parece sem sentido? É mesmo.
Não seria melhor lembrar que cidades interioranas com 5 mil habitantes ou menos não possuem a mínima estrutura para tratar pacientes com coronavírus? Que tentarão transferir esses pacientes para cidades próximas com 30 mil habitantes? Estas também não terão condições de tratar pacientes e tentarão transferir para centros regionais de 90 mil ou mais habitantes - e daí para os grandes polos urbanos, com mais de 500 mil moradores. Essa grande cidade não terá outra saída senão pedir socorro à capital do Estado? É nessa ordenação urbana que o vírus se manifesta plenamente, como um Alexandre, o Grande, conquistador de territórios vastos.
O vírus não pensa, não é razoável, não conversa, não entende as melhores intenções e nem as necessidades da sociedade. O vírus ocupa o espaço dado. Nos jornais de ontem, a notícia era que a capacidade hospitalar de Sorocaba se encontrava próxima de 100% de utilização e que o prefeito de Campinas solicitava ao governo do Estado que pacientes graves pudessem ser transferidos para a capital. O sistema hospitalar de Campinas encontrava-se com mais de 90% da capacidade ocupada.
O mesmo raciocínio vale para outras regiões. Cidades que autorizaram mais afoitamente o relaxamento do isolamento voltaram para trás. Como regionalizar o atendimento não parece ter passado no escrutínio das autoridades, vamos continuar distribuindo respiradores e insumos, sem questionar se todos sabem utilizar esses equipamentos. Parece, afinal, que é só ligar na tomada, “plug and play”, como nas caixas dos videogames. Ministério, secretarias estaduais e municipais da Saúde transformados em grandes intendências, enquanto o vírus corre solto.
É curioso ler nos jornais que diversas autoridades não querem a conta do número de mortos no “meu colo”. Parece aquela brincadeira de amigos no bar - quando chega a conta, quem a recebe do garçom logo grita: “Não é minha”. Será que quando chegarmos aos 100 mil óbitos alguém se proporá a pagar a conta? Para nós, leitor, resta a responsabilidade individual.
As orientações dos órgãos de pesquisas internacionais recomendam afrouxamento do isolamento apenas com 2 semanas de queda seguida do número de casos novos. Até lá, saia o mínimo possível, evite aglomerações, seja rápido nas compras.
Se você não puder fazer isso porque foi trabalhar, use máscara adequadamente. É um aprendizado que não é fácil. Algumas dicas: seu nariz deve estar completamente coberto, é difícil respirar - eu entendo, mas máscaras que não cobrem o nariz firmemente não servem para nada.
Também não servem para nada máscaras no queixo ou na testa: você está se enganando e levando o vírus para casa. É hora de falar pouco, mesmo com a máscara, fazer seu trabalho e pronto, volte para casa. Espera-se que os locais de trabalho tenham se adaptado com distanciamento adequado, facilidade para lavar as mãos e disponibilidade de álcool em gel adequadas.
Não toque na face externa da máscara. Quando você faz isso, você se contamina. Na parte externa estão os vírus dos quais a máscara te protege. É difícil lembrar disso, e é instintivo arrumar a máscara. Procure segurá-la pelos cantos e lave as mãos ou use álcool em gel a cada vez que você tocar a máscara.
Se ela for caseira, tenha várias unidades de tecido pouco poroso. Algodão de alta gramatura é adequado. Lave-as diariamente. Se utiliza máscaras hospitalares, veja quando é indicada a troca (as mais simples devem ser trocadas a cada seis horas).
A abertura de escolas, salões de beleza, faculdades, estádios, restaurantes, shoppings e lojas será na base de tentativa e erro. Não há ciência que sustente as orientações. Não se esqueça. Até que se observe queda consistente do número de casos durante duas semanas consecutivas, sua saúde está em grande parte relacionada com o cuidado que você tem com você mesmo e com os seus. O resto é conjectura.
Iran Gonçalves Jr, médico, escreve neste espaço mensalmente
Então, vamos tentar alguma abordagem mais “racional”. Não uso aqui a palavra “científica” porque ela fere algumas sensibilidades. Ou vamos continuar olhando as condições climáticas pela janela? Assim, decisão tomada, vamos diminuir o isolamento enquanto o número de casos aumenta, decisão “racional” e embasada no que há de melhor em estudos epidemiológicos. Mas não fica só nisso. Vamos também fechar e desmontar hospitais de campanha, já que o número de casos aumenta. Parece sem sentido? É mesmo.
Não seria melhor lembrar que cidades interioranas com 5 mil habitantes ou menos não possuem a mínima estrutura para tratar pacientes com coronavírus? Que tentarão transferir esses pacientes para cidades próximas com 30 mil habitantes? Estas também não terão condições de tratar pacientes e tentarão transferir para centros regionais de 90 mil ou mais habitantes - e daí para os grandes polos urbanos, com mais de 500 mil moradores. Essa grande cidade não terá outra saída senão pedir socorro à capital do Estado? É nessa ordenação urbana que o vírus se manifesta plenamente, como um Alexandre, o Grande, conquistador de territórios vastos.
O vírus não pensa, não é razoável, não conversa, não entende as melhores intenções e nem as necessidades da sociedade. O vírus ocupa o espaço dado. Nos jornais de ontem, a notícia era que a capacidade hospitalar de Sorocaba se encontrava próxima de 100% de utilização e que o prefeito de Campinas solicitava ao governo do Estado que pacientes graves pudessem ser transferidos para a capital. O sistema hospitalar de Campinas encontrava-se com mais de 90% da capacidade ocupada.
O mesmo raciocínio vale para outras regiões. Cidades que autorizaram mais afoitamente o relaxamento do isolamento voltaram para trás. Como regionalizar o atendimento não parece ter passado no escrutínio das autoridades, vamos continuar distribuindo respiradores e insumos, sem questionar se todos sabem utilizar esses equipamentos. Parece, afinal, que é só ligar na tomada, “plug and play”, como nas caixas dos videogames. Ministério, secretarias estaduais e municipais da Saúde transformados em grandes intendências, enquanto o vírus corre solto.
É curioso ler nos jornais que diversas autoridades não querem a conta do número de mortos no “meu colo”. Parece aquela brincadeira de amigos no bar - quando chega a conta, quem a recebe do garçom logo grita: “Não é minha”. Será que quando chegarmos aos 100 mil óbitos alguém se proporá a pagar a conta? Para nós, leitor, resta a responsabilidade individual.
As orientações dos órgãos de pesquisas internacionais recomendam afrouxamento do isolamento apenas com 2 semanas de queda seguida do número de casos novos. Até lá, saia o mínimo possível, evite aglomerações, seja rápido nas compras.
Se você não puder fazer isso porque foi trabalhar, use máscara adequadamente. É um aprendizado que não é fácil. Algumas dicas: seu nariz deve estar completamente coberto, é difícil respirar - eu entendo, mas máscaras que não cobrem o nariz firmemente não servem para nada.
Também não servem para nada máscaras no queixo ou na testa: você está se enganando e levando o vírus para casa. É hora de falar pouco, mesmo com a máscara, fazer seu trabalho e pronto, volte para casa. Espera-se que os locais de trabalho tenham se adaptado com distanciamento adequado, facilidade para lavar as mãos e disponibilidade de álcool em gel adequadas.
Não toque na face externa da máscara. Quando você faz isso, você se contamina. Na parte externa estão os vírus dos quais a máscara te protege. É difícil lembrar disso, e é instintivo arrumar a máscara. Procure segurá-la pelos cantos e lave as mãos ou use álcool em gel a cada vez que você tocar a máscara.
Se ela for caseira, tenha várias unidades de tecido pouco poroso. Algodão de alta gramatura é adequado. Lave-as diariamente. Se utiliza máscaras hospitalares, veja quando é indicada a troca (as mais simples devem ser trocadas a cada seis horas).
A abertura de escolas, salões de beleza, faculdades, estádios, restaurantes, shoppings e lojas será na base de tentativa e erro. Não há ciência que sustente as orientações. Não se esqueça. Até que se observe queda consistente do número de casos durante duas semanas consecutivas, sua saúde está em grande parte relacionada com o cuidado que você tem com você mesmo e com os seus. O resto é conjectura.
Iran Gonçalves Jr, médico, escreve neste espaço mensalmente
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