Grande parte dos eleitores do presidente apoia intervenção do Estado na economia e descarta golpe militar, mostra pesquisa explorada em artigo de Carlos Rydlewski no Valor, publicado dia 17/7, leitura obrigatória, longa, mas com muitas revelações.
O que pensam os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), um grupo estável de seguidores, que corresponde a cerca de 25% a 30% do eleitorado? Boa parte da resposta a essa questão está presente em uma pesquisa realizada pelo Instituto Travessia, de São Paulo, com exclusividade para o Valor. Inédito, o levantamento promove um mergulho na mente do chamado “bolsonarista raiz”.
Esse grupo é bem menos liberal e antidemocrático do que se supunha até aqui. Consultados se são a favor da intervenção do Estado na economia, por exemplo, 45% deles responderam “sim” e 42%, “não”. A turma que apoia um maior peso estatal na vida econômica do país é formada, majoritariamente, por mulheres, moradores do Nordeste, jovens entre 16 e 24 anos e pessoas com renda média na base da pirâmide social (até dois salários mínimos mensais). Em termos de poder aquisitivo, eles compõem os estratos mais pobres da sociedade.
Com um placar apertado, a maioria endossa políticas de transferência de renda dos cofres públicos para os bolsos da população. Do total entrevistado, 42% são a favor e 38% contra esse tipo de benefício estatal. Os maiores entusiastas dessas medidas residem no Nordeste, o grande reduto do Bolsa Família, e aufere renda de dois mínimos por mês. “O bolsonarista que encontramos não é o estereótipo, o agitador radical de redes sociais”, diz o analista Renato Dorgan Filho, sócio do Instituto Travessia. “Ele é um eleitor fiel, conservador, mas que vive os problemas do dia a dia. Em muitos sentidos, principalmente entre os mais pobres, é mais prático do que ideológico.”
De acordo com a pesquisa, o retrato do bolsonarista padrão é o seguinte (veja quadros nesta edição): homem, morador do Sudeste, com idade a partir de 45 anos, renda acima de dez salários mínimos (a maior faixa definida pelo IBGE) e evangélico. Mas as diferenças entre alguns desses segmentos é pequena. No caso do gênero, por exemplo, 55% são homens e 45%, mulheres. Na divisão por idades, à exceção dos jovens entre 16 e 24 anos (10% do total), todas as outras faixas apresentam percentuais muito próximos. Para Dorgan Filho, o aspecto religioso é o que mais se destaca. “São 54% de evangélicos”, aponta. “É uma concentração muito alta. Em segundo lugar, bem atrás, vêm os católicos, com 24% do total.”
Para identificar os bolsonaristas, foram feitos contatos por telefone, entre os dias 9 e 10 de julho, em todo o país. Os entrevistados responderam em qual candidato votariam, caso a eleição presidencial ocorresse hoje. Para obter as respostas, não foi apresentado nenhum estímulo, como o nome de possíveis concorrentes à disputa. “A escolha foi espontânea, o que representa um voto muito mais fidelizada”, observa o analista do Travessia. “Depois disso, o questionário foi aplicado somente àqueles que optaram pelo nome de Jair Bolsonaro. Com isso, selecionamos quem de fato o apoia e já tem o nome do presidente na cabeça para as eleições de 2022.”
A enquete mostrou ainda que o ideário político da média dos bolsonaristas está longe de ser tão pontiagudo como se poderia crer. A maioria (62%), por exemplo, disse ser contrária às manifestações de apoio a golpes militares no Brasil. Isso ainda que uma parcela de 33% tenha afiançado a grita pró-autoritarismo. Nessa mesma linha, 83% defenderam a realização de protestos a favor da democracia no país.
Existe um espaço de diálogo com os eleitores de Bolsonaro, que pode aproximá-los de um campo mais progressista, segundo José Álvaro Moisés
Em contrapartida, a sondagem traz dados que soam contra instituições cruciais para o funcionamento da democracia. E eles expressam uma quase unanimidade entre os eleitores do presidente. Por exemplo: 95% não aprovam a atuação do Congresso Nacional. Em outra questão, 90% criticam o Supremo Tribunal Federal (STF).
Essa aparente contradição da maioria bolsonarista, entre uma visão com tintas mais democráticas e outra que tende ao autoritarismo, representa um dos aspectos mais interessantes da pesquisa, para José Álvaro Moisés, professor de ciência política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP). “Ela mostra que existe uma brecha, um espaço de diálogo com os eleitores do presidente Bolsonaro, que eventualmente pode aproximá-los de um campo mais progressista”, diz Moisés. “Na prática, ela revela que há diversidade entre os eleitores do presidente, e isso não estava tão claro.”
Quantitativa, a sondagem do Instituto Travessia não explica o porquê dessas posições, mas existem estudos qualitativos (com entrevistas com pequenos grupos de eleitores) que trazem algumas pistas a esse respeito. Uma análise desse tipo foi concluída em junho pelas pesquisadoras Camila Rocha, cientista política ligada ao Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), e Esther Solano, socióloga e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Elas ouviram 27 pessoas, das faixas C e D, residentes na Região Metropolitana de São Paulo. Nas conversas, identificaram três grupos de bolsonaristas: os “fiéis”, os “apoiadores críticos” e os “arrependidos” por terem votado no presidente. “Percebemos que muitas dessas pessoas, mesmo as que defendem medidas radicais como o fechamento do Congresso ou do STF, não se consideram antidemocráticas”, diz Camila Rocha. “Elas não querem necessariamente o fim dessas instituições. Desejam que elas passem por uma renovação profunda, uma espécie de ‘reset’ institucional.”
No levantamento do Instituto Travessia, a abordagem do tema da corrupção também traz à luz elementos até aqui pouco nítidos. A quase totalidade dos entrevistados (91% deles), por exemplo, diz acreditar que o governo Bolsonaro de fato combate a roubalheira. No entanto, quando a pergunta inclui os parentes do chefe do Executivo (“Você acha que o presidente Bolsonaro ou integrantes de sua família se envolveram em casos de corrupção?”), a assertividade diminui. Nesse caso, 57% dizem que “não”, que os Bolsonaro não estão envolvidos em falcatruas, o que representa a maioria, mas 24% afirmam que “sim” e 19% não sabem o que responder.
Sobre a pauta de costumes, a enquete do Travessia traz outras surpresas: 60% disseram que a religião não deve orientar as ações do governo. As manifestações contra o racismo, que pipocaram mundo afora desde o assassinato do afro-americano George Floyd, em maio, contam com apoio de 63% dos entrevistados.
Por outro lado, a maioria dos bolsonaristas repudia os protestos que partem de movimentos que defendem direitos de outras minorias. Nesse caso, 53% desaprovam as manifestações em prol de grupos LGBTQIA+. A maioria dos críticos dessas iniciativas é formada por homens, por pessoas que residem na região Sul do país, pelo segmento com mais de 60 anos e, maciçamente, por evangélicos.
Como observa José Álvaro Moisés, da USP, a pesquisa capta ainda mais um ruído entre a imagem radical que paira sobre a massa dos bolsonaristas e as opiniões expressas na enquete. É o que acontece em torno da visão sobre a Amazônia. Isso porque 55% dizem que são favoráveis a uma maior flexibilização da política de preservação da floresta, sendo que 45% são contrários. “Ou seja, temos aqui quase um empate”, aponta Moisés.
O ministro Paulo Guedes não parece ter grande importância para a base dos eleitores do presidente, afirma Carlos Melo
Entretanto, 55% não aprovam a redução das reservas indígenas. “Isso mostra a existência de um núcleo que manifesta uma posição menos conservadora na defesa do meio ambiente”, comenta Moisés. “E o tema das reservas indígenas representa algo importante para a política de Bolsonaro.” Para os bolsonaristas, acrescente-se, as ONGs (25%) e os países estrangeiros (21%), “que querem dominar a região”, estão entre as grandes ameaças à sobrevivência da floresta. Outros 41%, porém, indicam que a maior inimiga da mata é a atividade ilegal de madeireiros, agricultores e pecuaristas.
O levantamento mostra ainda que a maioria dos que reelegeriam o presidente Jair Bolsonaro hoje considera que a vida era mais fácil em períodos pregressos. Isso vale para a vigência do Plano Real (26%), na década de 1990, ou durante o governo militar (22%), entre os anos 1960 e 1970, ou ainda, antes do Plano Real (14%). Somente 12% cravam que a situação econômica de suas famílias era mais favorável no governo Lula, eleito pela primeira vez em 2002. “Esses dados mostram um certo saudosismo e reforçam uma demonstração de repúdio ao PT, no caso, ao período Lula”, diz Dorgan Filho. “E esse é um sentimento típico entre os bolsonaristas, principalmente entre os de classe A e B.”
Embora muitos pontos expostos até aqui indiquem a existência de um “bolsonarismo paz e amor”, o radicalismo também marca território em uma série de temas, como as questões que envolvem segurança e armas. Corroborando teses típicas da direita, 98%, ou seja, a quase totalidade dos eleitores do presidente, acreditam que a polícia deve atuar com maior rigor contra os criminosos. Além disso, 75% apoiam a liberação do uso de armas. Desse grupo, 90% são homens, a maior parte tem entre 45 e 49 anos e renda acima de dez salários mínimos. “Os mais radicais representam cerca de um terço desse eleitor. E segurança também é um tema muito forte para toda a sociedade”, frisa Dorgan Filho. “Aqui, é ainda mais realçado.”
No geral, as opiniões em torno da pandemia seguem a linha adotada pelo presidente. A pesquisa mostra, por exemplo, que 90% dos entrevistados são favoráveis à redução das medidas de isolamento social no combate à covid-19. Outra enquete do mesmo instituto, publicada com exclusividade pelo Valor em 26 de junho, já indicara uma queda na adesão do distanciamento por parte dos eleitores em geral. Mesmo assim, ele contava com o apoio de 45% dos brasileiros com mais de 16 anos. Outros 43% defendiam um isolamento parcial. Ou seja, para a sociedade como um todo, havia um empate técnico em relação ao assunto.
Entre os eleitores do presidente, 79% aprovam a maneira como ele conduz a crise do novo coronavírus. No levantamento de 26 de junho, mais abrangente e para além dos apoiadores de Bolsonaro, somente 35% tinham a mesma opinião. Além do mais, na atual enquete, 52% não acham que o chefe de Estado se expôs demais à doença, apesar de sua recorrente participação em manifestações políticas e das andanças frequentes por áreas comerciais de Brasília. A maior parte (58%), entretanto, não aprova o recente decreto presidencial que desobriga o uso de máscaras em igrejas, no comércio e em escolas.
José Álvaro Moisés observa que a pesquisa sugere a existência de um desafio para a cúpula do bolsonarismo. Ele está contido na relação do presidente com os políticos do Centrão, o bloco informal da Câmara dos Deputados, que reúne cerca de 200 parlamentares do chamado “baixo clero”. No levantamento, 58% dos entrevistados posicionaram-se contra a aproximação do presidente com esse núcleo de parlamentares. “Esse é um resultado importante, que pode trazer desgaste para o presidente”, diz o acadêmico. “Afinal, a construção desse relacionamento faz parte estratégia de consolidar uma base no Congresso, até evitar o avanço de um eventual pedido de impeachment.”
Se essas relações podem ser perigosas, a enquete também mostra um dado que, sob o ponto de vista do eleitorado do presidente, observam analistas, pode ser considerado favorável. Trata-se do pequeno impacto na base bolsonarista da demissão do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro, no fim de abril. No total, 62% dos consultados aprovaram a saída do ex-juiz do governo, ante 28% que consideraram a queda negativa. “Na verdade, a pesquisa mostra que o apoio ao presidente reside na crítica à política, ao Congresso, ao STF e à imprensa, e no endurecimento do aparato repressivo, além do combate à corrupção”, diz o cientista político Carlos Melo, professor do Insper, em São Paulo.
Por outro lado, acrescenta o acadêmico, o bolsonarista típico parece discordar - ou não concordar totalmente - em relação a temas como costumes e a volta do regime militar, assim como em relação à política ambiental. “Moro também não é relevante”, diz Melo. Para ele, a baixa adesão a uma agenda liberal também aponta que o ministro da Economia, Paulo Guedes, não está em situação diferente do ex-titular da Justiça. Diz o professor do Insper: “Nesse contexto, o Guedes também não parece ter grande importância para a base dos eleitores do presidente”.
Desta vez, como somente ouviu adeptos de Bolsonaro, a enquete do Travessia não definiu quanto eles representam em relação ao todo dos eleitores. Entretanto, no levantamento anterior do mesmo instituto, de 26 de junho, 25% das pessoas consultadas afirmaram que votariam no atual presidente da República. “Em geral, todas as pesquisas que avaliam o apoio, o prestígio ou a intenção de voto em Bolsonaro indicam que ele conta com uma parcela de 25% a 30% do eleitorado”, diz Moisés, da USP. “Já as análises que verificam a dimensão do grupo de bolsonaristas pesados, chamados de ‘raiz’, apontam para percentuais entre 12% e 15%, chegando às vezes a 20%.”
Para o acadêmico, tal cota não representa uma novidade. Moisés coordena pesquisas sobre cultura política, baseadas em levantamentos de opinião pública, desde meados dos anos 1980. Nesses trabalhos, ele observa, o grupo que se identifica com uma posição radical de direita sempre girou em torno de 15%.
“O fato é que existe na sociedade brasileira um núcleo de extrema-direita que tem esse tamanho, sendo que muitos dos seus integrantes nem sequer consideram que houve um período de ditadura no Brasil”, diz o professor. “Esse é um resíduo autoritário que perdura ao longo do tempo e não muda.” A singularidade, contudo, é que esse discurso, antes “residual”, tornou-se oficial por meio de eleições diretas no país. Em períodos recentes, ele sobreviveu, mas com menor poder de difusão nacional, sob bandeiras como a do malufismo.
Moisés pontua que a resiliência desse núcleo é um fato relevante para a política nacional. “Ela mostra que, apesar de 35 anos de democracia, o período mais longevo de liberdades democráticas que já tivemos, esse grupo de extrema-direita não foi demovido”, diz o acadêmico. “Isso revela que as políticas de construção do desenvolvimento econômico e as ações pela defesa dos direitos humanos não foram suficientes para convencer essas pessoas de que a democracia é melhor do que outros regimes. Esse é um tema sobre o qual os democratas devem refletir, tanto os partidos como suas lideranças.”
Em suma, isso quer dizer que os 30% de fidelíssimos bolsonaristas, na verdade, podem não ser 30% (ou 25%). Além do mais, esse grupo parece não ser estanque como muitos acreditam. Há quase uma década, a antropóloga Isabela Kalil, professora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP), analisa os movimentos conservadores no Brasil. Em geral, faz isso por meio de estudos etnográficos, com trabalhos realizados em campo, durante manifestações de rua. Os dados que recolhe são qualitativos, ou seja, obtidos por meio de entrevistas com pequenos grupos de pessoas.
Isabela diz acreditar que existem alterações recorrentes nos chamados 30% de bolsonaristas. Essas mudanças não afetam o número absoluto, mas a sua composição interna. Pesquisas recentes sugerem, por exemplo, que a base do presidente se transformou. Por um lado, teriam ingressado eleitores de baixa renda, atraídos por benefícios como o auxílio emergencial de R$ 600,00 dado durante a pandemia.
Por outra porta, no entanto, teriam saído integrantes da classe média, entre eles os “lava-jatistas”, decepcionados com a debandada de ministros como Sergio Moro. “Existem, sim, alterações significativas dentro do bloco de eleitores do presidente Bolsonaro, há uma dinâmica nesse grupo”, diz Isabela. “Mas as conclusões sobre o que realmente está acontecendo ainda soam precipitadas.”
A pesquisadora observa que as dúvidas pairam nas duas portas do bloco bolsonarista - tanto a de entrada como a de saída. “Não sabemos, por exemplo, se a classe média deixou esse grupo ou se sua renda diminuiu nos últimos meses a ponto de permanecer na base, ainda que empobrecida”, afirma a antropóloga. “Da mesma maneira, não temos certeza se o ingresso se limitou a pessoas de baixa renda. Medidas do governo, como a ajuda de R$ 600,00, podem favorecer outros grupos, e não só aqueles que se beneficiam diretamente com os recursos.”
Por fim, alguns dados da pesquisa do Instituto Travessia mostram o impacto potencial que alguns temas constantemente abordados pelo presidente têm em sua base de eleitores, como as críticas ao Congresso e à imprensa (cujos ataques de Bolsonaro são aprovados por 84% dos seus eleitores). Isso, porém, não é novidade para Manoel Fernandes, diretor da Bites. A empresa acompanha, em tempo real, o que os políticos postam nas quatro grandes redes sociais - Twitter, Facebook, Instagram e YouTube.
Daí, nascem análises usando variáveis que incluem o número de seguidores adicionados por meio de posts e a capacidade dessas ações de gerar engajamento nos espaços virtuais. “Toda vez que Bolsonaro energiza sua base, em atos ou declarações contra seus ‘inimigos’, aumenta o número de seguidores e a dispersão do discurso nas redes”, diz Fernandes. “E isso inclui a participação em eventos antidemocráticos ou declarações muito fortes em relação ao senso comum.”
E Bolsonaro tem grande repercussão no mundo de bytes e bits, ainda que mantenha uma distância considerável do político que está no topo de todos os pódios do mundo digital. Desde março, no auge da pandemia na Europa, até 9 de julho, o presidente americano Donald Trump fez 5.328 posts nas redes. Eles conseguiram 528 milhões de interações (“curtir”, compartilhar, comentar e retuitar, por exemplo). Bolsonaro não atingiu metade desse volume. Postou 2.325, com 282 milhões de interações. Isso não é pouco. Considere o presidente francês, Emmanuel Macron. Ele registrou 585 posts, com 10 milhões de interações. “O presidente do Brasil chamou mais atenção em uma proporção quase 30 vezes maior do que o francês”, nota Fernandes. Lula, só para dar um exemplo local, postou 1.099 vezes, com 21 milhões de interações.
A questão é o quanto disso tudo é obra de robôs? “Com essa tecnologia, tudo é possível”, pondera Manoel Fernandes. “Mas, se não houvesse adesão orgânica à mensagem, não haveria tanta interação. Tem robô, sim, mas isso não explica tudo.” Seja como for, como observaram analistas, a pesquisa do Instituto Travessia indica que não só de estridências e polarizações se forma a mente bolsonarista. Ela é bem mais diversa do que se imaginava até aqui.
O que pensam os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), um grupo estável de seguidores, que corresponde a cerca de 25% a 30% do eleitorado? Boa parte da resposta a essa questão está presente em uma pesquisa realizada pelo Instituto Travessia, de São Paulo, com exclusividade para o Valor. Inédito, o levantamento promove um mergulho na mente do chamado “bolsonarista raiz”.
Esse grupo é bem menos liberal e antidemocrático do que se supunha até aqui. Consultados se são a favor da intervenção do Estado na economia, por exemplo, 45% deles responderam “sim” e 42%, “não”. A turma que apoia um maior peso estatal na vida econômica do país é formada, majoritariamente, por mulheres, moradores do Nordeste, jovens entre 16 e 24 anos e pessoas com renda média na base da pirâmide social (até dois salários mínimos mensais). Em termos de poder aquisitivo, eles compõem os estratos mais pobres da sociedade.
Com um placar apertado, a maioria endossa políticas de transferência de renda dos cofres públicos para os bolsos da população. Do total entrevistado, 42% são a favor e 38% contra esse tipo de benefício estatal. Os maiores entusiastas dessas medidas residem no Nordeste, o grande reduto do Bolsa Família, e aufere renda de dois mínimos por mês. “O bolsonarista que encontramos não é o estereótipo, o agitador radical de redes sociais”, diz o analista Renato Dorgan Filho, sócio do Instituto Travessia. “Ele é um eleitor fiel, conservador, mas que vive os problemas do dia a dia. Em muitos sentidos, principalmente entre os mais pobres, é mais prático do que ideológico.”
De acordo com a pesquisa, o retrato do bolsonarista padrão é o seguinte (veja quadros nesta edição): homem, morador do Sudeste, com idade a partir de 45 anos, renda acima de dez salários mínimos (a maior faixa definida pelo IBGE) e evangélico. Mas as diferenças entre alguns desses segmentos é pequena. No caso do gênero, por exemplo, 55% são homens e 45%, mulheres. Na divisão por idades, à exceção dos jovens entre 16 e 24 anos (10% do total), todas as outras faixas apresentam percentuais muito próximos. Para Dorgan Filho, o aspecto religioso é o que mais se destaca. “São 54% de evangélicos”, aponta. “É uma concentração muito alta. Em segundo lugar, bem atrás, vêm os católicos, com 24% do total.”
Para identificar os bolsonaristas, foram feitos contatos por telefone, entre os dias 9 e 10 de julho, em todo o país. Os entrevistados responderam em qual candidato votariam, caso a eleição presidencial ocorresse hoje. Para obter as respostas, não foi apresentado nenhum estímulo, como o nome de possíveis concorrentes à disputa. “A escolha foi espontânea, o que representa um voto muito mais fidelizada”, observa o analista do Travessia. “Depois disso, o questionário foi aplicado somente àqueles que optaram pelo nome de Jair Bolsonaro. Com isso, selecionamos quem de fato o apoia e já tem o nome do presidente na cabeça para as eleições de 2022.”
A enquete mostrou ainda que o ideário político da média dos bolsonaristas está longe de ser tão pontiagudo como se poderia crer. A maioria (62%), por exemplo, disse ser contrária às manifestações de apoio a golpes militares no Brasil. Isso ainda que uma parcela de 33% tenha afiançado a grita pró-autoritarismo. Nessa mesma linha, 83% defenderam a realização de protestos a favor da democracia no país.
Existe um espaço de diálogo com os eleitores de Bolsonaro, que pode aproximá-los de um campo mais progressista, segundo José Álvaro Moisés
Em contrapartida, a sondagem traz dados que soam contra instituições cruciais para o funcionamento da democracia. E eles expressam uma quase unanimidade entre os eleitores do presidente. Por exemplo: 95% não aprovam a atuação do Congresso Nacional. Em outra questão, 90% criticam o Supremo Tribunal Federal (STF).
Essa aparente contradição da maioria bolsonarista, entre uma visão com tintas mais democráticas e outra que tende ao autoritarismo, representa um dos aspectos mais interessantes da pesquisa, para José Álvaro Moisés, professor de ciência política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP). “Ela mostra que existe uma brecha, um espaço de diálogo com os eleitores do presidente Bolsonaro, que eventualmente pode aproximá-los de um campo mais progressista”, diz Moisés. “Na prática, ela revela que há diversidade entre os eleitores do presidente, e isso não estava tão claro.”
Quantitativa, a sondagem do Instituto Travessia não explica o porquê dessas posições, mas existem estudos qualitativos (com entrevistas com pequenos grupos de eleitores) que trazem algumas pistas a esse respeito. Uma análise desse tipo foi concluída em junho pelas pesquisadoras Camila Rocha, cientista política ligada ao Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), e Esther Solano, socióloga e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Elas ouviram 27 pessoas, das faixas C e D, residentes na Região Metropolitana de São Paulo. Nas conversas, identificaram três grupos de bolsonaristas: os “fiéis”, os “apoiadores críticos” e os “arrependidos” por terem votado no presidente. “Percebemos que muitas dessas pessoas, mesmo as que defendem medidas radicais como o fechamento do Congresso ou do STF, não se consideram antidemocráticas”, diz Camila Rocha. “Elas não querem necessariamente o fim dessas instituições. Desejam que elas passem por uma renovação profunda, uma espécie de ‘reset’ institucional.”
No levantamento do Instituto Travessia, a abordagem do tema da corrupção também traz à luz elementos até aqui pouco nítidos. A quase totalidade dos entrevistados (91% deles), por exemplo, diz acreditar que o governo Bolsonaro de fato combate a roubalheira. No entanto, quando a pergunta inclui os parentes do chefe do Executivo (“Você acha que o presidente Bolsonaro ou integrantes de sua família se envolveram em casos de corrupção?”), a assertividade diminui. Nesse caso, 57% dizem que “não”, que os Bolsonaro não estão envolvidos em falcatruas, o que representa a maioria, mas 24% afirmam que “sim” e 19% não sabem o que responder.
Sobre a pauta de costumes, a enquete do Travessia traz outras surpresas: 60% disseram que a religião não deve orientar as ações do governo. As manifestações contra o racismo, que pipocaram mundo afora desde o assassinato do afro-americano George Floyd, em maio, contam com apoio de 63% dos entrevistados.
Por outro lado, a maioria dos bolsonaristas repudia os protestos que partem de movimentos que defendem direitos de outras minorias. Nesse caso, 53% desaprovam as manifestações em prol de grupos LGBTQIA+. A maioria dos críticos dessas iniciativas é formada por homens, por pessoas que residem na região Sul do país, pelo segmento com mais de 60 anos e, maciçamente, por evangélicos.
Como observa José Álvaro Moisés, da USP, a pesquisa capta ainda mais um ruído entre a imagem radical que paira sobre a massa dos bolsonaristas e as opiniões expressas na enquete. É o que acontece em torno da visão sobre a Amazônia. Isso porque 55% dizem que são favoráveis a uma maior flexibilização da política de preservação da floresta, sendo que 45% são contrários. “Ou seja, temos aqui quase um empate”, aponta Moisés.
O ministro Paulo Guedes não parece ter grande importância para a base dos eleitores do presidente, afirma Carlos Melo
Entretanto, 55% não aprovam a redução das reservas indígenas. “Isso mostra a existência de um núcleo que manifesta uma posição menos conservadora na defesa do meio ambiente”, comenta Moisés. “E o tema das reservas indígenas representa algo importante para a política de Bolsonaro.” Para os bolsonaristas, acrescente-se, as ONGs (25%) e os países estrangeiros (21%), “que querem dominar a região”, estão entre as grandes ameaças à sobrevivência da floresta. Outros 41%, porém, indicam que a maior inimiga da mata é a atividade ilegal de madeireiros, agricultores e pecuaristas.
O levantamento mostra ainda que a maioria dos que reelegeriam o presidente Jair Bolsonaro hoje considera que a vida era mais fácil em períodos pregressos. Isso vale para a vigência do Plano Real (26%), na década de 1990, ou durante o governo militar (22%), entre os anos 1960 e 1970, ou ainda, antes do Plano Real (14%). Somente 12% cravam que a situação econômica de suas famílias era mais favorável no governo Lula, eleito pela primeira vez em 2002. “Esses dados mostram um certo saudosismo e reforçam uma demonstração de repúdio ao PT, no caso, ao período Lula”, diz Dorgan Filho. “E esse é um sentimento típico entre os bolsonaristas, principalmente entre os de classe A e B.”
Embora muitos pontos expostos até aqui indiquem a existência de um “bolsonarismo paz e amor”, o radicalismo também marca território em uma série de temas, como as questões que envolvem segurança e armas. Corroborando teses típicas da direita, 98%, ou seja, a quase totalidade dos eleitores do presidente, acreditam que a polícia deve atuar com maior rigor contra os criminosos. Além disso, 75% apoiam a liberação do uso de armas. Desse grupo, 90% são homens, a maior parte tem entre 45 e 49 anos e renda acima de dez salários mínimos. “Os mais radicais representam cerca de um terço desse eleitor. E segurança também é um tema muito forte para toda a sociedade”, frisa Dorgan Filho. “Aqui, é ainda mais realçado.”
No geral, as opiniões em torno da pandemia seguem a linha adotada pelo presidente. A pesquisa mostra, por exemplo, que 90% dos entrevistados são favoráveis à redução das medidas de isolamento social no combate à covid-19. Outra enquete do mesmo instituto, publicada com exclusividade pelo Valor em 26 de junho, já indicara uma queda na adesão do distanciamento por parte dos eleitores em geral. Mesmo assim, ele contava com o apoio de 45% dos brasileiros com mais de 16 anos. Outros 43% defendiam um isolamento parcial. Ou seja, para a sociedade como um todo, havia um empate técnico em relação ao assunto.
Entre os eleitores do presidente, 79% aprovam a maneira como ele conduz a crise do novo coronavírus. No levantamento de 26 de junho, mais abrangente e para além dos apoiadores de Bolsonaro, somente 35% tinham a mesma opinião. Além do mais, na atual enquete, 52% não acham que o chefe de Estado se expôs demais à doença, apesar de sua recorrente participação em manifestações políticas e das andanças frequentes por áreas comerciais de Brasília. A maior parte (58%), entretanto, não aprova o recente decreto presidencial que desobriga o uso de máscaras em igrejas, no comércio e em escolas.
José Álvaro Moisés observa que a pesquisa sugere a existência de um desafio para a cúpula do bolsonarismo. Ele está contido na relação do presidente com os políticos do Centrão, o bloco informal da Câmara dos Deputados, que reúne cerca de 200 parlamentares do chamado “baixo clero”. No levantamento, 58% dos entrevistados posicionaram-se contra a aproximação do presidente com esse núcleo de parlamentares. “Esse é um resultado importante, que pode trazer desgaste para o presidente”, diz o acadêmico. “Afinal, a construção desse relacionamento faz parte estratégia de consolidar uma base no Congresso, até evitar o avanço de um eventual pedido de impeachment.”
Se essas relações podem ser perigosas, a enquete também mostra um dado que, sob o ponto de vista do eleitorado do presidente, observam analistas, pode ser considerado favorável. Trata-se do pequeno impacto na base bolsonarista da demissão do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro, no fim de abril. No total, 62% dos consultados aprovaram a saída do ex-juiz do governo, ante 28% que consideraram a queda negativa. “Na verdade, a pesquisa mostra que o apoio ao presidente reside na crítica à política, ao Congresso, ao STF e à imprensa, e no endurecimento do aparato repressivo, além do combate à corrupção”, diz o cientista político Carlos Melo, professor do Insper, em São Paulo.
Por outro lado, acrescenta o acadêmico, o bolsonarista típico parece discordar - ou não concordar totalmente - em relação a temas como costumes e a volta do regime militar, assim como em relação à política ambiental. “Moro também não é relevante”, diz Melo. Para ele, a baixa adesão a uma agenda liberal também aponta que o ministro da Economia, Paulo Guedes, não está em situação diferente do ex-titular da Justiça. Diz o professor do Insper: “Nesse contexto, o Guedes também não parece ter grande importância para a base dos eleitores do presidente”.
Desta vez, como somente ouviu adeptos de Bolsonaro, a enquete do Travessia não definiu quanto eles representam em relação ao todo dos eleitores. Entretanto, no levantamento anterior do mesmo instituto, de 26 de junho, 25% das pessoas consultadas afirmaram que votariam no atual presidente da República. “Em geral, todas as pesquisas que avaliam o apoio, o prestígio ou a intenção de voto em Bolsonaro indicam que ele conta com uma parcela de 25% a 30% do eleitorado”, diz Moisés, da USP. “Já as análises que verificam a dimensão do grupo de bolsonaristas pesados, chamados de ‘raiz’, apontam para percentuais entre 12% e 15%, chegando às vezes a 20%.”
Para o acadêmico, tal cota não representa uma novidade. Moisés coordena pesquisas sobre cultura política, baseadas em levantamentos de opinião pública, desde meados dos anos 1980. Nesses trabalhos, ele observa, o grupo que se identifica com uma posição radical de direita sempre girou em torno de 15%.
“O fato é que existe na sociedade brasileira um núcleo de extrema-direita que tem esse tamanho, sendo que muitos dos seus integrantes nem sequer consideram que houve um período de ditadura no Brasil”, diz o professor. “Esse é um resíduo autoritário que perdura ao longo do tempo e não muda.” A singularidade, contudo, é que esse discurso, antes “residual”, tornou-se oficial por meio de eleições diretas no país. Em períodos recentes, ele sobreviveu, mas com menor poder de difusão nacional, sob bandeiras como a do malufismo.
Moisés pontua que a resiliência desse núcleo é um fato relevante para a política nacional. “Ela mostra que, apesar de 35 anos de democracia, o período mais longevo de liberdades democráticas que já tivemos, esse grupo de extrema-direita não foi demovido”, diz o acadêmico. “Isso revela que as políticas de construção do desenvolvimento econômico e as ações pela defesa dos direitos humanos não foram suficientes para convencer essas pessoas de que a democracia é melhor do que outros regimes. Esse é um tema sobre o qual os democratas devem refletir, tanto os partidos como suas lideranças.”
Em suma, isso quer dizer que os 30% de fidelíssimos bolsonaristas, na verdade, podem não ser 30% (ou 25%). Além do mais, esse grupo parece não ser estanque como muitos acreditam. Há quase uma década, a antropóloga Isabela Kalil, professora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP), analisa os movimentos conservadores no Brasil. Em geral, faz isso por meio de estudos etnográficos, com trabalhos realizados em campo, durante manifestações de rua. Os dados que recolhe são qualitativos, ou seja, obtidos por meio de entrevistas com pequenos grupos de pessoas.
Isabela diz acreditar que existem alterações recorrentes nos chamados 30% de bolsonaristas. Essas mudanças não afetam o número absoluto, mas a sua composição interna. Pesquisas recentes sugerem, por exemplo, que a base do presidente se transformou. Por um lado, teriam ingressado eleitores de baixa renda, atraídos por benefícios como o auxílio emergencial de R$ 600,00 dado durante a pandemia.
Por outra porta, no entanto, teriam saído integrantes da classe média, entre eles os “lava-jatistas”, decepcionados com a debandada de ministros como Sergio Moro. “Existem, sim, alterações significativas dentro do bloco de eleitores do presidente Bolsonaro, há uma dinâmica nesse grupo”, diz Isabela. “Mas as conclusões sobre o que realmente está acontecendo ainda soam precipitadas.”
A pesquisadora observa que as dúvidas pairam nas duas portas do bloco bolsonarista - tanto a de entrada como a de saída. “Não sabemos, por exemplo, se a classe média deixou esse grupo ou se sua renda diminuiu nos últimos meses a ponto de permanecer na base, ainda que empobrecida”, afirma a antropóloga. “Da mesma maneira, não temos certeza se o ingresso se limitou a pessoas de baixa renda. Medidas do governo, como a ajuda de R$ 600,00, podem favorecer outros grupos, e não só aqueles que se beneficiam diretamente com os recursos.”
Por fim, alguns dados da pesquisa do Instituto Travessia mostram o impacto potencial que alguns temas constantemente abordados pelo presidente têm em sua base de eleitores, como as críticas ao Congresso e à imprensa (cujos ataques de Bolsonaro são aprovados por 84% dos seus eleitores). Isso, porém, não é novidade para Manoel Fernandes, diretor da Bites. A empresa acompanha, em tempo real, o que os políticos postam nas quatro grandes redes sociais - Twitter, Facebook, Instagram e YouTube.
Daí, nascem análises usando variáveis que incluem o número de seguidores adicionados por meio de posts e a capacidade dessas ações de gerar engajamento nos espaços virtuais. “Toda vez que Bolsonaro energiza sua base, em atos ou declarações contra seus ‘inimigos’, aumenta o número de seguidores e a dispersão do discurso nas redes”, diz Fernandes. “E isso inclui a participação em eventos antidemocráticos ou declarações muito fortes em relação ao senso comum.”
E Bolsonaro tem grande repercussão no mundo de bytes e bits, ainda que mantenha uma distância considerável do político que está no topo de todos os pódios do mundo digital. Desde março, no auge da pandemia na Europa, até 9 de julho, o presidente americano Donald Trump fez 5.328 posts nas redes. Eles conseguiram 528 milhões de interações (“curtir”, compartilhar, comentar e retuitar, por exemplo). Bolsonaro não atingiu metade desse volume. Postou 2.325, com 282 milhões de interações. Isso não é pouco. Considere o presidente francês, Emmanuel Macron. Ele registrou 585 posts, com 10 milhões de interações. “O presidente do Brasil chamou mais atenção em uma proporção quase 30 vezes maior do que o francês”, nota Fernandes. Lula, só para dar um exemplo local, postou 1.099 vezes, com 21 milhões de interações.
A questão é o quanto disso tudo é obra de robôs? “Com essa tecnologia, tudo é possível”, pondera Manoel Fernandes. “Mas, se não houvesse adesão orgânica à mensagem, não haveria tanta interação. Tem robô, sim, mas isso não explica tudo.” Seja como for, como observaram analistas, a pesquisa do Instituto Travessia indica que não só de estridências e polarizações se forma a mente bolsonarista. Ela é bem mais diversa do que se imaginava até aqui.
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