Jorge Kalil lidera um dos grupos de cientistas que correm em busca de uma vacina contra a covid-19. Desde março, quando seu filho foi diagnosticado com a doença, o imunologista entrou em quarentena e passou a trabalhar principalmente de casa. Aos 66 anos, faz parte do grupo de risco. “Estou em uma idade considerável, mas me sinto superjovem, com uma força danada”, diz. “Nesta desgraça toda, é importante que os cientistas mostrem disposição para ajudar o país”, afirmou em entrevista a Adriana Abujamra para o Valor, publicada dia 3/7. Continua a seguir.
No primeiro telefonema com a reportagem, o imunologista lamentou que a conversa tivesse de ser a distância. Não fosse a quarentena, escolheria um restaurante árabe para o encontro, disse o neto de libanês. A solução é um almoço feito remotamente: a repórter anota os pratos prediletos de Kalil e encomenda o mesmo menu para os dois no Saj, na região onde ele mora, Alto de Pinheiros.
Às 12h30 de uma quarta-feira de junho, Kalil surge na tela para esta entrevista. Está na varanda de sua casa, com vista para a piscina e o jardim. Após um rápido “tour” virtual com o laptop à mão, volta à cadeira e aproxima o rosto da tela: “Viu como tenho a maior cara de árabe?”. Os colegas de escola o chamavam de turco, o que lhe deixava furioso.
O médico é diretor do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor), da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Apesar do mesmo sobrenome, não é parente de Roberto Kalil Filho, presidente do instituto. “Brincamos que somos irmãos, ambos presidentes do Incor. Dá muita confusão, mas não somos parentes.” A função principal de Jorge Kalil é planejar experimentos, interpretar os resultados e definir as etapas seguintes. Não precisa estar na bancada com a pipeta na mão, mas vai ao laboratório uma vez por semana. Ele lidera também um outro grupo no Incor, focalizado em transplante de órgãos, atividade que continua funcionando na pandemia. No total, cerca de 200 pessoas trabalham com ele, além dos alunos da pós-graduação.
O almoço ainda não foi entregue, mas o imunologista se serve de uma iguaria árabe para fazer uma analogia entre ciência e culinária. “Imagine o seguinte: você está na cozinha de casa e decide preparar um quibe assado”, diz. Na dúvida, prossegue, a cozinheira de quarentena liga para a mãe, mais versada na arte ancestral. De longe, a matriarca supervisiona o experimento, sugere trocar a carne por abóbora, tirar um pouco de trigo, carregar mais na pimenta. Ao tirar o prato do forno, oferece ao escrutínio da mãe para que seja dado o veredicto.
No laboratório se dá algo parecido, diz Kalil. Cientistas fazem novos experimentos a partir de procedimentos que já dominam. Com base nos resultados, analisam se a experiência funcionou, o que deu errado, o que precisa ser repetido - e assim por diante. “Às vezes você acha que vai dar uma reação, mas o resultado é outro. A ciência, a complexidade do organismo humano, é tudo muito bonito. Acontecem situações inesperadas.”
Na cozinha, na falta de um ingrediente recorre-se ao vizinho, à quitanda. No laboratório, o processo é bem mais lento. Se o pesquisador tiver um insight no meio do processo e decidir usar um reagente diferente, será obrigado a aguardar os trâmites burocráticos de liberação de verbas e de importação, que costumam ser demorados.
A ciência mundial nunca produziu tanto e em tão pouco tempo. A Organização Mundial de Saúde (OMS) lista 141 pesquisas em andamento. O Brasil tem atraído pesquisadores de outros países, mas os motivos não são nada lisonjeiros. A Inglaterra e a China, onde os trabalhos estão mais avançadas, vão iniciar testes de vacinas em voluntários brasileiros. Motivo? Com mais de uma morte por minuto, o país é um dos mais afetados pela doença. Com a curva de infecção ascendente, os resultados de testes feitos no Brasil tendem a ser mais decisivos.
Acredita-se que uma vacina contra a covid-19 pode ficar pronta no ano que vem, após 12 ou 18 meses de pesquisa. É uma velocidade sem precedentes. Para se ter uma ideia, a vacina do ebola demorou mais de 15 anos para ser aprovada.
“Nunca vi nada semelhante na história”, diz Kalil, que interrompe a fala ao ouvir a campainha. “Hum, deve ser a comida. Estou morrendo de fome.” Liana, psicóloga e mulher de Kalil, incumbe-se da tarefa de desinfetar embalagens.
Com a maior mobilidade das pessoas e as mudanças climáticas, era esperado que uma pandemia atingisse a humanidade em cheio. Tanto que o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, lançou em 2017 a Coalizão para Inovações em Preparação para Epidemias (Cepi), grupo internacional para controle de doenças infecciosas. “Era um anfiteatro lotado, tudo de cabelo branquinho. Eu era o único brasileiro.”
A Cepi foi criada com US$ 460 milhões da Fundação Bill e Melinda Gates e apoio do Wellcome Trust e de um consórcio de nações, como Noruega, Japão e Alemanha. Kalil é um dos cinco especialistas de diferentes países destacados para avaliar a atuação da Cepi. “Estou louco para ver os dados. Saber se o dinheiro foi gasto de forma eficaz, se os pesquisadores conseguiram usar toda a estrutura para produzir vacinas.”
Nem sempre a ciência é capaz de produzir vacinas eficazes contra doenças causadas por vírus - vide a aids. Mas o médico afirma que a imunização contra o novo coronavírus tem tudo para vingar. “Quem tem gripe, cura. Quem tem covid, cura. Quem tem aids, não cura.” As dúvidas, prossegue, são se a vacina será eficaz, quantas doses serão necessárias, quanto vai custar e como será a logística para produzi-la e distribuí-la para quase 8 bilhões de pessoas.
Liana aparece com a comida, aproxima o rosto da tela, dá um alô e sai do quadro, mas não de cena. Levanto-me com o computador na mão para buscar o prato e sou observada por Kalil. “Não tem problema. Já estamos informais, me sinto de casa”, diz ele, enquanto espera para começar a comer ao mesmo tempo. “Bom apetite.” Entre porções de esfirra, babaganoush, tabule, quibe assado e kafta, a conversa segue.
A busca por vacinas é feita por etapas. Entre elas está a pesquisa básica, ou seja, o levantamento do tipo de vacina que pode ser feita. Depois vêm os testes pré-clínicos. Eles podem ser feitos em laboratórios ou em animais, mas é preciso desconfiar dos resultados. Como cientistas gostam de brincar entre eles, ratos mentem e macacos enganam.
Por fim vem a etapa clínica, em que a vacina é testada em humanos. Ela é dividida em três fases. À medida que mostra resultados seguros, segue-se para a próxima fase, com aumento do número de voluntários. Na fase 1 é testado um pequeno grupo; na fase 2, centenas de pessoas; na fase 3, milhares. Concluídas todas as etapas, é feito o registro sanitário - só então a população pode ser imunizada.
Toda vacina se baseia no mesmo princípio, treinar o sistema imunológico para lutar contra os patógenos que se aventuram dentro do corpo. As estratégias, no entanto, são as mais variadas. A do Incor é baseada em VLPs (do inglês “virus like particles”). Usa partículas semelhantes ao vírus para provocar uma reação de defesa no sistema imunológico. O ingrediente principal de sua receita são pedacinhos de “spike”, cujo formato de coroa dá nome ao grupo de vírus. “Spike” é a proteína usada pelo agente infeccioso (Sars-CoV-2), que se liga a uma proteína situada no exterior das células humanas, para que ele entre em nosso corpo.
Resumindo, é como se o vírus fosse uma chave e a enzima da célula, a fechadura. A célula, desavisada, deixa o invasor entrar e se multiplicar. É preciso que elas aprendam a reconhecer o inimigo para atacá-lo antes que seja tarde. “Como você sabe que tem um vírus no seu organismo? Imagina que entra alguém em um prédio. Como identificar se é inquilino ou se é um invasor circulando? São mecanismos sutis que a gente está estudando para que possam ser aplicados na vacina.”
Sua pesquisa - financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações - não é a única brasileira cadastrada na OMS. Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Minas Gerais utilizam o vírus da influenza para gerar respostas imunológicas.
Na avaliação de Kalil e da OMS, o estudo mais avançado sobre a vacina é o da Universidade de Oxford, no Reino Unido, com parceria da farmacêutica AstraZeneca. No começo de junho o grupo iniciou a terceira fase de testes clínicos. O Brasil será o primeiro país fora da região a testar a vacina contra a covid-19.
Foram menos de seis meses entre o início das pesquisas e a fase 3. Segundo Kalil, a transição acelerada foi possível porque o grupo inglês usou como referência estudos que já tinham sido feitos para a Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars) e a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers), também causadas por coronavírus e iniciados após a reunião que fundou o Cepi, três anos atrás. Oxford promete concluir seu estudo no segundo semestre. “Mas chegar na frente não significa ganhar a corrida”, diz Kalil. “Vitória não é cruzar primeiro a linha de chegada, mas apresentar a melhor vacina.”
A única certeza da pesquisa inglesa até agora, para ele, é que a imunização não é tóxica e gera anticorpos neutralizantes. “O teste para valer é feito com grupos de milhares de pessoas de raças, idades e condições físicas das mais variadas. O grupo testou a vacina em macacos e provou que eles não têm pneumonia”, diz. “Por outro lado, é uma vacina que não destrói o vírus, pode ser perigosa. O vírus permanece nas mucosas dos macacos durante muito tempo, então a pessoa pode se tornar um vetor de transmissão.”
Outra questão é que a participação de brasileiros na pesquisa inglesa não garante o primeiro lugar na fila. Além de dinheiro, diplomacia é moeda de troca para negociar imunização. No sábado passado, o Ministério da Saúde anunciou que entrou no consórcio internacional liderado pela Universidade de Oxford e pela AstraZeneca para o desenvolvimento da vacina. Vai gastar US$ 127 milhões (cerca de R$ 680 milhões).
O acordo prevê a compra de lotes de vacina e transferência tecnológica: se demonstrada a eficácia, serão 100 milhões de doses à disposição dos brasileiros. Na fase inicial, de risco assumido, serão 30,4 milhões de doses - com dois lotes que devem ser entregues à Fiocruz. “Se a vacina der certo, eles prometeram as primeiras doses para o começo do ano que vem [dezembro de 2020 e janeiro de 2021]. Ótimo”, diz Kalil. E se não der certo?
“Todo processo de desenvolvimento de vacinas e medicamentos pressupõe risco. Sem risco, sem bônus. Se o Brasil não participar do risco, não terá prioridade.” Caso seja aprovada em caráter final, a vacina terá mais 70 milhões de doses no Brasil - cada uma com preço estimado de US$ 2,3.
Provocações à China, como as do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, e a má reputação internacional do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não ajudam o Brasil. “A maioria dos cientistas é de centro-esquerda ou de esquerda, então acho que essa raiva à ciência é puramente ideológica”, diz Kalil.
A China também é um dos países promissores na descoberta da vacina. A técnica dos pesquisadores chineses é desenvolvida com o vírus inativado, a mesma usada na vacina contra a pólio e o sarampo. O estudo já passou pelas primeiras fases de testes, e em julho começa a terceira fase em São Paulo. A farmacêutica chinesa Sinovac Biotech firmou parceria com o Instituto Butantan para testar e produzir uma vacina tão logo exista e seja aprovada para uso. Mas não sairá de graça. Além de fornecer voluntários e antes mesmo de a vacina provar eficácia em humanos, o Brasil vai desembolsar algo em torno de R$ 90 milhões para selar o acordo.
Vacinas de vírus inativado em geral dão resposta imunológica mais curta, não induzem a respostas fortes. “Se funcionar, e tivermos um bom acordo comercial com eles, será muito bom para o Brasil. Quando fui diretor do Butantan, construímos fábricas de vacinas que podem ser utilizadas agora”, afirma Kalil, antes de interromper o percurso do garfo à boca e olhar para o lado para escutar o que diz Liana. “Minha mulher é meu corretor. Fica aqui do lado dando palpite. Está aqui me lembrando o que preciso te falar.”
Kalil esteve à frente do Instituto e Fundação Butantan por seis anos. Em 2017 foi demitido por telefone quando estava em um evento fora do país. Pesquisadores e funcionários saíram em sua defesa para que permanecesse no cargo. À época, o afastamento foi relacionado a possíveis rusgas entre ele e o então secretário de Saúde do Estado de São Paulo, o infectologista David Uip, de quem era amigo de frequentar a casa um do outro. Chegou a ser acusado de irregularidades, mas até hoje nada foi comprovado. “Injustiça dói no fundo do coração”, diz.
Na ocasião, ao explicar o motivo do afastamento, Uip não fez referência explícita a irregularidades. Falou de problemas de gestão, mas fez questão de lembrar que o colega era um dos melhores cientistas do mundo. Kalil conta que pegou o instituto logo após o incêndio que destruiu o maior acervo de cobras do país, em péssimas condições, com pouco dinheiro e iniciativas paradas. Do legado que deixou, fazem parte as fábricas para produção de vacinas contra a dengue e a raiva. “No Brasil ainda morre muita gente de raiva.” A piada involuntária arranca risadas. “E não estou falando de política”, acrescenta.
No fim de maio, a indústria farmacêutica americana Moderna anunciou que os primeiros testes em humanos de uma vacina para a covid-19 tinham dado resultados positivos. O comunicado provocou euforia nas bolsas de valores. A aposta da companhia usa a sequência genética de uma molécula de ácido ribonucleico (RNA), presente tanto em células humanas quanto no vírus. A ideia é modificar o RNA mensageiro e inseri-lo no corpo humano. Ao reconhecer a presença dessa substância, o processo desencadearia, em tese, uma resposta imune sem risco.
No entanto, é cedo para comemorar. Kalil lista as razões: apenas 8 dos 45 voluntários do estudo desenvolveram anticorpos neutralizantes; a Moderna aposta em uma técnica que é uma promessa há anos, mas nunca vingou; métodos de vacinas mais rápidos e replicáveis em termos globais são mais interessantes.
“Mesmo que dê certo, exigiria uma fábrica superespecífica, um meio de produção que só eles vão dominar. Digamos que a Moderna seja magnânima e ceda o método para o Brasil. Até a gente construir uma fábrica, levaria anos. Não é de uma hora para outra.” Ele faz uma pausa para tomar um gole de refrigerante e acalmar o soluço. “Bom mesmo seria uma taça de vinho.” Coloca o copo sobre a mesa e retoma o raciocínio.
“É importante o Brasil desenvolver sua própria vacina, porque assim a prioridade vai ser imunizar a nossa população. Seja a Inglaterra, a China, ou os Estados Unidos, a prioridade vai ser o povo deles. Na sequência, seus melhores parceiros, sejam financeiros, comerciais ou políticos. Nós teríamos que esperar muito até vacinar os 210 milhões de brasileiros. Ter a nossa vacina traz independência tecnológica e possibilidade de exportação.”
Kalil interrompe a frase para ouvir o que diz Liana. “Olha aqui meu corretor de novo.” Vindo de Porto Alegre, o casal está junto há mais de quatro décadas e tem dois filhos - Emmanuelle, administradora, e Fernando, engenheiro. O pai dele era pediatra, teve quatro filhos e, sem perguntar, planejou a profissão de todos. Ao primogênito coube seguir seus passos. Na primeira tentativa, Kalil foi um dos primeiros colocados no vestibular para medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. No ano seguinte, passou a cursar física, concomitantemente.
Imunologia não era uma cadeira estabelecida, tanto que nem professor tinha. Kalil, então, passou a estudar por conta própria. “O sistema imune está na base de muita coisa. Entendi que seria o futuro da medicina.” A escolha da especialidade, diz, foi também uma maneira de contribuir com a saúde pública. “Não sei se a classe mais intelectualizada e abonada se dá conta da importância do SUS, que atende toda a população carente, ainda mais agora”, diz.
Ele ainda estava na residência quando foi convidado a participar de um curso de imunogenética no Rio. Quase ninguém entendeu o que dizia o professor francês. O jovem gaúcho, caçula da turma, passou a dar aulas de genética para os colegas. À noite, entre papos sobre ciências e doses de caipirinha, recebeu um convite para estudar e trabalhar em Paris.
Em um mês, Kalil e Liana (ele com 24, ela com 21 anos) casaram. Em dois dias partiram para a França, onde ele frequentou o curso de imunologia no Instituto Pasteur antes de começar a trabalhar no Laboratório de Imunogenética do Transplante Humano sob a direção de Marc Fellous, dentro da unidade de responsabilidade de Jean Dausset (1916-2009), imunologista francês Nobel de Medicina.
Quando o chefe saiu para um ano sabático no exterior, o brasileiro assumiu seu lugar. Naquele momento Dausset acenou com a possibilidade de contratação definitiva. Depois de cinco anos na França, Kalil se sentia o típico parisiense; Liana sofria de saudades do Brasil. “A gente se gostava muito, não queria se separar.” Voltaram.
Logo Liana engravidou, e Kalil conseguiu um cargo de professor-assistente de medicina na UFRGS e de pesquisador do Centro de Biotecnologia. Em 1985 foi convidado por Fulvio Pileggi e Adib Jatene (1929-2014) para participar da retomada do programa de transplantes do Incor. Kalil veio na frente e a família, um pouco depois.
Sem ter ainda onde ficar, foi morar em um quarto vazio do Incor, que estava em polvorosa com um paciente ilustre, o presidente Tancredo Neves (1910-1985). “Era uma confusão, guardas para todos os lados.” Os boletins médicos esconderam a gravidade do caso, mas o gaúcho, que ficou amigo da equipe do presidente, recebia as notícias direto da fonte.
Além de tocar o laboratório de transplantes, Kalil passou a dar aulas na Faculdade de Medicina da USP. Em 1991, passou um ano como professor visitante na Universidade Stanford, nos Estados Unidos, trabalhando no Laboratório de Tipificação Celular, que chegou a dirigir por algum tempo. “Na Califórnia a Liana queria ficar, mas àquela altura eu tinha muita responsabilidade aqui. Aí eu é que quis voltar.”
Já se foi toda a comida, em quase três horas de conversa virtual - além dos três meses de quarentena. Entre a descoberta da vacina contra a covid-19 e o momento em que estará disponível para os brasileiros, ainda tem tempo. “Até lá é lavar a mão, usar máscara e evitar aglomeração. Não temos remédio nem imunização, estamos de volta à Idade Média,” diz.
No primeiro telefonema com a reportagem, o imunologista lamentou que a conversa tivesse de ser a distância. Não fosse a quarentena, escolheria um restaurante árabe para o encontro, disse o neto de libanês. A solução é um almoço feito remotamente: a repórter anota os pratos prediletos de Kalil e encomenda o mesmo menu para os dois no Saj, na região onde ele mora, Alto de Pinheiros.
Às 12h30 de uma quarta-feira de junho, Kalil surge na tela para esta entrevista. Está na varanda de sua casa, com vista para a piscina e o jardim. Após um rápido “tour” virtual com o laptop à mão, volta à cadeira e aproxima o rosto da tela: “Viu como tenho a maior cara de árabe?”. Os colegas de escola o chamavam de turco, o que lhe deixava furioso.
O médico é diretor do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor), da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Apesar do mesmo sobrenome, não é parente de Roberto Kalil Filho, presidente do instituto. “Brincamos que somos irmãos, ambos presidentes do Incor. Dá muita confusão, mas não somos parentes.” A função principal de Jorge Kalil é planejar experimentos, interpretar os resultados e definir as etapas seguintes. Não precisa estar na bancada com a pipeta na mão, mas vai ao laboratório uma vez por semana. Ele lidera também um outro grupo no Incor, focalizado em transplante de órgãos, atividade que continua funcionando na pandemia. No total, cerca de 200 pessoas trabalham com ele, além dos alunos da pós-graduação.
O almoço ainda não foi entregue, mas o imunologista se serve de uma iguaria árabe para fazer uma analogia entre ciência e culinária. “Imagine o seguinte: você está na cozinha de casa e decide preparar um quibe assado”, diz. Na dúvida, prossegue, a cozinheira de quarentena liga para a mãe, mais versada na arte ancestral. De longe, a matriarca supervisiona o experimento, sugere trocar a carne por abóbora, tirar um pouco de trigo, carregar mais na pimenta. Ao tirar o prato do forno, oferece ao escrutínio da mãe para que seja dado o veredicto.
No laboratório se dá algo parecido, diz Kalil. Cientistas fazem novos experimentos a partir de procedimentos que já dominam. Com base nos resultados, analisam se a experiência funcionou, o que deu errado, o que precisa ser repetido - e assim por diante. “Às vezes você acha que vai dar uma reação, mas o resultado é outro. A ciência, a complexidade do organismo humano, é tudo muito bonito. Acontecem situações inesperadas.”
Na cozinha, na falta de um ingrediente recorre-se ao vizinho, à quitanda. No laboratório, o processo é bem mais lento. Se o pesquisador tiver um insight no meio do processo e decidir usar um reagente diferente, será obrigado a aguardar os trâmites burocráticos de liberação de verbas e de importação, que costumam ser demorados.
A ciência mundial nunca produziu tanto e em tão pouco tempo. A Organização Mundial de Saúde (OMS) lista 141 pesquisas em andamento. O Brasil tem atraído pesquisadores de outros países, mas os motivos não são nada lisonjeiros. A Inglaterra e a China, onde os trabalhos estão mais avançadas, vão iniciar testes de vacinas em voluntários brasileiros. Motivo? Com mais de uma morte por minuto, o país é um dos mais afetados pela doença. Com a curva de infecção ascendente, os resultados de testes feitos no Brasil tendem a ser mais decisivos.
Acredita-se que uma vacina contra a covid-19 pode ficar pronta no ano que vem, após 12 ou 18 meses de pesquisa. É uma velocidade sem precedentes. Para se ter uma ideia, a vacina do ebola demorou mais de 15 anos para ser aprovada.
“Nunca vi nada semelhante na história”, diz Kalil, que interrompe a fala ao ouvir a campainha. “Hum, deve ser a comida. Estou morrendo de fome.” Liana, psicóloga e mulher de Kalil, incumbe-se da tarefa de desinfetar embalagens.
Com a maior mobilidade das pessoas e as mudanças climáticas, era esperado que uma pandemia atingisse a humanidade em cheio. Tanto que o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, lançou em 2017 a Coalizão para Inovações em Preparação para Epidemias (Cepi), grupo internacional para controle de doenças infecciosas. “Era um anfiteatro lotado, tudo de cabelo branquinho. Eu era o único brasileiro.”
A Cepi foi criada com US$ 460 milhões da Fundação Bill e Melinda Gates e apoio do Wellcome Trust e de um consórcio de nações, como Noruega, Japão e Alemanha. Kalil é um dos cinco especialistas de diferentes países destacados para avaliar a atuação da Cepi. “Estou louco para ver os dados. Saber se o dinheiro foi gasto de forma eficaz, se os pesquisadores conseguiram usar toda a estrutura para produzir vacinas.”
Nem sempre a ciência é capaz de produzir vacinas eficazes contra doenças causadas por vírus - vide a aids. Mas o médico afirma que a imunização contra o novo coronavírus tem tudo para vingar. “Quem tem gripe, cura. Quem tem covid, cura. Quem tem aids, não cura.” As dúvidas, prossegue, são se a vacina será eficaz, quantas doses serão necessárias, quanto vai custar e como será a logística para produzi-la e distribuí-la para quase 8 bilhões de pessoas.
Liana aparece com a comida, aproxima o rosto da tela, dá um alô e sai do quadro, mas não de cena. Levanto-me com o computador na mão para buscar o prato e sou observada por Kalil. “Não tem problema. Já estamos informais, me sinto de casa”, diz ele, enquanto espera para começar a comer ao mesmo tempo. “Bom apetite.” Entre porções de esfirra, babaganoush, tabule, quibe assado e kafta, a conversa segue.
A busca por vacinas é feita por etapas. Entre elas está a pesquisa básica, ou seja, o levantamento do tipo de vacina que pode ser feita. Depois vêm os testes pré-clínicos. Eles podem ser feitos em laboratórios ou em animais, mas é preciso desconfiar dos resultados. Como cientistas gostam de brincar entre eles, ratos mentem e macacos enganam.
Por fim vem a etapa clínica, em que a vacina é testada em humanos. Ela é dividida em três fases. À medida que mostra resultados seguros, segue-se para a próxima fase, com aumento do número de voluntários. Na fase 1 é testado um pequeno grupo; na fase 2, centenas de pessoas; na fase 3, milhares. Concluídas todas as etapas, é feito o registro sanitário - só então a população pode ser imunizada.
Toda vacina se baseia no mesmo princípio, treinar o sistema imunológico para lutar contra os patógenos que se aventuram dentro do corpo. As estratégias, no entanto, são as mais variadas. A do Incor é baseada em VLPs (do inglês “virus like particles”). Usa partículas semelhantes ao vírus para provocar uma reação de defesa no sistema imunológico. O ingrediente principal de sua receita são pedacinhos de “spike”, cujo formato de coroa dá nome ao grupo de vírus. “Spike” é a proteína usada pelo agente infeccioso (Sars-CoV-2), que se liga a uma proteína situada no exterior das células humanas, para que ele entre em nosso corpo.
Resumindo, é como se o vírus fosse uma chave e a enzima da célula, a fechadura. A célula, desavisada, deixa o invasor entrar e se multiplicar. É preciso que elas aprendam a reconhecer o inimigo para atacá-lo antes que seja tarde. “Como você sabe que tem um vírus no seu organismo? Imagina que entra alguém em um prédio. Como identificar se é inquilino ou se é um invasor circulando? São mecanismos sutis que a gente está estudando para que possam ser aplicados na vacina.”
Sua pesquisa - financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações - não é a única brasileira cadastrada na OMS. Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Minas Gerais utilizam o vírus da influenza para gerar respostas imunológicas.
Na avaliação de Kalil e da OMS, o estudo mais avançado sobre a vacina é o da Universidade de Oxford, no Reino Unido, com parceria da farmacêutica AstraZeneca. No começo de junho o grupo iniciou a terceira fase de testes clínicos. O Brasil será o primeiro país fora da região a testar a vacina contra a covid-19.
Foram menos de seis meses entre o início das pesquisas e a fase 3. Segundo Kalil, a transição acelerada foi possível porque o grupo inglês usou como referência estudos que já tinham sido feitos para a Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars) e a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers), também causadas por coronavírus e iniciados após a reunião que fundou o Cepi, três anos atrás. Oxford promete concluir seu estudo no segundo semestre. “Mas chegar na frente não significa ganhar a corrida”, diz Kalil. “Vitória não é cruzar primeiro a linha de chegada, mas apresentar a melhor vacina.”
A única certeza da pesquisa inglesa até agora, para ele, é que a imunização não é tóxica e gera anticorpos neutralizantes. “O teste para valer é feito com grupos de milhares de pessoas de raças, idades e condições físicas das mais variadas. O grupo testou a vacina em macacos e provou que eles não têm pneumonia”, diz. “Por outro lado, é uma vacina que não destrói o vírus, pode ser perigosa. O vírus permanece nas mucosas dos macacos durante muito tempo, então a pessoa pode se tornar um vetor de transmissão.”
Outra questão é que a participação de brasileiros na pesquisa inglesa não garante o primeiro lugar na fila. Além de dinheiro, diplomacia é moeda de troca para negociar imunização. No sábado passado, o Ministério da Saúde anunciou que entrou no consórcio internacional liderado pela Universidade de Oxford e pela AstraZeneca para o desenvolvimento da vacina. Vai gastar US$ 127 milhões (cerca de R$ 680 milhões).
O acordo prevê a compra de lotes de vacina e transferência tecnológica: se demonstrada a eficácia, serão 100 milhões de doses à disposição dos brasileiros. Na fase inicial, de risco assumido, serão 30,4 milhões de doses - com dois lotes que devem ser entregues à Fiocruz. “Se a vacina der certo, eles prometeram as primeiras doses para o começo do ano que vem [dezembro de 2020 e janeiro de 2021]. Ótimo”, diz Kalil. E se não der certo?
“Todo processo de desenvolvimento de vacinas e medicamentos pressupõe risco. Sem risco, sem bônus. Se o Brasil não participar do risco, não terá prioridade.” Caso seja aprovada em caráter final, a vacina terá mais 70 milhões de doses no Brasil - cada uma com preço estimado de US$ 2,3.
Provocações à China, como as do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, e a má reputação internacional do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não ajudam o Brasil. “A maioria dos cientistas é de centro-esquerda ou de esquerda, então acho que essa raiva à ciência é puramente ideológica”, diz Kalil.
A China também é um dos países promissores na descoberta da vacina. A técnica dos pesquisadores chineses é desenvolvida com o vírus inativado, a mesma usada na vacina contra a pólio e o sarampo. O estudo já passou pelas primeiras fases de testes, e em julho começa a terceira fase em São Paulo. A farmacêutica chinesa Sinovac Biotech firmou parceria com o Instituto Butantan para testar e produzir uma vacina tão logo exista e seja aprovada para uso. Mas não sairá de graça. Além de fornecer voluntários e antes mesmo de a vacina provar eficácia em humanos, o Brasil vai desembolsar algo em torno de R$ 90 milhões para selar o acordo.
Vacinas de vírus inativado em geral dão resposta imunológica mais curta, não induzem a respostas fortes. “Se funcionar, e tivermos um bom acordo comercial com eles, será muito bom para o Brasil. Quando fui diretor do Butantan, construímos fábricas de vacinas que podem ser utilizadas agora”, afirma Kalil, antes de interromper o percurso do garfo à boca e olhar para o lado para escutar o que diz Liana. “Minha mulher é meu corretor. Fica aqui do lado dando palpite. Está aqui me lembrando o que preciso te falar.”
Kalil esteve à frente do Instituto e Fundação Butantan por seis anos. Em 2017 foi demitido por telefone quando estava em um evento fora do país. Pesquisadores e funcionários saíram em sua defesa para que permanecesse no cargo. À época, o afastamento foi relacionado a possíveis rusgas entre ele e o então secretário de Saúde do Estado de São Paulo, o infectologista David Uip, de quem era amigo de frequentar a casa um do outro. Chegou a ser acusado de irregularidades, mas até hoje nada foi comprovado. “Injustiça dói no fundo do coração”, diz.
Na ocasião, ao explicar o motivo do afastamento, Uip não fez referência explícita a irregularidades. Falou de problemas de gestão, mas fez questão de lembrar que o colega era um dos melhores cientistas do mundo. Kalil conta que pegou o instituto logo após o incêndio que destruiu o maior acervo de cobras do país, em péssimas condições, com pouco dinheiro e iniciativas paradas. Do legado que deixou, fazem parte as fábricas para produção de vacinas contra a dengue e a raiva. “No Brasil ainda morre muita gente de raiva.” A piada involuntária arranca risadas. “E não estou falando de política”, acrescenta.
No fim de maio, a indústria farmacêutica americana Moderna anunciou que os primeiros testes em humanos de uma vacina para a covid-19 tinham dado resultados positivos. O comunicado provocou euforia nas bolsas de valores. A aposta da companhia usa a sequência genética de uma molécula de ácido ribonucleico (RNA), presente tanto em células humanas quanto no vírus. A ideia é modificar o RNA mensageiro e inseri-lo no corpo humano. Ao reconhecer a presença dessa substância, o processo desencadearia, em tese, uma resposta imune sem risco.
No entanto, é cedo para comemorar. Kalil lista as razões: apenas 8 dos 45 voluntários do estudo desenvolveram anticorpos neutralizantes; a Moderna aposta em uma técnica que é uma promessa há anos, mas nunca vingou; métodos de vacinas mais rápidos e replicáveis em termos globais são mais interessantes.
“Mesmo que dê certo, exigiria uma fábrica superespecífica, um meio de produção que só eles vão dominar. Digamos que a Moderna seja magnânima e ceda o método para o Brasil. Até a gente construir uma fábrica, levaria anos. Não é de uma hora para outra.” Ele faz uma pausa para tomar um gole de refrigerante e acalmar o soluço. “Bom mesmo seria uma taça de vinho.” Coloca o copo sobre a mesa e retoma o raciocínio.
“É importante o Brasil desenvolver sua própria vacina, porque assim a prioridade vai ser imunizar a nossa população. Seja a Inglaterra, a China, ou os Estados Unidos, a prioridade vai ser o povo deles. Na sequência, seus melhores parceiros, sejam financeiros, comerciais ou políticos. Nós teríamos que esperar muito até vacinar os 210 milhões de brasileiros. Ter a nossa vacina traz independência tecnológica e possibilidade de exportação.”
Kalil interrompe a frase para ouvir o que diz Liana. “Olha aqui meu corretor de novo.” Vindo de Porto Alegre, o casal está junto há mais de quatro décadas e tem dois filhos - Emmanuelle, administradora, e Fernando, engenheiro. O pai dele era pediatra, teve quatro filhos e, sem perguntar, planejou a profissão de todos. Ao primogênito coube seguir seus passos. Na primeira tentativa, Kalil foi um dos primeiros colocados no vestibular para medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. No ano seguinte, passou a cursar física, concomitantemente.
Imunologia não era uma cadeira estabelecida, tanto que nem professor tinha. Kalil, então, passou a estudar por conta própria. “O sistema imune está na base de muita coisa. Entendi que seria o futuro da medicina.” A escolha da especialidade, diz, foi também uma maneira de contribuir com a saúde pública. “Não sei se a classe mais intelectualizada e abonada se dá conta da importância do SUS, que atende toda a população carente, ainda mais agora”, diz.
Ele ainda estava na residência quando foi convidado a participar de um curso de imunogenética no Rio. Quase ninguém entendeu o que dizia o professor francês. O jovem gaúcho, caçula da turma, passou a dar aulas de genética para os colegas. À noite, entre papos sobre ciências e doses de caipirinha, recebeu um convite para estudar e trabalhar em Paris.
Em um mês, Kalil e Liana (ele com 24, ela com 21 anos) casaram. Em dois dias partiram para a França, onde ele frequentou o curso de imunologia no Instituto Pasteur antes de começar a trabalhar no Laboratório de Imunogenética do Transplante Humano sob a direção de Marc Fellous, dentro da unidade de responsabilidade de Jean Dausset (1916-2009), imunologista francês Nobel de Medicina.
Quando o chefe saiu para um ano sabático no exterior, o brasileiro assumiu seu lugar. Naquele momento Dausset acenou com a possibilidade de contratação definitiva. Depois de cinco anos na França, Kalil se sentia o típico parisiense; Liana sofria de saudades do Brasil. “A gente se gostava muito, não queria se separar.” Voltaram.
Logo Liana engravidou, e Kalil conseguiu um cargo de professor-assistente de medicina na UFRGS e de pesquisador do Centro de Biotecnologia. Em 1985 foi convidado por Fulvio Pileggi e Adib Jatene (1929-2014) para participar da retomada do programa de transplantes do Incor. Kalil veio na frente e a família, um pouco depois.
Sem ter ainda onde ficar, foi morar em um quarto vazio do Incor, que estava em polvorosa com um paciente ilustre, o presidente Tancredo Neves (1910-1985). “Era uma confusão, guardas para todos os lados.” Os boletins médicos esconderam a gravidade do caso, mas o gaúcho, que ficou amigo da equipe do presidente, recebia as notícias direto da fonte.
Além de tocar o laboratório de transplantes, Kalil passou a dar aulas na Faculdade de Medicina da USP. Em 1991, passou um ano como professor visitante na Universidade Stanford, nos Estados Unidos, trabalhando no Laboratório de Tipificação Celular, que chegou a dirigir por algum tempo. “Na Califórnia a Liana queria ficar, mas àquela altura eu tinha muita responsabilidade aqui. Aí eu é que quis voltar.”
Já se foi toda a comida, em quase três horas de conversa virtual - além dos três meses de quarentena. Entre a descoberta da vacina contra a covid-19 e o momento em que estará disponível para os brasileiros, ainda tem tempo. “Até lá é lavar a mão, usar máscara e evitar aglomeração. Não temos remédio nem imunização, estamos de volta à Idade Média,” diz.
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