Quando os Rolling Stones tocaram You Can’t Always Get What You Want pela primeira vez em público, Mick Jagger tinha 25 anos. Estava com uma camiseta colada rosa, lábios pintados de vermelho paixão, sombra nos olhos e pulseira cravejada, e se movia com uma sensualidade provocante, para o deleite de todas as condições sexuais. Uma imagem difícil de localizar entre as preferências estéticas de Donald Trump, que insiste em se apropriar dessa música dos Stones em seus comícios. O assunto ganhou contornos graves, já que Jagger e Keith Richards acabam de anunciar que adotarão ações legais se Trump não parar de utilizar a música, escreve Carlos Marcos, de Madri, para o El País, em artigo publicado dia 28/6 no site do jornal espanhol. Continua a seguir.
Aquela primeira vez de You Can’t Always Get What You Want ocorreu em um especial da BBC chamado The Rolling Stones Rock and Roll Circus, um programa gravado em 11 de dezembro de 1968 e idealizado por Mick Jagger. O cantor dos Stones foi o mestre de cerimônias de um circo de rock pelo qual passaram grandes estrelas do gênero, como John Lennon, The Who, Eric Clapton, Yoko Ono, Taj Mahal, Marianne Faithfull e Jethro Tull. Os participantes não só apresentavam seus próprios sucessos, como também se misturavam para tocar os dos outros, numa confraternização roqueira.
Uma pequena plateia de jovens vestidos com túnicas de cores vivas (amarelo, rosa, vermelho) dançava e admirava, boquiaberta, seus ídolos a uma distância inalcançável para qualquer outro fã. Brian Jones, o Stone desventurado, é visto cabisbaixo com sua guitarra Gibson Les Paul dourada, provavelmente cheio de analgésicos. Foi sua última aparição em público. Seis meses depois, foi expulso dos Stones e, em 3 de julho de 1969, foi encontrado sem vida na piscina de sua casa. O Rock and Roll Circus não chegou a ser transmitido. Jagger não ficou convencido com o resultado e vetou a exibição. Foi lançado em vídeo 28 anos depois, em 1996.
Aquela música, You Can’t Always Get What You Want, incluída no disco dos Rolling Stones de 1969 Let It Bleed, foi tocada desde então em quase todas as turnês da banda de Jagger e Richards. É um dos momentos de relaxamento de seus explosivos shows, uma canção composta no final dos anos sessenta, a década dos sonhos, a época em que os jovens pensavam em transformar o mundo.
É uma peça crepuscular, de mais de sete minutos, que assume a desilusão do sonho hippie, com a Guerra do Vietnã de fundo e a escalada nuclear das duas grandes potências. Seu título já mostra isso: “você nem sempre consegue o que quer”. Foi precisamente essa música a mais recente que os Stones tocaram ao vivo: eles a escolheram para sua participação no festival online One World: Together At Home, em abril, durante o confinamento.
E aqui entra em ação o impetuoso Donald Trump. Novembro de 2016: Trump acaba de ser eleito presidente dos Estados Unidos. Logo depois do discurso da vitória, diante de seus agitados partidários reunidos no hotel Hilton de Nova York, You Can’t Always Get What You Want começa a soar nos alto-falantes Trump caminha feliz entre seus seguidores, embalado pela música dos Stones. Jagger pega seu celular e tuíta: “Estou vendo as notícias. Talvez ele me chame para cantar You Can’t Always Get What You Want na posse, ha!”. Aqui percebemos que alguns astros gerenciam pessoalmente suas contas nas mídias sociais.
Estava ironizando, é claro. Já durante a campanha eleitoral, Trump tinha selecionado essa música, e o grupo inglês teve de redigir um comunicado: “Os Rolling Stones nunca autorizaram a campanha de Trump a usar suas músicas e pedem que pare de fazer isso imediatamente”. O magnata e político ignorou. Também escolheu pontualmente para seus eventos músicas de Adele, Bruce Springsteen e R.E.M., para a irritação desses artistas, mais propensos às políticas de Barack Obama.
Quatro anos se passaram e os Estados Unidos estão imersos em outra campanha eleitoral. Trump parou de utilizar algumas músicas, mas não You Can’t Always Get What You Want. Usou-a em 20 de junho em um comício em Tulsa, Oklahoma. Depois de chamar seus seguidores de “guerreiros”, ironizar a relação entre China e Covid-19 (usando o trocadilho “kung-flu” para se referir ao coronavírus causador da doença) e afirmar que seu adversário democrata, Joe Biden, é “um fantoche do extremismo de esquerda”, soou a música dos Stones.
A banda deu um passo a mais e ameaça levar o caso aos tribunais. Foi o que Assim o expressa em um comunicado difundido pela imprensa americana que há publicitado a conta de Twitter dos Rolling Stones: “Apesar das recomendações para parar, Donald Trump continua insistindo. Por isso, os Rolling Stones estão tomando medidas adicionais para impedir que utilize suas canções no futuro em qualquer uma de suas campanhas políticas. A equipe jurídica dos Stones está trabalhando com a BMI [associação internacional de proteção de direitos autorais], que notificou a campanha de Trump em nome dos Stones de que o uso não autorizado de suas canções constituirá uma violação de seu acordo de licença. Se Donald Trump ignorar a exclusão e persistir, enfrentará uma ação por reprodução não autorizada de música”.
Agora, todos aguardam para ver se no próximo comício de Trump serão ouvidos os acordes sonhadores de You Can’t Always Get What You Want.
Aquela primeira vez de You Can’t Always Get What You Want ocorreu em um especial da BBC chamado The Rolling Stones Rock and Roll Circus, um programa gravado em 11 de dezembro de 1968 e idealizado por Mick Jagger. O cantor dos Stones foi o mestre de cerimônias de um circo de rock pelo qual passaram grandes estrelas do gênero, como John Lennon, The Who, Eric Clapton, Yoko Ono, Taj Mahal, Marianne Faithfull e Jethro Tull. Os participantes não só apresentavam seus próprios sucessos, como também se misturavam para tocar os dos outros, numa confraternização roqueira.
Uma pequena plateia de jovens vestidos com túnicas de cores vivas (amarelo, rosa, vermelho) dançava e admirava, boquiaberta, seus ídolos a uma distância inalcançável para qualquer outro fã. Brian Jones, o Stone desventurado, é visto cabisbaixo com sua guitarra Gibson Les Paul dourada, provavelmente cheio de analgésicos. Foi sua última aparição em público. Seis meses depois, foi expulso dos Stones e, em 3 de julho de 1969, foi encontrado sem vida na piscina de sua casa. O Rock and Roll Circus não chegou a ser transmitido. Jagger não ficou convencido com o resultado e vetou a exibição. Foi lançado em vídeo 28 anos depois, em 1996.
Aquela música, You Can’t Always Get What You Want, incluída no disco dos Rolling Stones de 1969 Let It Bleed, foi tocada desde então em quase todas as turnês da banda de Jagger e Richards. É um dos momentos de relaxamento de seus explosivos shows, uma canção composta no final dos anos sessenta, a década dos sonhos, a época em que os jovens pensavam em transformar o mundo.
É uma peça crepuscular, de mais de sete minutos, que assume a desilusão do sonho hippie, com a Guerra do Vietnã de fundo e a escalada nuclear das duas grandes potências. Seu título já mostra isso: “você nem sempre consegue o que quer”. Foi precisamente essa música a mais recente que os Stones tocaram ao vivo: eles a escolheram para sua participação no festival online One World: Together At Home, em abril, durante o confinamento.
E aqui entra em ação o impetuoso Donald Trump. Novembro de 2016: Trump acaba de ser eleito presidente dos Estados Unidos. Logo depois do discurso da vitória, diante de seus agitados partidários reunidos no hotel Hilton de Nova York, You Can’t Always Get What You Want começa a soar nos alto-falantes Trump caminha feliz entre seus seguidores, embalado pela música dos Stones. Jagger pega seu celular e tuíta: “Estou vendo as notícias. Talvez ele me chame para cantar You Can’t Always Get What You Want na posse, ha!”. Aqui percebemos que alguns astros gerenciam pessoalmente suas contas nas mídias sociais.
Estava ironizando, é claro. Já durante a campanha eleitoral, Trump tinha selecionado essa música, e o grupo inglês teve de redigir um comunicado: “Os Rolling Stones nunca autorizaram a campanha de Trump a usar suas músicas e pedem que pare de fazer isso imediatamente”. O magnata e político ignorou. Também escolheu pontualmente para seus eventos músicas de Adele, Bruce Springsteen e R.E.M., para a irritação desses artistas, mais propensos às políticas de Barack Obama.
Quatro anos se passaram e os Estados Unidos estão imersos em outra campanha eleitoral. Trump parou de utilizar algumas músicas, mas não You Can’t Always Get What You Want. Usou-a em 20 de junho em um comício em Tulsa, Oklahoma. Depois de chamar seus seguidores de “guerreiros”, ironizar a relação entre China e Covid-19 (usando o trocadilho “kung-flu” para se referir ao coronavírus causador da doença) e afirmar que seu adversário democrata, Joe Biden, é “um fantoche do extremismo de esquerda”, soou a música dos Stones.
A banda deu um passo a mais e ameaça levar o caso aos tribunais. Foi o que Assim o expressa em um comunicado difundido pela imprensa americana que há publicitado a conta de Twitter dos Rolling Stones: “Apesar das recomendações para parar, Donald Trump continua insistindo. Por isso, os Rolling Stones estão tomando medidas adicionais para impedir que utilize suas canções no futuro em qualquer uma de suas campanhas políticas. A equipe jurídica dos Stones está trabalhando com a BMI [associação internacional de proteção de direitos autorais], que notificou a campanha de Trump em nome dos Stones de que o uso não autorizado de suas canções constituirá uma violação de seu acordo de licença. Se Donald Trump ignorar a exclusão e persistir, enfrentará uma ação por reprodução não autorizada de música”.
Agora, todos aguardam para ver se no próximo comício de Trump serão ouvidos os acordes sonhadores de You Can’t Always Get What You Want.
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