Em mais uma colaboração para o blog, o cientista político Wagner Iglecias analisa as dificuldades do PFL e PSDB em fazer uma oposição responsável ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A seguir, a íntegra do texto de Iglecias.
Definitivamente, ser de oposição no Brasil não é fácil. O presidencialismo brasileiro, embora não confira maioria automática ao presidente de turno no Congresso Nacional, dá ao Poder Executivo um poder de atração para si sobre as mais diversas correntes políticas, sempre sequiosas em dividir o poder com aquele agraciado pelas urnas para o cargo de primeiro mandatário da nação. Isso tem ocorrido em nossa história recente de forma cíclica, e no caso específico do atual governo, o sistema político parece ter como referência primeira e última a figura do presidente Lula, eleito e reeleito com uma enormidade de votos. Num modelo assim é dificil resistir nas trincheiras da oposição, tal como vemos com alguns partidos que ou vem encolhendo desde o final do ano passado ou que encontram-se numa espécie de crise existencial, buscando novas bandeiras e novos discursos a fim de reconquistar corações e mentes na sociedade.
Tucanos e pefelistas atravessam um momento de crise. Não bastasse a derrota nas urnas em novembro, ambos os partidos passam por período sucessório, sempre sujeito a rusgas e desgaste entre as correntes que disputam o poder. No ninho tucano parece haver grande equilíbrio entre os grupos que lutam pelo comando do partido, enquanto entre os pefelistas uma espécie de sucessão geracional parece estar em marcha, numa engenharia política complexa que dá os cargos de direção do partido a gente jovem, mas que ao mesmo tempo confere aos velhos caciques graus relevantes de poder na definição do futuro da legenda.
Se a disputa interna do PSDB é crucial para a definição do nome que representará o partido na sucessão presidencial de 2010, no PFL a mudança de nome para Partido Democrático (PD) insere-se numa estratégia de reposicionamento de marca, com os herdeiros da antiga Arena tentando mostrar-se ao país como modernos e progressistas, ainda que o PFL seja identificado com interesses dos mais conservadores presentes na sociedade brasileira.
Nada mais acertado, posto que as urnas têm sido duras com os pefelistas nas eleições recentes. E nada tão novo quando nos recordamos, por exemplo, que movimento semelhante, em direção ao centro do espectro político, foi feito pelo PT a partir de 1995, numa clara tentativa de alargar o perfil de eleitores do partido.
Pensando especificamente em nomes, não deixa de ser interessante que Rodrigo Maia passe a ocupar a presidência do PD, ainda que as antigas lideranças continuem sendo peças muito importantes no xadrez pefelista. Resta saber o que vai ser de Gilberto Kassab, outro jovem quadro do partido, empossado prefeito da maior cidade do país sem ter tido um único voto para tanto. Ainda não tendo conseguido conferir uma marca à sua gestão, o futuro político do alcaide paulistano deverá depender da manutenção do consórcio que seu partido mantém com o PSDB em São Paulo.
Entre os tucanos, por outro lado, apresenta-se um cenário ainda difícil de discernir, embora a luta por espaço esteja a todo vapor e venha transbordando, surpreendentemente, para as páginas da grande imprensa paulista. Além disso os variados graus de proximidade dos setores do partido com o governo federal parecem constituir-se numa questão extremamente delicada no ninho tucano. Se o que PFL e PSDB vivem, cada qual a seu modo, não pode ser chamado de crise, no mínimo pode ser chamado de momento de redefinições. Enquanto Lula, de seu modo e a seu tempo, vai compondo sua equipe para o segundo mandato, a oposição vai buscando, na medida do possível, reorganizar-se. Os próximos meses serão cruciais para os movimentos de governo e oposição, com reflexos diretos na eleição municipal do ano que vem e na sucessão presidencial de 2010.
Wagner Iglecias é sociólogo e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.
Definitivamente, ser de oposição no Brasil não é fácil. O presidencialismo brasileiro, embora não confira maioria automática ao presidente de turno no Congresso Nacional, dá ao Poder Executivo um poder de atração para si sobre as mais diversas correntes políticas, sempre sequiosas em dividir o poder com aquele agraciado pelas urnas para o cargo de primeiro mandatário da nação. Isso tem ocorrido em nossa história recente de forma cíclica, e no caso específico do atual governo, o sistema político parece ter como referência primeira e última a figura do presidente Lula, eleito e reeleito com uma enormidade de votos. Num modelo assim é dificil resistir nas trincheiras da oposição, tal como vemos com alguns partidos que ou vem encolhendo desde o final do ano passado ou que encontram-se numa espécie de crise existencial, buscando novas bandeiras e novos discursos a fim de reconquistar corações e mentes na sociedade.
Tucanos e pefelistas atravessam um momento de crise. Não bastasse a derrota nas urnas em novembro, ambos os partidos passam por período sucessório, sempre sujeito a rusgas e desgaste entre as correntes que disputam o poder. No ninho tucano parece haver grande equilíbrio entre os grupos que lutam pelo comando do partido, enquanto entre os pefelistas uma espécie de sucessão geracional parece estar em marcha, numa engenharia política complexa que dá os cargos de direção do partido a gente jovem, mas que ao mesmo tempo confere aos velhos caciques graus relevantes de poder na definição do futuro da legenda.
Se a disputa interna do PSDB é crucial para a definição do nome que representará o partido na sucessão presidencial de 2010, no PFL a mudança de nome para Partido Democrático (PD) insere-se numa estratégia de reposicionamento de marca, com os herdeiros da antiga Arena tentando mostrar-se ao país como modernos e progressistas, ainda que o PFL seja identificado com interesses dos mais conservadores presentes na sociedade brasileira.
Nada mais acertado, posto que as urnas têm sido duras com os pefelistas nas eleições recentes. E nada tão novo quando nos recordamos, por exemplo, que movimento semelhante, em direção ao centro do espectro político, foi feito pelo PT a partir de 1995, numa clara tentativa de alargar o perfil de eleitores do partido.
Pensando especificamente em nomes, não deixa de ser interessante que Rodrigo Maia passe a ocupar a presidência do PD, ainda que as antigas lideranças continuem sendo peças muito importantes no xadrez pefelista. Resta saber o que vai ser de Gilberto Kassab, outro jovem quadro do partido, empossado prefeito da maior cidade do país sem ter tido um único voto para tanto. Ainda não tendo conseguido conferir uma marca à sua gestão, o futuro político do alcaide paulistano deverá depender da manutenção do consórcio que seu partido mantém com o PSDB em São Paulo.
Entre os tucanos, por outro lado, apresenta-se um cenário ainda difícil de discernir, embora a luta por espaço esteja a todo vapor e venha transbordando, surpreendentemente, para as páginas da grande imprensa paulista. Além disso os variados graus de proximidade dos setores do partido com o governo federal parecem constituir-se numa questão extremamente delicada no ninho tucano. Se o que PFL e PSDB vivem, cada qual a seu modo, não pode ser chamado de crise, no mínimo pode ser chamado de momento de redefinições. Enquanto Lula, de seu modo e a seu tempo, vai compondo sua equipe para o segundo mandato, a oposição vai buscando, na medida do possível, reorganizar-se. Os próximos meses serão cruciais para os movimentos de governo e oposição, com reflexos diretos na eleição municipal do ano que vem e na sucessão presidencial de 2010.
Wagner Iglecias é sociólogo e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.
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