Pular para o conteúdo principal

Ombudsman concorda: edição foi "política"

O Ombudsman da Folha de S. Paulo, Marcelo Beraba, concorda com este blog: o jornal pesou na mão na cobertura do resultado do PIB de 2006. Confira abaixo, no comentário de Beraba da Crítica Interna publicada em seu site:

A Folha fez uma edição política com o resultado do PIB divulgado ontem: "PIB de Lula empata com o de FHC". O principal enfoque do jornal foi a comparação entre os desempenhos dos dois governos - "Economia cresce 2,9%; na média, resultado do 1º mandato petista é igual ao da gestão tucana".

O "Estado" e o "Globo" destacaram o desempenho medíocre da economia: "Brasil cresce só 2,9%, bem abaixo da média mundial" ("Estado") e "Brasil cresceu em 2006 metade da média mundial" ("Globo"). O jornal do Rio também chamou a atenção para o "empate" entre Lula e FHC.

A abordagem dos jornais econômicos foi completamente diferente. Naquilo que os grandes jornais só viram aspectos negativos, "Valor" e "Gazeta Mercantil" enxergaram pontos positivos. O "Valor" ignorou, no título da manchete, o resultado do PIB de 2006 para destacar o que avalia que poderá mudar em 2007: "Demanda interna puxa atividade no primeiro bimestre". Segundo o jornal, "indústria e varejo começaram 2007 com um ritmo intenso". O jornal destaca ainda o crescimento de 3,8% do último trimestre de 2006 e avalia que a economia este ano "poderá ser melhor do que esperavam os analistas". Dos grandes, o "Estado" foi o único que também destacou na Primeira Página que "o 4º trimestre aponta para retomada econômica em 2007".

A "Gazeta Mercantil" tem uma abordagem também diferente: "Câmbio pode garantir PIB acima de US$ 1 trilhão". Refere-se a 2007.

A Folha registrou ainda (na Edição Nacional), e apropriadamente, o novo recorde da carga tributária, mas não chamou a atenção para dois outros recordes na economia: a marca de US$ 100 bilhões de reservas e o superávit primário (4,79%). Não deveria ter destacado o superávit, uma vez que vem cobrando (como hoje, no editorial "Fora de esquadro") corte "relevante" nos gastos públicos?

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe