A reforma ministerial do presidente Lula está quase completa – faltam apenas a confirmação de Reinhold Stephanes (PMDB-PR) na Agricultura e a indicação dos nomes dos substitutos de Luiz
Fernando Furlan na Indústria e, eventualmente, Waldir Pires na Defesa.
A esta altura do campeonato, já é possível perceber o sentido geral das mudanças realizadas pelo presidente para o segundo mandato. Em primeiro lugar, Lula ampliou consideravelmente a participação do PMDB em seu governo – um movimento que lhe havia sido recomendado pelo então ministro José Dirceu em 2003, antes da crise do mensalão. Boa parte dos colunistas políticos adora dizer que o PMDB é um partido dividido e que governante algum consegue obter o apoio integral da legenda. De fato, o PMDB realmente é um grande condomínio, o maior da política nacional, mas o raciocínio de que toda negociação com os peemedebistas acaba mal não leva em consideração a única alternativa possível: deixar o partido de fora da coalizão governista. Ora, neste caso governo algum consegue tranquilidade para aprovar as matérias de seu interesse no Congresso e acaba tendo de tocar a administração do país com minoria parlamentar. Isto é possível? Pode até ser – era a tese de Heloísa Helena e do pessoal do PSTU –, mas nunca foi tentado no Brasil pós-redemocratização...
Assim, as concessões feitas ao PMDB, com toda a confusão em torno do ministro da Agricultura que foi sem nunca ter sido, é o preço que Lula paga não por seus próprios pecados, mas pelo dos aliados que incorporou ao seu governo. Logo nas próximas votações no Congresso já haverá colunistas apontando as "traições" peemedebistas, o que é outra rematada bobagem: Lula e qualquer pessoa de bom senso que analisa a cena política sabe que não dá para esperar unanimidade no PMDB, dada a heterogeneidade do partido. Assim, o que o presidente tentou foi trazer para a sua base a maior parte dos parlamentares peemedebistas, e não a totalidade – uma tarefa que Jesus Cristo teria dificuldade em realizar.
PMDB à parte, o presidente decidiu também manter em postos de expressão o PP (Cidades) e o PR (Transportes), incorporando o PDT (Previdência) e diminuindo ligeiramente o espaço do PT (até agora, os petistas ficaram 14 das 35 pastas, mas cainda orrem o risco de perder a Defesa). Mudança significativa também foi o deslocamento do ministro Walfrido dos Mares Guia (PTB) para a secretaria das Relações Institucionais, que tem status de ministério e cujo titular é responsável por toda a articulação política do governo federal. Com este movimento, Lula sinaliza que pretende tentar desanuviar o ambiente e conversar mais, inclusive com a oposição – nos bastidores há quem garanta que essas conversas já estão ocorrendo.
O sonho do presidente é uma "trégua" até pelo menos 2008, facilitando assim os trabalhos no Congresso. Aliás, a confirmação de Reinhold Stephanes, um político egresso da Arena, com passagem no PDS e PFL, ex-ministro da ditadura militar e do governo Fernando Henrique Cardos, não deixa de ser também uma demonstração do presidente de que o rumo de seu governo é o centro, e não a esquerda, como temem alguns paranóicos colunistas e gritam certas manchetes dos grandes jornais brasileiros. Se há "chavismo" em Lula, deve estar guardado a sete chaves, porque nesta reforma não há o menor sinal de esquerdismo, salvo talvez a nomeação de um ministro radicalmente contrário à reforma previdenciária justamente para a pasta da Previdência.
Tudo somado, a verdade é que o presidente Lula é um negociador e está apostando as suas fichas na conciliação de interesses no segundo mandato. Pode funcionar, porque no consórcio tucano-pefelista, bastante rachado no momento, existe a expectativa de retomada do poder em 2010, caso Lula realmente não possa tentar mais um mandato. Desta forma, não interessa aos governadores tucanos José Serra (SP) e Aécio Neves (MG), por exemplo, uma crise institucional ou econômica nos próximos anos, uma vez que isto poderia alterar a atual correlação de forças que, imaginam, lhes pode ser favorável e acabar abrindo espaço para uma solução mais populista no próximo pleito. Tudo que Serra e Aécio não querem, em suma, é marola.
Do ponto de vista do PT e de Lula, a equação está aberta e há dois cenários possíveis: o atual, em que Lula não pode concorrer à reeleição, e o de um grande sucesso na política governamental de acelerar o crescimento econômico, que poderia abrir caminho para a mudança constitucional que permita a Lula o terceiro mandato. Para que a segunda hipótese se concretize, o ideal é mesmo haver um grande acordo político que permita, nos próximos dois anos, a aceleração dos trabalhos parlamentares e também do Executivo. É nisto que Lula trabalha, embora ninguém saiba ao certo se ele realmente deseja concorrer mais uma vez em 2010. Se nada mudar, porém, algumas cartas já foram colocadas na mesa: a ministra Marta Suplicy e o governador Jaques Wagner são no momento as apostas mais fortes do PT. Ainda é cedo, mas o jogo começou ontem.
Fernando Furlan na Indústria e, eventualmente, Waldir Pires na Defesa.
A esta altura do campeonato, já é possível perceber o sentido geral das mudanças realizadas pelo presidente para o segundo mandato. Em primeiro lugar, Lula ampliou consideravelmente a participação do PMDB em seu governo – um movimento que lhe havia sido recomendado pelo então ministro José Dirceu em 2003, antes da crise do mensalão. Boa parte dos colunistas políticos adora dizer que o PMDB é um partido dividido e que governante algum consegue obter o apoio integral da legenda. De fato, o PMDB realmente é um grande condomínio, o maior da política nacional, mas o raciocínio de que toda negociação com os peemedebistas acaba mal não leva em consideração a única alternativa possível: deixar o partido de fora da coalizão governista. Ora, neste caso governo algum consegue tranquilidade para aprovar as matérias de seu interesse no Congresso e acaba tendo de tocar a administração do país com minoria parlamentar. Isto é possível? Pode até ser – era a tese de Heloísa Helena e do pessoal do PSTU –, mas nunca foi tentado no Brasil pós-redemocratização...
Assim, as concessões feitas ao PMDB, com toda a confusão em torno do ministro da Agricultura que foi sem nunca ter sido, é o preço que Lula paga não por seus próprios pecados, mas pelo dos aliados que incorporou ao seu governo. Logo nas próximas votações no Congresso já haverá colunistas apontando as "traições" peemedebistas, o que é outra rematada bobagem: Lula e qualquer pessoa de bom senso que analisa a cena política sabe que não dá para esperar unanimidade no PMDB, dada a heterogeneidade do partido. Assim, o que o presidente tentou foi trazer para a sua base a maior parte dos parlamentares peemedebistas, e não a totalidade – uma tarefa que Jesus Cristo teria dificuldade em realizar.
PMDB à parte, o presidente decidiu também manter em postos de expressão o PP (Cidades) e o PR (Transportes), incorporando o PDT (Previdência) e diminuindo ligeiramente o espaço do PT (até agora, os petistas ficaram 14 das 35 pastas, mas cainda orrem o risco de perder a Defesa). Mudança significativa também foi o deslocamento do ministro Walfrido dos Mares Guia (PTB) para a secretaria das Relações Institucionais, que tem status de ministério e cujo titular é responsável por toda a articulação política do governo federal. Com este movimento, Lula sinaliza que pretende tentar desanuviar o ambiente e conversar mais, inclusive com a oposição – nos bastidores há quem garanta que essas conversas já estão ocorrendo.
O sonho do presidente é uma "trégua" até pelo menos 2008, facilitando assim os trabalhos no Congresso. Aliás, a confirmação de Reinhold Stephanes, um político egresso da Arena, com passagem no PDS e PFL, ex-ministro da ditadura militar e do governo Fernando Henrique Cardos, não deixa de ser também uma demonstração do presidente de que o rumo de seu governo é o centro, e não a esquerda, como temem alguns paranóicos colunistas e gritam certas manchetes dos grandes jornais brasileiros. Se há "chavismo" em Lula, deve estar guardado a sete chaves, porque nesta reforma não há o menor sinal de esquerdismo, salvo talvez a nomeação de um ministro radicalmente contrário à reforma previdenciária justamente para a pasta da Previdência.
Tudo somado, a verdade é que o presidente Lula é um negociador e está apostando as suas fichas na conciliação de interesses no segundo mandato. Pode funcionar, porque no consórcio tucano-pefelista, bastante rachado no momento, existe a expectativa de retomada do poder em 2010, caso Lula realmente não possa tentar mais um mandato. Desta forma, não interessa aos governadores tucanos José Serra (SP) e Aécio Neves (MG), por exemplo, uma crise institucional ou econômica nos próximos anos, uma vez que isto poderia alterar a atual correlação de forças que, imaginam, lhes pode ser favorável e acabar abrindo espaço para uma solução mais populista no próximo pleito. Tudo que Serra e Aécio não querem, em suma, é marola.
Do ponto de vista do PT e de Lula, a equação está aberta e há dois cenários possíveis: o atual, em que Lula não pode concorrer à reeleição, e o de um grande sucesso na política governamental de acelerar o crescimento econômico, que poderia abrir caminho para a mudança constitucional que permita a Lula o terceiro mandato. Para que a segunda hipótese se concretize, o ideal é mesmo haver um grande acordo político que permita, nos próximos dois anos, a aceleração dos trabalhos parlamentares e também do Executivo. É nisto que Lula trabalha, embora ninguém saiba ao certo se ele realmente deseja concorrer mais uma vez em 2010. Se nada mudar, porém, algumas cartas já foram colocadas na mesa: a ministra Marta Suplicy e o governador Jaques Wagner são no momento as apostas mais fortes do PT. Ainda é cedo, mas o jogo começou ontem.
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