Este blog concorda com Azenha em praticamente tudo que vai reproduzido abaixo. De fato, há pouco a acrescentar, apenas torcer para que desta vez o presidente Lula não ceda às pressões dos defensores do Deus Mercado e engavete o projeto. A pressão, aliás, não será pequena. A revista Veja, por exemplo, já entrou na briga detonando a idéia e nesta terça-feira um de seus rotweillers de plantão, o Reinaldo Azevedo, em seu blog, também bateu forte, mas bem mais em Azenha do que na proposta de TV Pública do governo, a qual também ataca, de maneira um tanto confusa, sem oferecer argumentos racionais aos seus leitores. Algo na linha do "a idéia é do PT, soy contra", se é do Lula, deve cheirar a Mao, Stálin e Fidel. Evidentemente, Reinaldo cala sobre a ofensiva de seu chefe José Serra na TV Cultura - deve achar que é direito do governador fazer o próximo presidente da emissora... Afinal, Serra é um tucano, democrata e homem de bem, nada tem de autoritário e nem de longe pretende controlar o jornalismo – público, é bom frisar – da Cultura.
A seguir, a íntegra do texto de Azenha.
Nelson Motta detona TV que usou para promover livro; e diz que o povo não é bobo
Nelson Motta foi entrevistado do Maurício Melo Júnior, no programa Leituras, da TV Senado.
Foi até lá promover seu segundo livro, "Mocinhas e bandidos".
Na entrevista, nem uma palavrinha sequer contra as tevês públicas, inclusive aquela que o 'produtor cultural' usou para promover o próprio livro.
Na sexta-feira, dia 16 de março de 2007, Nelson Motta decidiu falar sobre televisão.
Escreveu Fora do ar, na Folha de S. Paulo.
Basicamente, ele diz que investir em emissoras públicas é bobagem, uma vez que elas custam caro e dão pouca audiência.
O Nelson Motta quer fechar a TV Cultura de São Paulo?
Eu pergunto: e o custo para a prefeitura que abriu as calçadas para a instalação dos cabos que levam as emissoras privadas até a casa dele?
Ele sabe se isso custou aos cofres públicos ou foi bancado pelas empresas privadas?
Nelson Motta diz que, se for criada a Rede Pública de Tevê, serão abertas "centenas de novos empregos públicos para amigos e correligionários que não conseguem trabalho em emissoras melhores".
Quais são as emissoras melhores, Nelson Motta?
Aquelas que te entrevistam?
Você quer dizer que o excelente Paulo Markun está pendurado num cabide?
"A maioria absoluta dos programas desses canais poderia dispensar as antenas e ser apresentada em circuito fechado aos seus escassos telespectadores, num bar ou num ônibus. Sairia mais barato do que colocar no ar", diz o Nelson Motta.
Ou seja, baixou nele, repentinamente, uma tremenda preocupação com o audiência.
Pois eu gosto do Roda Vida.
E dos shows gravados pela TV Cultura de São Paulo.
De uma só vez, o Nelson Motta ofende os profissionais que trabalham na TV Cultura e todos aqueles que preferem a emissora aos canais comerciais - embora a distinção esteja ficando cada vez menor.
Mas o Nelson Motta está preocupado com o IBOPE.
"Quase todos [os canais públicos] são cabides de emprego, com programação pífia e audiências que somadas não chegam a um ponto de share", diz o Nelson Motta.
Eu vou ligar para o Heródoto Barbeiro, que é da CBN, para saber se ele concorda que a TV Cultura é um cabide de emprego.
Quem arrumou o emprego do Heródoto?
Qual foi o padrinho dele?
Ah, o Nelson Motta descobriu o share.
Vai ver que ele tem em casa um medidor de audiência e fica acompanhando o share da TV pública.
E quem é que diz que a audiência deve ser o único objetivo de uma emissora?
Eu não sei se o Nelson Motta sabe disso, mas as emissoras comerciais do Brasil são concessões públicas e elas também custam ao contribuinte, porque toda uma infraestrutura foi criada para permitir que elas existam.
Quantos terrenos em que estão implantadas antenas repetidoras no país foram comprados pelas emissoras comerciais?
O Nelson Motta sabe?
Repito: as tevês a cabo custam ao contribuinte brasileiro, mesmo àqueles que não tem dinheiro para assinar.
Quem é que pagou pela abertura das calçadas para a instalação dos cabos, as calçadas por onde passeiam os integrantes da República do Leblon?
Eu gostaria que o Nelson Motta pesquisasse e nos desse a resposta.
"Quando o governo, qualquer governo, fala em rede pública de tevê, a idéia é sempre "oferecer opções" (as deles) ao público", diz o artigo.
Sim, Nelson Motta, porque eu não quero ter as mesmas opções que você.
Eu quero outras.
Ou não posso escolher?
Se você pode pagar a conta da tevê a cabo e tem acesso a 100 canais, parabéns.
Se você pode pagar e tem uma coleção de DVDs, parabéns.
Mas eu acho que uma tevê pública vale a pena, sim, justamente porque poderá - se tiver dinheiro para tanto - oferecer aos moradores de Belém do Pará, ou pelo menos àqueles que não tem TV a cabo, uma cobertura mais abrangente do círio de Nazaré.
Você, que pode pagar, assista ao Manhattan Connection.
Com uma rede pública de tevê, quem sabe a gente vai assistir à transmissão do festa do Boi de Parintins, no Amazonas.
A transmissão do Boi não vende cotas no Sul Maravilha, não é Nelson Motta?
Além de ofender a todos os jornalistas e profissionais que trabalham em emissoras públicas, que produzem muitos programas de alta qualidade, o Nelson Motta agora quer dar uma de censor e nos manter "fora do ar".
Quando você passear pela calçadas do Leblon ou de Ipanema, caro coleguinha, não se esqueça de se perguntar: quem pagou a conta para enterrar os cabos que levam 100 canais até o meu apartamento?
A República do Leblon quer o Brasil dela para todos, às custas do dinheiro público.
Os integrantes dela amam a BBC, a ZDF e a NHK - todas redes públicas/estatais.
Mas não viram e não gostaram da emissora que nem entrou no ar.
Por quê?
A quem não interessa uma rede pública bem feita?
É curioso: essa turma assume a defesa da tevê golpista RCTV, da Venezuela, alegando que o fechamento dela vai implicar em perda de empregos.
Mas na hora de acabar com as tevês públicas brasileiras, tudo bem.
Lixem-se os jornalistas, repórteres cinematográficos e profissionais que trabalham nelas.
Eles produzem muitos programas bons, que valem a pena.
Confiram abaixo:
http://www.tvcultura.com.br/
http://www.tvebrasil.com.br/
Em seu artigo, Nelson Motta escreveu:
"É ótimo para a democracia que se possam acompanhar as sessões da Câmara e do Senado. Mas ninguém precisa das "programações culturais", ou pior, "jornalísticas", desses canais que só vêem quando pega fogo o circo das CPIs".
Ok, coleguinha. Então por quê você foi promover seu livro na "programação cultural" da TV Senado?
Você usou uma empresa pública para promover uma iniciativa privada.
No caso, a SUA iniciativa privada com o NOSSO dinheiro público.
Leitores que não acham o texto do Nelson Motta pedem que eu transcreva.
FORA DO AR
Rio de Janeiro - O controle remoto está cheio de canais de televisão municipais, estaduais, federais, judiciários, legislativos, educativos e culturais espalhados pelo Brasil, a um custo fabuloso. Quase todos são cabides de emprego, com programação pífia e audiências que somadas não chegam a um ponto de share. Dividindo as despesas pelo número de beneficiários, deve ser um dos custos per capita mais altos do mundo. Com os gastos para chegar a tão poucos espectadores, daria para lhes dar comida e computadores em vez de programas chatos.
A maioria absoluta dos programas desses canais poderia dispensar as antenas e ser apresentada em circuito fechado aos seus escassos espectadores, num bar ou num ônibus. Sairia mais barato do que colocar no ar.
É ótimo para a democracia que se possam acompanhar as sessões da Câmara e do Senado. Mas ninguém precisa das "programações culturais", ou pior, "jornalísticas", desses canais que só se vêem quando pega fogo o circo das CPIs.
Quando o governo, qualquer governo, desde os militares, fala em rede pública de TV, a idéia é sempre "oferecer opções" (as deles) ao público, dominado pelos pelos interesses das TVs privadas, que só pensam em ganhar dinheiro.
Os sábios acham que o povo é bobo é só vê Globo, Record, SBT e Band porque não tem nada melhor. Mas, quando essas mentes iluminadas se metem a dar "algo melhor à massa, a audiência é traço. Mas a conta é alta, paga por todos nós.
O custo previsto da RPTV, que certamente se multiplicará ao longo dos anos, é de R$ 250 milhões de nossos impostos, abrindo centenas de novos empregos públicos para amigos e correligionários que não conseguem trabalho em emissoras melhores.
Mas para que serve mais uma TV que não se vê".
Dizer o que?
Eu concordo com uma frase do Nelson Motta, aquela em que ele diz que o povo não é bobo.
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