Pular para o conteúdo principal

Aprovado por 39% ou reprovado por 61%?

O jornal Folha de S. Paulo deu manchete para a pesquisa do seu instituto, o Datafolha: "Governo de Serra tem aprovação de 39%". O enunciado, além de incorreto, é francamente favorável ao governador de São Paulo, José Serra (PSDB). Por que o jornal não levou para o título o dado inverso – "Governo de Serra é desparovado por 61%"? A resposta é simples: a partir dos dados colhidos pelo jornal, está errado dizer que a aprovação é de 39% ou a desprovação é de 61%. Os entrevistados foram instados a avaliar o governo e o fizeram dando "notas" (ótimo, bom, regular, ruim e péssimo). Do total, 39% consideram o governo bom ou ótimo, 37% acham a gestão regular e 14%, ruim ou péssima. Para avaliar a aprovação e desaprovação, é preciso fazer uma questão específica, como se faz nas pesquisas sobre o desempenho do presidente Lula.

É possível e até provável que a aprovação do governo Serra seja superior a 39%, uma vez que parte dos que a classificaram como regular tende a dizer que aprova o novo governo. Ainda assim, a manchete da Folha é favorável ao governador, pois ele não foi o único avaliado pela rodada de pesquisas do instituto. Também foi objeto da enquete do Datafolha o desempenho dos governadores Aécio Neves (PSDB), de Minas, e de Sérgio Cabral Filho (PMDB), do Rio de Janeiro. Pois bem, Serra é o pior avaliado entre os três. Aécio é quase uma unanimidade em Minas – sua aprovação é de 71% –, e Cabral obteve 48% de "ótimo e bom". Assim, o jornal poderia levar para a manchete um fato objetivo: Serra é o governador pior avaliado na primeira rodada do Datafolha...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Um pai

Bruno Covas, prefeito de São Paulo, morreu vivendo. Morreu criando novas lembranças. Morreu não deixando o câncer levar a sua vontade de resistir.  Mesmo em estado grave, mesmo em tratamento oncológico, juntou todas as suas forças para assistir ao jogo do seu time Santos, na final da Libertadores, no Maracanã, ao lado do filho.  Foi aquela loucura por carinho a alguém, superando o desgaste da viagem e o suor frio dos remédios.  Na época, ele acabou criticado nas redes sociais por ter se exposto. Afinal, o que é o futebol perto da morte?  Nada, mas não era somente futebol, mas o amor ao seu adolescente Tomás, de 15 anos, cultivado pela torcida em comum. Não vibravam unicamente pelos jogadores, e sim pela amizade invencível entre eles, escreve Fabrício Carpinejar em texto publicado nas redes sociais. Linda homenagem, vale muito a leitura, continua a seguir.  Nos noventa minutos, Bruno Covas defendia o seu legado, a sua memória antes do adeus definitivo, para que s...

Dica da Semana: Tarso de Castro, 75k de músculos e fúria, livro

Tom Cardoso faz justiça a um grande jornalista  Se vivo estivesse, o gaúcho Tarso de Castro certamente estaria indignado com o que se passa no Brasil e no mundo. Irreverente, gênio, mulherengo, brizolista entusiasmado e sobretudo um libertário, Tarso não suportaria esses tempos de ascensão de valores conservadores. O colunista que assina esta dica decidiu ser jornalista muito cedo, aos 12 anos de idade, justamente pela admiração que nutria por Tarso, então colunista da Folha de S. Paulo. Lia diariamente tudo que ele escrevia, nem sempre entendia algumas tiradas e ironias, mas acompanhou a trajetória até sua morte precoce, em 1991, aos 49 anos, de cirrose hepática, decorrente, claro, do alcoolismo que nunca admitiu tratar. O livro de Tom Cardoso recupera este personagem fundamental na história do jornalismo brasileiro, senão pela obra completa, mas pelo fato de ter fundado, em 1969, o jornal Pasquim, que veio a se transformar no baluarte da resistência à ditadura militar no perío...

Dica da semana: Nine Perfect Strangers, série

Joia no Prime traz drama perturbador que consagra Nicole Kidman  Dizer que o tempo não passou para Nicole Kidman seria tão leviano quanto irresponsável. E isso é bom. No charme (ainda fatal) de seus 54 anos, a australiana mostra que tem muita lenha para queimar e escancara o quanto as décadas de experiência lhe fizeram bem, principalmente para composição de personagens mais complexas e maduras. Nada de gatinhas vulneráveis. Ancorando a nova série Nine Perfect Strangers, disponível na Amazon Prime Video, a eterna suicide blonde de Hollywood – ok, vamos dividir o posto com Sharon Stone – empresta toda sua aura de diva para dar vida à mística Masha, uma espécie de guru dos novos tempos que desenvolveu uma técnica terapêutica polêmica, pouco acessível e para lá de exclusiva. Em um lúdico e misterioso retiro, a “Tranquillum House”, a exotérica propõe uma nova abordagem de tratamento para condições mentais e psicossociais manifestadas de diferentes formas em cada um dos nove estranhos, “...