Pular para o conteúdo principal

Chalita aumenta confusão no ninho tucano

O ex-secretário de Educação Gabriel Chalita (foto) rebateu as entrevistas publicadas ontem pela Folha de S. Paulo e comentadas aqui. Ele defendeu a gestão de seu chefe Geraldo Alckmin e aumentou a polêmica no tucanato ao criticar as medidas tomadas pelo governador José Serra na área de Educação. Chalita não bateu leve: "como educador, e não falo em nome do Geraldo, a redução (do programa Escola da Família) é um equívoco. Começa muito mal o governo Serra", disse o ex-secretário à Folha. Mais uma vez, porém, o jornal escondeu um material quente no meio do caderno de Cotidiano. Uma pena..

A seguir, a íntegra da entrevista de Chalita.

Chalita reage a críticas e ataca gestão Serra

Alvo no próprio PSDB, ex-secretário da Educação nega ter desmontado programas necessários para êxito da progressão continuada

Para ele, problemas ocorreram na implantação do programa e na falta de envolvimento das famílias com a escola


FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

Alvo de críticas no próprio PSDB após a queda de São Paulo nos principais rankings de educação, o secretário do governo Geraldo Alckmin, Gabriel Chalita, disse que o mau desempenho ocorreu devido à má implementação da progressão continuada e pela falta de envolvimento das famílias. As declarações são uma resposta aos ataques de sua antecessora, Rose Neubauer (governo Mário Covas), responsável pela implantação da progressão, que reclamou que Chalita teria desmontado alguns dos projetos essenciais para o êxito do programa. O ex-secretário atacou o governo José Serra, que reduziu pela metade o projeto Escola da Família, que prevê abertura de escolas aos finais de semana -a secretária Maria Lúcia Vasconcelos não se pronunciou.

FOLHA - Por que SP vai tão mal nos exames de qualidade de ensino?
GABRIEL CHALITA - Ele reflete um pouco a realidade brasileira. Os Estados não estão bem. E não há um culpado para esse problema. A escola sozinha não resolve os problemas educacionais. Há muitas coisas em que a educação de São Paulo melhorou, e em outras, não. O índice de evasão caiu, a repetência caiu, havia longas filas para conseguir vaga. Isso não existe mais. Há índices ruins no Saeb? Há, como no Brasil todo.

FOLHA - Mas SP cai mais do que os outros Estados no Saeb.
CHALITA - Se você pegar a minha gestão, não houve queda. De qualquer forma, não vou dizer que a educação seja a ideal. E há uma série de fatores que explicam isso. Há essa falta de envolvimento das famílias, a inclusão de alunos que estavam fora da escola e a implantação da progressão continuada.

FOLHA - O sr. fala em problemas das famílias, mas e a participação do governo no quadro negativo?
CHALITA - Falta o Estado convencer a família de que ela faz parte do processo educativo. O segundo ponto é investir mais na formação de professores. Agora, o Brasil sofre um processo em que quando você tem a troca de um governante, quem entra pára o que outro fez. Você trunca o processo.

FOLHA - Neubauer acusa o sr. de ter desmontado projetos dela.
CHALITA - Não parei nenhum processo da Rose. Não sei sobre o que ela se refere.

FOLHA - Ela citou o reforço semanal, a recuperação nas férias e a capacitação focada para professores.
CHALITA - A recuperação continuou. Só acabou a das férias, porque não estava resolvendo, mas ampliamos a recuperação paralela [na semana]. Continuei os programas de formação e ampliei-os. Os recursos para isso cresceram mais ou menos dez vezes. A única crítica que eu poderia fazer à Rose foi a forma como foi implantada a progressão continuada. Você não desce isso goela abaixo do professor, precisa convencê-lo.

FOLHA - Essa má implantação explica os maus desempenhos de SP?
CHALITA - Em parte. Como você impôs, o professor rejeitou a proposta e não educou como deveria. Mas o tempo vai mostrar que o projeto é interessante, como foi na Inglaterra, onde também houve resistência.

FOLHA - Educadores dizem que o governo não deu condições para uma boa recuperação.
CHALITA - Aos poucos, você precisa reduzir o número de alunos em sala. É um processo.

FOLHA - Mas Alckmin vetou projeto aprovado pela Assembléia que limitava o número de alunos por sala.
CHALITA - Você tem momentos. Primeiro, colocam-se todos os alunos na escola. Agora, aumenta-se a carga horária. Você não consegue fazer tudo ao mesmo tempo. Optamos por aumentar a carga. Criamos a Escola de Tempo Integral e aumentamos de quatro para seis horas a carga do ensino médio.

FOLHA - Como o sr. avalia o corte no Escola da Família?
CHALITA - A gente tinha um problema de pichação, de violência, que era imenso. E caiu muito após o projeto. Como educador, e não falo em nome do Geraldo [Alckmin], a redução é um equívoco. Começa muito mal o governo Serra.

FOLHA - Parte do dinheiro economizado deverá servir para contratar um segundo professor para a primeira série.
CHALITA - Nenhum país que deu certo na educação colocou dois professores em sala. Para que inventar? Imagine, dois professores em uma mesma sala, um vai atrapalhar o outro.
O Orçamento da secretaria hoje deve ser de R$ 11 bilhões. A Escola da Família tinha R$ 200 milhões. Não é possível que seja necessário diminuir um projeto desse para começar outro. O caminho está muito equivocado. E é uma pena que sejamos do mesmo partido.
Eu, como educador, elogio. Espero, por exemplo, que o Fernando Haddad continue como ministro [da Educação], porque eu sinto ali um técnico no ministério. Você precisa olhar com humildade para pessoas de outros partidos e elogiar. E olhar para pessoas do mesmo partido e dizer: "Que pena que pegou um programa que deu certo e vai truncá-lo".
Deve ser uma medida do governador, não dela [da secretária]. Não faço aqui uma crítica a ele. É uma visão de um educador, uma análise do programa, não das pessoas. [As medidas tomadas] são frustrantes. Até a diminuição dos ciclos para dois anos. Não acho que isso seja o mais importante. Mas eu sinto que é algo: "Preciso dar uma resposta imediata".

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

Dica da semana: Nine Perfect Strangers, série

Joia no Prime traz drama perturbador que consagra Nicole Kidman  Dizer que o tempo não passou para Nicole Kidman seria tão leviano quanto irresponsável. E isso é bom. No charme (ainda fatal) de seus 54 anos, a australiana mostra que tem muita lenha para queimar e escancara o quanto as décadas de experiência lhe fizeram bem, principalmente para composição de personagens mais complexas e maduras. Nada de gatinhas vulneráveis. Ancorando a nova série Nine Perfect Strangers, disponível na Amazon Prime Video, a eterna suicide blonde de Hollywood – ok, vamos dividir o posto com Sharon Stone – empresta toda sua aura de diva para dar vida à mística Masha, uma espécie de guru dos novos tempos que desenvolveu uma técnica terapêutica polêmica, pouco acessível e para lá de exclusiva. Em um lúdico e misterioso retiro, a “Tranquillum House”, a exotérica propõe uma nova abordagem de tratamento para condições mentais e psicossociais manifestadas de diferentes formas em cada um dos nove estranhos, “...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...