Nesta edição, teremos uma coluna diferente das habituais dicas da semana. Não teremos resenha sobre um livro, filme, série, mas uma análise sobre a cobertura da imprensa da maior crise de saúde pública da história do nosso país. E este tema surgiu a partir de ua provocação de um querido cliente, Paulo Henrique Ferreira, o PH, sócio fundador da Barões Digital Publishing. Foi ele quem mandou, no nosso grupo de whatsapp, a imagem ao lado, fazendo em seguida a provocação: o UOL tem oferecido uma cobertura sensacionalista da evolução da pandemia, como atesta a descabida foto de um caixão de criança, minoria absoluta entre os mortos por Covid-19, para ilustrar a matéria sobre o número de óbitos no Rio de Janeiro, onde, aliás, está sediada a Barões.
A provocação chegou em bom endereço. O autor destas linhas trabalhou por quase uma década sob a batuta do mestre Alberto Dines no Observatório da Imprensa. Ou seja, naquele período, entre os anos 2000 e 2010, praticou justamente o que volta a fazer nesta coluna: crítica de mídia. Então o primeiro ponto é que PH, um craque e excelente analista da imprensa também, tem toda razão. Não apenas no que ser refere à cobertura do UOL, mas de praticamente todos os veículos de mídia na internet, talvez com honrosas exceções, entre as quais a cobertura sóbria do portal G1, do grupo Globo. Ao contrário dos veículos impressos, que travam uma batalha por leitores e anunciantes sem a pressão de conquistar audiência em tempo real, na internet, rádio e TV o pau come minuto, ou clique a clique, para os portais. Daí a feliz expressão “matéria caça-clique”, em geral com títulos bombásticos, muitas vezes descolados do que está no texto da reportagem, apenas para que o internauta, curioso, clique para ler e, se for refinado como PH, acabe se irritando com o que encontra no texto...
Este modelo de “jornalismo-espetáculo” ou “showrnalismo” não nasceu com a pandemia, ao contrário, é bastante antigo, presente no mundo todo nos tablóides – os ingleses são especialistas, por sinal -, aqui no Brasil o falecido Notícias Populares, do Grupo Folha, foi o mais interessante exemplo deste tipo de veículo. Com a popularização da internet e, em especial das redes sociais, porém, a fórmula virou uma verdadeira praga, chegando até a veículos sérios como Exame e Valor, que passaram a postar reportagens engraçadinhas (Valor Investe hoje é um exemplo desta prática) para conquistar cliques.
Voltando à questão da pandemia e seguindo a provocação do nosso cliente, vale citar uma parte da conversa no grupo de whatsapp. Escreveu PH: “quando eles (editores, ou publishers) entenderem que o jornalismo online deve ser ponte para soluções – e não para o pânico –, a cobertura passará a ser mais equilibrada (sem deixar de noticiar os fatos, claro). Enquanto a linguagem da sociedade do espetáculo for preponderante na sociedade da informação, teremos esse nível de poluição no jornalismo, caso do UOL”. Total concordância aqui também, e é preciso explicar o conceito. A sociedade do espetáculo, aquela do século XX, vem sendo substituída pela sociedade da informação. Muitas empresas jornalísticas não entenderam isto ainda e seguem os paradigmas do século passado, o mesmo valendo, inclusive, para agências de comunicação e empresas de forma geral.
Na cobertura da crise do Covid-19, a maior parte da imprensa brasileira trabalha justamente baseada no jornalismo praticado no século passado, a chave ainda não foi completamente virada. Há, sim, exceções, sendo o Jornal Nacional da TV Globo talvez o melhor exemplo de excelência da informação e rapidez na compreensão das mudanças ocorridas nos últimos meses. Até a regra de ouro de jamais mostrar marcas ou falar nome de empresa foi quebrada, em nome da boa informação sobre as ações que estão sendo feitas pelas companhias para ajudar nesta confusão enorme provocada por este pequeno e invisível inimigo, sobre o qual pouco sabemos. No geral, porém, a maioria dos veículos segue flertando com o sensacionalismo e praticando o jeito antigo de disputar a audiência. Uma pena. (por Luiz Antonio Magalhães em 16/5/20)
A provocação chegou em bom endereço. O autor destas linhas trabalhou por quase uma década sob a batuta do mestre Alberto Dines no Observatório da Imprensa. Ou seja, naquele período, entre os anos 2000 e 2010, praticou justamente o que volta a fazer nesta coluna: crítica de mídia. Então o primeiro ponto é que PH, um craque e excelente analista da imprensa também, tem toda razão. Não apenas no que ser refere à cobertura do UOL, mas de praticamente todos os veículos de mídia na internet, talvez com honrosas exceções, entre as quais a cobertura sóbria do portal G1, do grupo Globo. Ao contrário dos veículos impressos, que travam uma batalha por leitores e anunciantes sem a pressão de conquistar audiência em tempo real, na internet, rádio e TV o pau come minuto, ou clique a clique, para os portais. Daí a feliz expressão “matéria caça-clique”, em geral com títulos bombásticos, muitas vezes descolados do que está no texto da reportagem, apenas para que o internauta, curioso, clique para ler e, se for refinado como PH, acabe se irritando com o que encontra no texto...
Este modelo de “jornalismo-espetáculo” ou “showrnalismo” não nasceu com a pandemia, ao contrário, é bastante antigo, presente no mundo todo nos tablóides – os ingleses são especialistas, por sinal -, aqui no Brasil o falecido Notícias Populares, do Grupo Folha, foi o mais interessante exemplo deste tipo de veículo. Com a popularização da internet e, em especial das redes sociais, porém, a fórmula virou uma verdadeira praga, chegando até a veículos sérios como Exame e Valor, que passaram a postar reportagens engraçadinhas (Valor Investe hoje é um exemplo desta prática) para conquistar cliques.
Voltando à questão da pandemia e seguindo a provocação do nosso cliente, vale citar uma parte da conversa no grupo de whatsapp. Escreveu PH: “quando eles (editores, ou publishers) entenderem que o jornalismo online deve ser ponte para soluções – e não para o pânico –, a cobertura passará a ser mais equilibrada (sem deixar de noticiar os fatos, claro). Enquanto a linguagem da sociedade do espetáculo for preponderante na sociedade da informação, teremos esse nível de poluição no jornalismo, caso do UOL”. Total concordância aqui também, e é preciso explicar o conceito. A sociedade do espetáculo, aquela do século XX, vem sendo substituída pela sociedade da informação. Muitas empresas jornalísticas não entenderam isto ainda e seguem os paradigmas do século passado, o mesmo valendo, inclusive, para agências de comunicação e empresas de forma geral.
Na cobertura da crise do Covid-19, a maior parte da imprensa brasileira trabalha justamente baseada no jornalismo praticado no século passado, a chave ainda não foi completamente virada. Há, sim, exceções, sendo o Jornal Nacional da TV Globo talvez o melhor exemplo de excelência da informação e rapidez na compreensão das mudanças ocorridas nos últimos meses. Até a regra de ouro de jamais mostrar marcas ou falar nome de empresa foi quebrada, em nome da boa informação sobre as ações que estão sendo feitas pelas companhias para ajudar nesta confusão enorme provocada por este pequeno e invisível inimigo, sobre o qual pouco sabemos. No geral, porém, a maioria dos veículos segue flertando com o sensacionalismo e praticando o jeito antigo de disputar a audiência. Uma pena. (por Luiz Antonio Magalhães em 16/5/20)
Muito bom, Luís. Diante de um tema do tamanho do coronavirus, caça-clique é tudo do que não precisamos.
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