Texto de abertura da Newsletter da LAM Comunicação desta semana. Boa leitura e ótimo final de semana a todos.
Para quem é jovem, o título de hoje vem de uma divertida comédia que fez muito sucesso na década de 1980, ano em que foi lançada. No filme, piloto e copiloto do avião em questão sofrem uma intoxicação alimentar, ficam inconscientes e incapazes de comandar a aeronave. Impossível não fazer uma analogia com a situação do nosso país na semana em que as estatísticas fúnebres da evolução do Covid-19 mostraram que o Brasil ultrapassou a China em número de mortos e casos reportados e o presidente da República, ao comentar o fato, mandou o já célebre “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”.
Sim, foi uma frase chocante e que provocou enorme revolta nas redes sociais, mas que não surpreende quem acompanha a trajetória de Jair Bolsonaro desde os tempos da Câmara dos Deputados. O atual mandatário sempre foi um frasista polêmico e sempre expôs as suas ideias extremistas de forma clara, facilmente compreensíveis por qualquer um. No momento em que a pandemia vai caminhando para o seu pico no país, a frase é o de menos. Muito mais grave é o posicionamento beligerante do presidente em relação aos governadores e a estratégia já muito bem delineada de jogar a culpa de tudo que envolve o coronavírius para as decisões que estão sendo tomadas em âmbito estadual, em especial em São Paulo e Rio de Janeiro.
Bolsonaro defende explicitamente o fim do isolamento social e isto é muito mais nocivo para a população do que o “E daí?”: por conta dos seguidos exemplos que dá, muitos acabam convencidos que é isto mesmo, só uma gripezinha, e o que nos resta é ir para as ruas e trabalhar. O novo ministro da Saúde tem defendido de forma muito mais tímida que seu antecessor a permanência da quarentena, mas também defende, de maneira um tanto confusa, a posição do presidente de uma rápida volta à normalidade, o que certamente não acontecerá tão logo nos estados mais afetados pela pandemia.
Nas redes sociais a indignação contra o presidente é tão grande quanto inútil. Bolsonaro tem seus defensores e fala basicamente para eles, basta ver os ataques que foram direcionados ao longo da semana contra o ex-ministro Sérgio Moro, que de queridinho dos apoiadores do presidente passou a perigoso traidor a serviço do “comunismo”. Jair Bolsonaro deu a senha e seus seguidores (e robôs) foram para a linha de frente nas redes sociais.
A revolta, vale ressaltar, é ineficaz porque não existe, até o momento, nenhuma condição que possa levar à renúncia do atual presidente, como ele próprio deixa claro diariamente em suas falas. Também um processo de impeachment parece bastante improvável de prosperar, mesmo porque o cálculo político fala mais alto, e os oposicionistas vão preferir, exceto os extremados do PSOL e congêneres, que Bolsonaro sangre até 2022, facilitando assim o fim do ciclo da ultradireita no poder. É até óbvio: Mourão assumindo, se tornaria imediatamente favorito caso consiga minimamente passar pela pandemia e crise econômica que se avizinha e deve durar pelo menos o próximo ano inteiro.
Neste cenário, a pandemia paradoxalmente ajuda o presidente também por inviabilizar a pressão das ruas. Panelas podem bater, mas não serão suficientes para derrubar um presidente que, até aqui, não parece ter cometido crime de responsabilidade. O que pode mudar o jogo agora é uma consistente demonstração de provas de crimes por parte de Moro. Se o ex-ministro tiver uma bala de prata poderá de fato provocar um terremoto no Planalto. Não deixa de ser irônico, a atuação de Moro foi decisiva para a eleição de Bolsonaro e agora pode ser também para afastá-lo do cargo. O Brasil, definitivamente, não é para amadores.
(Por Luiz Antonio Magalhães em 1/5/20)
Para quem é jovem, o título de hoje vem de uma divertida comédia que fez muito sucesso na década de 1980, ano em que foi lançada. No filme, piloto e copiloto do avião em questão sofrem uma intoxicação alimentar, ficam inconscientes e incapazes de comandar a aeronave. Impossível não fazer uma analogia com a situação do nosso país na semana em que as estatísticas fúnebres da evolução do Covid-19 mostraram que o Brasil ultrapassou a China em número de mortos e casos reportados e o presidente da República, ao comentar o fato, mandou o já célebre “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”.
Sim, foi uma frase chocante e que provocou enorme revolta nas redes sociais, mas que não surpreende quem acompanha a trajetória de Jair Bolsonaro desde os tempos da Câmara dos Deputados. O atual mandatário sempre foi um frasista polêmico e sempre expôs as suas ideias extremistas de forma clara, facilmente compreensíveis por qualquer um. No momento em que a pandemia vai caminhando para o seu pico no país, a frase é o de menos. Muito mais grave é o posicionamento beligerante do presidente em relação aos governadores e a estratégia já muito bem delineada de jogar a culpa de tudo que envolve o coronavírius para as decisões que estão sendo tomadas em âmbito estadual, em especial em São Paulo e Rio de Janeiro.
Bolsonaro defende explicitamente o fim do isolamento social e isto é muito mais nocivo para a população do que o “E daí?”: por conta dos seguidos exemplos que dá, muitos acabam convencidos que é isto mesmo, só uma gripezinha, e o que nos resta é ir para as ruas e trabalhar. O novo ministro da Saúde tem defendido de forma muito mais tímida que seu antecessor a permanência da quarentena, mas também defende, de maneira um tanto confusa, a posição do presidente de uma rápida volta à normalidade, o que certamente não acontecerá tão logo nos estados mais afetados pela pandemia.
Nas redes sociais a indignação contra o presidente é tão grande quanto inútil. Bolsonaro tem seus defensores e fala basicamente para eles, basta ver os ataques que foram direcionados ao longo da semana contra o ex-ministro Sérgio Moro, que de queridinho dos apoiadores do presidente passou a perigoso traidor a serviço do “comunismo”. Jair Bolsonaro deu a senha e seus seguidores (e robôs) foram para a linha de frente nas redes sociais.
A revolta, vale ressaltar, é ineficaz porque não existe, até o momento, nenhuma condição que possa levar à renúncia do atual presidente, como ele próprio deixa claro diariamente em suas falas. Também um processo de impeachment parece bastante improvável de prosperar, mesmo porque o cálculo político fala mais alto, e os oposicionistas vão preferir, exceto os extremados do PSOL e congêneres, que Bolsonaro sangre até 2022, facilitando assim o fim do ciclo da ultradireita no poder. É até óbvio: Mourão assumindo, se tornaria imediatamente favorito caso consiga minimamente passar pela pandemia e crise econômica que se avizinha e deve durar pelo menos o próximo ano inteiro.
Neste cenário, a pandemia paradoxalmente ajuda o presidente também por inviabilizar a pressão das ruas. Panelas podem bater, mas não serão suficientes para derrubar um presidente que, até aqui, não parece ter cometido crime de responsabilidade. O que pode mudar o jogo agora é uma consistente demonstração de provas de crimes por parte de Moro. Se o ex-ministro tiver uma bala de prata poderá de fato provocar um terremoto no Planalto. Não deixa de ser irônico, a atuação de Moro foi decisiva para a eleição de Bolsonaro e agora pode ser também para afastá-lo do cargo. O Brasil, definitivamente, não é para amadores.
(Por Luiz Antonio Magalhães em 1/5/20)
Comentários
Postar um comentário
O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.