Excelente resenha de Leonardo Sanchez sobre a série Hollywood, publicada nesta sexta, 1/5, na Folha de São Paulo. Uma boa dica para este final de semana prolongado. Íntegra do texto abaixo.
O filme “La La Land: Cantando Estações” tem uma protagonista que largou tudo para tentar ser estrela de cinema. “Trumbo” mostra como os valores conservadores da sociedade americana entraram no caminho da cultura. “Cantando na Chuva” acompanha as evoluções tecnológicas que abriram e fecharam portas no audiovisual. “Crepúsculo dos Deuses” mostra a decadência de quem um dia já foi diva.
Essas histórias se encontram em “Hollywood”, nova série da Netflix que estreia nesta sexta-feira (1°/5). Criada por Ryan Murphy e Ian Brennan, a trama se passa na Los Angeles do pós-Segunda Guerra, uma era de ouro para o cinema americano.
“Hollywood” é um projeto ambicioso, fruto de um acordo bilionário entre Murphy e a Netflix. Para roubar o roteirista e produtor da Fox, sua casa de longa data, o gigante do streaming ofereceu a ele um contrato de cinco anos, de US$ 300 milhões, ou R$ 1,6 bilhão.
É um valor histórico para alguém que mudou a história da indústria. Rotulado como o “homem mais poderoso da televisão” pela revista New Yorker há dois anos, Murphy faz parte de uma geração que revolucionou o papel dos showrunners. Homossexual, também esteve na linha de frente de um movimento que injetou diversidade nas telinhas
São dele, por exemplo, “Glee”, seriado que ajudou muitos adolescentes gays dos anos 2010 a abrir a porta do armário, e “Pose”, premiada trama sobre os bailes underground de Nova York, que inovou ao empoderar minorias na frente e atrás das câmeras.
Diversos elementos de seus trabalhos anteriores agora ressurgem em “Hollywood”. A euforia juvenil de “Glee”, o glamour de “Pose”, a sensualidade de “The Assassination of Gianni Versace: American Crime Story”, a sororidade de “American Horror Story: Coven” e a metalinguagem de “Feud”.
Lançada há três anos, esta última traz a indústria do audiovisual falando sobre si mesma. É a história da relação entre Bette Davis e Joan Crawford nos bastidores do clássico “O que Terá Acontecido a Baby Jane?”. Da mesma forma que os filmes já lembrados aqui, essa é mais uma produção que celebra a indústria cinematográfica, bem como “Hollywood”.
“O grande interesse do cinema comercial é o público. E o público gosta de saber dos bastidores, do que está por trás dessa fantasia de Hollywood”, diz Humberto Neiva, professor e coordenador do curso de cinema da Faap. “Eles querem ver o glamour, o poder, as disputas, a vida privada revelada, porque Hollywood é isso tudo.”
Esses elementos estão todos presentes na nova série. E, claro, para falar dos segredos dessa indústria, Murphy impregnou sua narrativa de diversidade. A trama da Netflix mistura ficção e realidade para dar voz a todos os astros do cinema que foram silenciados pelo conservadorismo do tempo em que viveram.
Entre os personagens do seriado estão um cineasta filho de uma filipina, uma aspirante a atriz negra que cansou dos papéis de empregada doméstica, a mulher do dono de um estúdio que tem seu talento desprezado e um roteirista negro e gay.
Eles interagem com gente da vida real, como o ator homossexual Rock Hudson, a atriz asiática Anna May Wong e Hattie McDaniel, a primeira atriz negra vencedora do Oscar.
“Hollywood” quer trazer uma mensagem de tolerância, ao mesmo tempo em que contrasta o charme do cinema com a sordidez de uma indústria marcada pela batalha de egos. Isso fica evidente em uma porção de cenas pensadas para escancarar esse dualismo.
Em meio ao desbunde de corpos masculinos sarados, nus, correndo à beira de uma luxuosa piscina em Beverly Hills, estão poderosos da indústria que manipulam jovens que sonham em atuar. Na mansão suntuosa em Palm Springs de um dono de estúdio, uma atriz vai para a cama com ele temendo perder seu contrato. São histórias sombrias mascaradas pelas cores e a magia do cinema, algo intrínseco a narrativas que falam da era de ouro de Hollywood.
“Essa época mais glamorosa aconteceu num momento em que se estava construindo uma nova linguagem cinematográfica, com som, diferentes montagens, cor. É um momento de descoberta do potencial do cinema”, diz Neiva. “Agora se fala muito mais da questão dos efeitos especiais. Existe hoje um rebuscamento tecnológico, um interesse maior na ciência, enquanto antes a linguagem era mais explorada.”
E é justamente esse potencial que orienta a narrativa de “Hollywood”. Em determinada cena, Eleanor Roosevelt visita o fictício Ace Studios. “Pensava que um bom governo poderia mudar o mundo. Não acho que ainda creio nisso. Mas o que vocês fazem no cinema pode sim mudar o mundo”, brada a primeira-dama do país à época.
A nova série estreia em um bom momento para Ryan Murphy —e também para a Netflix. Nos últimos dias, dois documentários produzidos pelo showrunner chegaram à plataforma: “Atrás da Estante”, sobre a loja de uma família americana que se firmou como a maior distribuidora de pornografia gay nos anos 1970, e “A Secret Love”, que narra a história de um relacionamento lésbico de 65 anos.
Nesta semana, a Netflix ainda confirmou que a segunda temporada de “The Politician”, outra série desenvolvida por Murphy após assinar contrato com a plataforma, vai ser lançada em junho.
O filme “La La Land: Cantando Estações” tem uma protagonista que largou tudo para tentar ser estrela de cinema. “Trumbo” mostra como os valores conservadores da sociedade americana entraram no caminho da cultura. “Cantando na Chuva” acompanha as evoluções tecnológicas que abriram e fecharam portas no audiovisual. “Crepúsculo dos Deuses” mostra a decadência de quem um dia já foi diva.
Essas histórias se encontram em “Hollywood”, nova série da Netflix que estreia nesta sexta-feira (1°/5). Criada por Ryan Murphy e Ian Brennan, a trama se passa na Los Angeles do pós-Segunda Guerra, uma era de ouro para o cinema americano.
“Hollywood” é um projeto ambicioso, fruto de um acordo bilionário entre Murphy e a Netflix. Para roubar o roteirista e produtor da Fox, sua casa de longa data, o gigante do streaming ofereceu a ele um contrato de cinco anos, de US$ 300 milhões, ou R$ 1,6 bilhão.
É um valor histórico para alguém que mudou a história da indústria. Rotulado como o “homem mais poderoso da televisão” pela revista New Yorker há dois anos, Murphy faz parte de uma geração que revolucionou o papel dos showrunners. Homossexual, também esteve na linha de frente de um movimento que injetou diversidade nas telinhas
São dele, por exemplo, “Glee”, seriado que ajudou muitos adolescentes gays dos anos 2010 a abrir a porta do armário, e “Pose”, premiada trama sobre os bailes underground de Nova York, que inovou ao empoderar minorias na frente e atrás das câmeras.
Diversos elementos de seus trabalhos anteriores agora ressurgem em “Hollywood”. A euforia juvenil de “Glee”, o glamour de “Pose”, a sensualidade de “The Assassination of Gianni Versace: American Crime Story”, a sororidade de “American Horror Story: Coven” e a metalinguagem de “Feud”.
Lançada há três anos, esta última traz a indústria do audiovisual falando sobre si mesma. É a história da relação entre Bette Davis e Joan Crawford nos bastidores do clássico “O que Terá Acontecido a Baby Jane?”. Da mesma forma que os filmes já lembrados aqui, essa é mais uma produção que celebra a indústria cinematográfica, bem como “Hollywood”.
“O grande interesse do cinema comercial é o público. E o público gosta de saber dos bastidores, do que está por trás dessa fantasia de Hollywood”, diz Humberto Neiva, professor e coordenador do curso de cinema da Faap. “Eles querem ver o glamour, o poder, as disputas, a vida privada revelada, porque Hollywood é isso tudo.”
Esses elementos estão todos presentes na nova série. E, claro, para falar dos segredos dessa indústria, Murphy impregnou sua narrativa de diversidade. A trama da Netflix mistura ficção e realidade para dar voz a todos os astros do cinema que foram silenciados pelo conservadorismo do tempo em que viveram.
Entre os personagens do seriado estão um cineasta filho de uma filipina, uma aspirante a atriz negra que cansou dos papéis de empregada doméstica, a mulher do dono de um estúdio que tem seu talento desprezado e um roteirista negro e gay.
Eles interagem com gente da vida real, como o ator homossexual Rock Hudson, a atriz asiática Anna May Wong e Hattie McDaniel, a primeira atriz negra vencedora do Oscar.
“Hollywood” quer trazer uma mensagem de tolerância, ao mesmo tempo em que contrasta o charme do cinema com a sordidez de uma indústria marcada pela batalha de egos. Isso fica evidente em uma porção de cenas pensadas para escancarar esse dualismo.
Em meio ao desbunde de corpos masculinos sarados, nus, correndo à beira de uma luxuosa piscina em Beverly Hills, estão poderosos da indústria que manipulam jovens que sonham em atuar. Na mansão suntuosa em Palm Springs de um dono de estúdio, uma atriz vai para a cama com ele temendo perder seu contrato. São histórias sombrias mascaradas pelas cores e a magia do cinema, algo intrínseco a narrativas que falam da era de ouro de Hollywood.
“Essa época mais glamorosa aconteceu num momento em que se estava construindo uma nova linguagem cinematográfica, com som, diferentes montagens, cor. É um momento de descoberta do potencial do cinema”, diz Neiva. “Agora se fala muito mais da questão dos efeitos especiais. Existe hoje um rebuscamento tecnológico, um interesse maior na ciência, enquanto antes a linguagem era mais explorada.”
E é justamente esse potencial que orienta a narrativa de “Hollywood”. Em determinada cena, Eleanor Roosevelt visita o fictício Ace Studios. “Pensava que um bom governo poderia mudar o mundo. Não acho que ainda creio nisso. Mas o que vocês fazem no cinema pode sim mudar o mundo”, brada a primeira-dama do país à época.
A nova série estreia em um bom momento para Ryan Murphy —e também para a Netflix. Nos últimos dias, dois documentários produzidos pelo showrunner chegaram à plataforma: “Atrás da Estante”, sobre a loja de uma família americana que se firmou como a maior distribuidora de pornografia gay nos anos 1970, e “A Secret Love”, que narra a história de um relacionamento lésbico de 65 anos.
Nesta semana, a Netflix ainda confirmou que a segunda temporada de “The Politician”, outra série desenvolvida por Murphy após assinar contrato com a plataforma, vai ser lançada em junho.
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