Segundo o executivo da montadora alemã de caminhões, país sofre com a falta de coordenação no combate à covid-19, escreve a repórter Marli Olmos em matéria publicada na sexta, 15/5, no Valor Econômico. Bem corajoso o executivo para criticar tão abertamente a condução do governo na crise do coronavírus. Íntegra abaixo.
Faz algum tempo que Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz no Brasil e América Latina, aguarda aprovação da Anvisa para a empresa produzir um respirador de baixo custo, desenvolvido em conjunto com o Instituto Mauá de Tecnologia. Mas a burocracia não ajuda nem mesmo numa situação de solidariedade emergencial. “Como é difícil fazer negócios no Brasil. Quem consegue nesse ambiente burocrático?”, diz. Mas o pior, hoje, diz o executivo, é a falta de confiança que o país desperta pela ausência de coordenação para enfrentar a pandemia.
“Em poucos meses, o Brasil perdeu a credibilidade que havia conquistado com as reformas trabalhista e previdenciária”, diz Schiemer. Para o executivo, a falta de ações coordenadas entre governos federal, estaduais e municipais retardará a retomada econômica. “A confiança do consumidor só vai voltar se a crise da saúde for controlada”. O executivo lembra que na Alemanha, há brigas e opiniões diferentes em relação à pandemia. “Mas no fim são tomadas ações conjuntas e coordenadas”.
Já em fase de concluir a gestão no comando da maior produtora de caminhões e ônibus do país, Schiemer diz que se não fosse a pandemia ele estaria, a essa altura, desfrutando de férias na Bahia, antes de assumir nova função na Alemanha. Em fevereiro, a Mercedes anunciou o nome do também alemão Karl Deppen para assumir o comando da operação no Brasil.
Schiemer conhece bem o Brasil. Essa é sua terceira passagem pelo país. Trabalhou na área de vendas no fim dos anos 1990 e em 2004. É o presidente desde 2013 e habituou-se a ficar à vontade para analisar a situação do país em diferentes momentos, sem nunca deixar escapar críticas a políticas macroeconômicas que considerava nocivas ao país e à produção industrial.
Assumiu, no entanto, tom mais moderado no início do governo de Jair Bolsonaro e mostrava-se satisfeito com a aprovação das reformas no país. Ontem, porém, numa conversa por videoconferência, com um grupo de jornalistas, Schiemer voltou ao velho estilo e fez duras críticas à forma como a crise tem sido conduzida no país.
“É uma tristeza o que estamos vendo”. Para ele, as brigas políticas vão retardar soluções. “Os políticos estão focados em 2022”, destacou, em referência ao ano eleitoral. Schiemer criticou, ainda, a constante troca de ministros num momento “de guerra” e disse que “não tem cabimento funcionário público pleitear reajuste enquanto o pagador de impostos está morrendo”. Para ele, “medidas populistas, aprovadas de forma irresponsável, deixarão uma herança diabólica”.
Ele também apontou a alta do dólar, que pressiona custos e levará a empresa a reajustar preços mesmo com vendas em queda, como problema que “não tem explicação técnica”, já que a inflação está sob controle. Trata-se, disse, de mais uma consequência das “brigas políticas”.
A fábrica de caminhões e ônibus da Mercedes-Benz, em São Bernardo do Campo (SP), retomou a produção na segunda-feira, com metade dos operários. Os demais estão com os contratos suspensos, no sistema de “layoff”. A empresa concedeu estabilidade no emprego até o fim do ano. Mas Schiemer já prevê que essa situação poderá ser “insustentável”.
O mercado de caminhões não está totalmente parado. Schiemer aponta o agronegócio e os setores de celulose, químico e de alimentos e bebidas como atividades com demanda. Mesmo assim, as vendas totais em abril registraram retração de 56% em relação ao inicialmente planejado pela indústria. “A queda nas entregas do varejo tem jogado o mercado para baixo”.
Já o mercado de ônibus sofreu impacto maior, com a diminuição de viagens rodoviárias e de demanda por transporte público. As vendas no mês passado caíram 83% em relação aos volumes planejados no início do ano.
A Mercedes planeja concluir o plano de investimentos de R$ 2,4 bilhões para o período entre 2018 e 2022. A empresa decidiu, porém, congelar novas programações para a América Latina. O importante agora, diz Schiemer, é cuidar do capital de giro.
A empresa integra grupo de montadoras, lideradas pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que pediu ao governo a possibilidade de usar créditos tributários como garantia para obter empréstimos bancários.
Mas, enquanto Schiemer e pacientes da covid-19 aguardam o aval da Anvisa para a produção dos respiradores desenvolvidos com o Instituto Mauá, a Mercedes tem ajudado a consertar respiradores danificados. “Olhamos onde podemos ajudar”, diz.
Faz algum tempo que Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz no Brasil e América Latina, aguarda aprovação da Anvisa para a empresa produzir um respirador de baixo custo, desenvolvido em conjunto com o Instituto Mauá de Tecnologia. Mas a burocracia não ajuda nem mesmo numa situação de solidariedade emergencial. “Como é difícil fazer negócios no Brasil. Quem consegue nesse ambiente burocrático?”, diz. Mas o pior, hoje, diz o executivo, é a falta de confiança que o país desperta pela ausência de coordenação para enfrentar a pandemia.
“Em poucos meses, o Brasil perdeu a credibilidade que havia conquistado com as reformas trabalhista e previdenciária”, diz Schiemer. Para o executivo, a falta de ações coordenadas entre governos federal, estaduais e municipais retardará a retomada econômica. “A confiança do consumidor só vai voltar se a crise da saúde for controlada”. O executivo lembra que na Alemanha, há brigas e opiniões diferentes em relação à pandemia. “Mas no fim são tomadas ações conjuntas e coordenadas”.
Já em fase de concluir a gestão no comando da maior produtora de caminhões e ônibus do país, Schiemer diz que se não fosse a pandemia ele estaria, a essa altura, desfrutando de férias na Bahia, antes de assumir nova função na Alemanha. Em fevereiro, a Mercedes anunciou o nome do também alemão Karl Deppen para assumir o comando da operação no Brasil.
Schiemer conhece bem o Brasil. Essa é sua terceira passagem pelo país. Trabalhou na área de vendas no fim dos anos 1990 e em 2004. É o presidente desde 2013 e habituou-se a ficar à vontade para analisar a situação do país em diferentes momentos, sem nunca deixar escapar críticas a políticas macroeconômicas que considerava nocivas ao país e à produção industrial.
Assumiu, no entanto, tom mais moderado no início do governo de Jair Bolsonaro e mostrava-se satisfeito com a aprovação das reformas no país. Ontem, porém, numa conversa por videoconferência, com um grupo de jornalistas, Schiemer voltou ao velho estilo e fez duras críticas à forma como a crise tem sido conduzida no país.
“É uma tristeza o que estamos vendo”. Para ele, as brigas políticas vão retardar soluções. “Os políticos estão focados em 2022”, destacou, em referência ao ano eleitoral. Schiemer criticou, ainda, a constante troca de ministros num momento “de guerra” e disse que “não tem cabimento funcionário público pleitear reajuste enquanto o pagador de impostos está morrendo”. Para ele, “medidas populistas, aprovadas de forma irresponsável, deixarão uma herança diabólica”.
Ele também apontou a alta do dólar, que pressiona custos e levará a empresa a reajustar preços mesmo com vendas em queda, como problema que “não tem explicação técnica”, já que a inflação está sob controle. Trata-se, disse, de mais uma consequência das “brigas políticas”.
A fábrica de caminhões e ônibus da Mercedes-Benz, em São Bernardo do Campo (SP), retomou a produção na segunda-feira, com metade dos operários. Os demais estão com os contratos suspensos, no sistema de “layoff”. A empresa concedeu estabilidade no emprego até o fim do ano. Mas Schiemer já prevê que essa situação poderá ser “insustentável”.
O mercado de caminhões não está totalmente parado. Schiemer aponta o agronegócio e os setores de celulose, químico e de alimentos e bebidas como atividades com demanda. Mesmo assim, as vendas totais em abril registraram retração de 56% em relação ao inicialmente planejado pela indústria. “A queda nas entregas do varejo tem jogado o mercado para baixo”.
Já o mercado de ônibus sofreu impacto maior, com a diminuição de viagens rodoviárias e de demanda por transporte público. As vendas no mês passado caíram 83% em relação aos volumes planejados no início do ano.
A Mercedes planeja concluir o plano de investimentos de R$ 2,4 bilhões para o período entre 2018 e 2022. A empresa decidiu, porém, congelar novas programações para a América Latina. O importante agora, diz Schiemer, é cuidar do capital de giro.
A empresa integra grupo de montadoras, lideradas pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que pediu ao governo a possibilidade de usar créditos tributários como garantia para obter empréstimos bancários.
Mas, enquanto Schiemer e pacientes da covid-19 aguardam o aval da Anvisa para a produção dos respiradores desenvolvidos com o Instituto Mauá, a Mercedes tem ajudado a consertar respiradores danificados. “Olhamos onde podemos ajudar”, diz.
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