Adaptação de livro de Dennis Lehane faz jus ao autor
O filme é antigo, está disponível na Netflix, merece ser assistido ou revisto por quem já viu, porque é muito atual neste momento que estamos vivendo. Medo, claro, é uma palavra-chave presente cada vez mais no dia a dia de todos nós por conta da pandemia de Covid-19. Mas mais do que isto, o filme traz questões contemporâneas também muito válidas para o período de isolamento social, necessário agora, mas que traz consequências para o psiquismo de todos, já que somos humanos e os humanos, como lembra Yuval Harari, são animais sociais, que vivem em grupos, não estão acostumados a ficar sozinhos ou restritos aos familiares.
Lançado em março de 2010, o filme é dirigido pelo gigante Martin Scorsese e tem em seu elenco atores como Leonardo DiCaprio, o protagonista, Mark Ruffalo, Ben Kingsley, entre outros. O roteiro é baseado no livro que originalmente tinha o nome de Paciente 67, de Dennis Lehane, e no Brasil mudou de nome para Ilha do Medo em função do sucesso do filme. Lehane, vale ressaltar é um dos mais interessantes autores de romances policiais da atualidade, escreveu o maravilhoso e já clássico Sobre Meninos e Lobos, já resenhado nesta coluna, também adaptado para o cinema.
A trama começa quando Edward "Teddy" Daniels (Leonardo DiCaprio) e Chuck Aule (Mark Ruffalo) são chamados para investigar o desaparecimento de uma paciente no Shutter Island Ashecliffe Hospital, que foi internada por ter afogado seus três filhos. Eles descobrem que os médicos estavam agindo sem ética e realizando experimentos proibidos nos pacientes. O psiquiatra chefe do hospital, uma brilhante interpretação de Ben Kingsley, se recusa a revelar antigos arquivos, tornando a investigação mais difícil para o detetive e seu companheiro. Além disso, o psiquiatra responsável pela desaparecida paciente está em férias. Tudo parece ir contra a investigação, quando um furacão atinge as redondezas e corta a comunicação da ilha, tornando impossível para os detetives deixarem a ilha.
Antes de prosseguir, vale dizer que Leonardo diCaprio dá um show a parte ao lado de Ruffalo e Kingsley, merecia o Oscar pela interpretação precisa do enigmático Teddy. Quem assiste o filme conhecendo o final, porque leu o livro, pode ter uma melhor dimensão do desafio do personagem. Sem spoilers aqui, apenas adiantando que há uma surpresa no desfecho que inclusive deixa o leitor ou espectador confuso e impactado. Afinal, a história chega ao fim com uma mistura de sonho, loucura e realidade, caprichosamente desenhada por Lehane e seguida no roteiro de Laeta Kalogridis para o filme de Scorcese. A impressão que se tem é a de que o autor escreveu o livro de trás para frente.
É difícil resenhar Ilha do Medo sem contar o final, que no fundo é a essência do filme e do livro, porque revela a verdade sobre Teddy, ou Andrew Laeddis, seu nome real. Esta é a única pista-spoiler deste texto, quem já assistiu vai enteder. E o final é que traz a atualidade da fita para o momento em que vivemos. Será que esta pandemia de Covid-19 é de fato real ou não estamos todos vivendo em uma grande fantasia, uma espécie de Show de Truman, outro grande filme que tem muito a ver com o atual momento, e logo mais vamos acordar e lembrar como era a vida normal?
As mortes diárias nos fazem ver que tudo isto está sim acontecendo, infelizmente. O medo vai continuar presente até que a humanidade encontre tratamentos e vacinas para esta doença traiçoeira, que mata rápido alguns e a outros nem provoca sintomas, ficando silenciosa e oculta para que os assintomáticos sigam transmitindo o vírus. Ilha do Medo, nesses tempos estranhos, é um grande filme para se ver. Tenso do começo ao fim, enigmático, nos faz pensar sobre questões relevantes, em especial sobre as fronteiras entre a loucura e sanidade mental. #ficaadica! (por Luiz Antonio Magalhães em 23/5/20)
O filme é antigo, está disponível na Netflix, merece ser assistido ou revisto por quem já viu, porque é muito atual neste momento que estamos vivendo. Medo, claro, é uma palavra-chave presente cada vez mais no dia a dia de todos nós por conta da pandemia de Covid-19. Mas mais do que isto, o filme traz questões contemporâneas também muito válidas para o período de isolamento social, necessário agora, mas que traz consequências para o psiquismo de todos, já que somos humanos e os humanos, como lembra Yuval Harari, são animais sociais, que vivem em grupos, não estão acostumados a ficar sozinhos ou restritos aos familiares.
Lançado em março de 2010, o filme é dirigido pelo gigante Martin Scorsese e tem em seu elenco atores como Leonardo DiCaprio, o protagonista, Mark Ruffalo, Ben Kingsley, entre outros. O roteiro é baseado no livro que originalmente tinha o nome de Paciente 67, de Dennis Lehane, e no Brasil mudou de nome para Ilha do Medo em função do sucesso do filme. Lehane, vale ressaltar é um dos mais interessantes autores de romances policiais da atualidade, escreveu o maravilhoso e já clássico Sobre Meninos e Lobos, já resenhado nesta coluna, também adaptado para o cinema.
A trama começa quando Edward "Teddy" Daniels (Leonardo DiCaprio) e Chuck Aule (Mark Ruffalo) são chamados para investigar o desaparecimento de uma paciente no Shutter Island Ashecliffe Hospital, que foi internada por ter afogado seus três filhos. Eles descobrem que os médicos estavam agindo sem ética e realizando experimentos proibidos nos pacientes. O psiquiatra chefe do hospital, uma brilhante interpretação de Ben Kingsley, se recusa a revelar antigos arquivos, tornando a investigação mais difícil para o detetive e seu companheiro. Além disso, o psiquiatra responsável pela desaparecida paciente está em férias. Tudo parece ir contra a investigação, quando um furacão atinge as redondezas e corta a comunicação da ilha, tornando impossível para os detetives deixarem a ilha.
Antes de prosseguir, vale dizer que Leonardo diCaprio dá um show a parte ao lado de Ruffalo e Kingsley, merecia o Oscar pela interpretação precisa do enigmático Teddy. Quem assiste o filme conhecendo o final, porque leu o livro, pode ter uma melhor dimensão do desafio do personagem. Sem spoilers aqui, apenas adiantando que há uma surpresa no desfecho que inclusive deixa o leitor ou espectador confuso e impactado. Afinal, a história chega ao fim com uma mistura de sonho, loucura e realidade, caprichosamente desenhada por Lehane e seguida no roteiro de Laeta Kalogridis para o filme de Scorcese. A impressão que se tem é a de que o autor escreveu o livro de trás para frente.
É difícil resenhar Ilha do Medo sem contar o final, que no fundo é a essência do filme e do livro, porque revela a verdade sobre Teddy, ou Andrew Laeddis, seu nome real. Esta é a única pista-spoiler deste texto, quem já assistiu vai enteder. E o final é que traz a atualidade da fita para o momento em que vivemos. Será que esta pandemia de Covid-19 é de fato real ou não estamos todos vivendo em uma grande fantasia, uma espécie de Show de Truman, outro grande filme que tem muito a ver com o atual momento, e logo mais vamos acordar e lembrar como era a vida normal?
As mortes diárias nos fazem ver que tudo isto está sim acontecendo, infelizmente. O medo vai continuar presente até que a humanidade encontre tratamentos e vacinas para esta doença traiçoeira, que mata rápido alguns e a outros nem provoca sintomas, ficando silenciosa e oculta para que os assintomáticos sigam transmitindo o vírus. Ilha do Medo, nesses tempos estranhos, é um grande filme para se ver. Tenso do começo ao fim, enigmático, nos faz pensar sobre questões relevantes, em especial sobre as fronteiras entre a loucura e sanidade mental. #ficaadica! (por Luiz Antonio Magalhães em 23/5/20)
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